* Maria Eugénia Cunhal
Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.
Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações,
Pois quando tu vieres
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.
Maria Eugénia Cunhal in "Silêncio de Vidro", Lisboa, 1962
Álvaro Cunhal, 14 anos mais velho que a irmã, estivera na prisão durante 11 anos e fugira 2 anos antes do Forte de Peniche, em 1960. Forçado a sair de Portugal, fez parte da Direcção do PCP no exterior (Moscovo e Paris), regressando em 1974. Torturado na prisão, esteve encarcerado em 1937, 1940 e 1949-1960, num total de 15 anos, oito dos quais em completo isolamento.
GRAVURA - Álvaro Cunhal - Desenhos na prisão
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