Avó Mariana, lavadeira
dos brancos lá da Fazenda
chegou um dia de terras distantes
com seu pedaço de pano na cintura
e ficou.
Ficou a Avó Mariana
lavando, lavando, lá na roça
pitando seu jessu1
à porta da sanzala
lembrando a viagem dos seus campos de sisal.
Num dia sinistro
p'ra ilha distante
onde a faina de trabalho
apagou a lembrança
dos bois, nos óbitos
lá no Cubal distante.
Avó Mariana chegou
e sentou-se à porta da sanzala2
e pitou seu jessu1
lavando, lavando
numa barreira de silêncio.
Os anos escoaram
lá na terra calcinante.
- "Avó Mariana, Avó Mariana
é a hora de partir.
Vai rever teus campos extensos
de plantações sem fim".
- "Onde é terra di gente?
Velha vem, não volta mais...
Cheguei de muito longe,
anos e mais anos aqui no terreiro...
Velha tonta, já não tem terra
Vou ficar aqui, minino tonto".
Avó Mariana, pitando seu jessu1
na soleira do seu beco escuro,
conta Avó Velhinha
teu fado inglório.
Viver, vegetar
à sombra dum terreiro
tu mesmo Avó minha
não contarás a tua história.
Avó Mariana, velhinha minha,
pitando seu jessu1
na soleira da senzala
nada dirás do teu destino...
Porque cruzaste mares, avó velhinha,
e te quedaste sozinha
pitando teu jessu1?
_____
1 - Jessu: cachimbo de barro;
2 - Sanzala: aldeia.
http://aldadoespiritosanto1001poets.blogspot.pt/2010/11/avo-mariana.html
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