Um dia quando eu morrer
isto é um dia quando eu estiver debaixo da terra
não quero que me vão levar flores
mas que as vão lá buscar
Gostava que por cima da minha cova não pusessem
laje nenhuma
só terra por mim estrumada
e aí plantassem as flores que amei em vida
açucenas rosas Palminhas de Santa Teresa (ditas Frésias)
ervilhas-de-cheiro goivos cravos jasmins
tudo flores com perfume
que é a alma das plantas
Sempre gostei mais de dar do que de receber
por isso ficarei feliz se forem à minha beira
buscar flores
os que me quiserem bem
Que as levem para casa e as ponham numa jarrinha com água
à cabeceira ou em cima da mesa de escrever
ou de comer
onde possam sentir minha presença viva
e trocar comigo olhares e sorrisos
e quem sabe talvez palavras
essas as mais importantes que em vida
nós não soubemos dizer
Teresa Rita Lopes, in ". Afectos", Lisboa: Editorial Presença, 2000
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