domingo, 22 de novembro de 2009

Gil Vicente - Vida e Obra

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Gil Vicente (c.1465-c.1537)

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Dramaturgo português. Um dos principais representantes da literatura renascentista em Portugal, notável por sua síntese original das tradições medievais do teatro. 
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Representante maior da literatura renascentista de Portugal antes de Camões, Gil Vicente realizou uma síntese original das tradições medievais do teatro. Retomou os milagres e mistérios com consciência moral renovadora própria do Renascimento, que em suas comédias se revela na expressão satírica, de humor saboroso e popular.
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Gil Vicente nasceu por volta de 1465 em lugar ignorado. Há poucos dados sobre sua vida. Um genealogista do século XVI confunde-o com um ourives de mesmo nome; outro, de veracidade mais provável, aponta-o como mestre de retórica de D. Manuel. A serviço da viúva do rei D. João II, D. Leonor, desde 1502, tornou-se o organizador dos espetáculos palacianos por ocasião dos nascimentos, casamentos, recepções e festas cristãs. A partir da aclamação de D. João III, em 1521, esteve sempre a seu serviço, valendo-se do prestígio na corte para satirizar, em suas obras teatrais, os vícios do clero e da nobreza.

Como a maioria dos escritores portugueses da época, Gil Vicente escreveu com o mesmo brilho em português e castelhano. De feição primitiva, sua obra, embora ainda ligada à Idade Média, tem uma força dramática em que o traço maior de eficiência se verifica na caracterização dos personagens: em grande quantidade, estes saem do meio do povo, com o linguajar da época. Sobre seu comportamento, a ética do autor exerce a vigilância de um crítico da igreja impregnado do ideal, postulado por Erasmo, de restaurar o cristianismo original, purificar o clero e servir à moral católica. Sua irreverência mordaz tem por objeto sobretudo restabelecer a religião e o cumprimento mais estrito de suas normas.
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Além de dramaturgo, Gil Vicente é também um dos melhores poetas populares da península ibérica, pelo lirismo de seus cantares e serranilhas, de suas glosas, letrilhas e vilancicos. Redescoberta pelos românticos do século XIX, sua poesia traduz em muitos aspectos os primórdios renascentistas em Portugal, sem esconder no entanto as raízes medievais.
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Gil Vicente iniciou sua obra teatral com um texto em castelhano, Monólogo del vaquero (1502), em que um homem do povo fala sobre o nascimento do príncipe herdeiro. Outro trabalho que marcou o início de sua carreira é o Auto pastoril castelhano (1502), que escreveu para a celebração do Natal. Ao Auto dos Reis Magos (1503), igualmente natalino, seguiu-se o Auto da sibila Cassandra, em que os deuses pagãos anunciam em Portugal os ideais renascentistas. Representam bem a sobrevivência medieval o Auto de são Martinho (1504), o Auto de los cuatro tiempos (c. 1508), o Auto da alma (c. 1508) e o Auto da fé (1510).
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O teatro de exaltação patriótica de Gil Vicente tem como melhores exemplos o Auto da exortação da guerra (1513) e o Auto da fama (c. 1515). Na década de 1520 apareceram suas tragicomédias principais, Cortes de Júpiter (1521), em que apresenta mitologia festiva; Tragicomédia de D. Duardo, a que pertence a "Carta-prólogo", registro valioso das opiniões pessoais do dramaturgo; Templo de Apolo (1526); e Triunfo do inverno, dedicada ao nascimento da infanta D. Isabel. Deturpações do catolicismo inspiraram o Auto da história de Deus (c. 1528) e o Auto da feira (c. 1528). É tragicômico, embora tenda para a farsa, o Auto da Lusitânia (1531), severamente crítico para com os costumes da época. Parodiando um sermão de frade, o Auto de Mofina Mendes (1534) tornou-se um dos mais conhecidos.
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O melhor de Gil Vicente encontra-se em suas peças populares, em que desfilam, desde o Monólogo del vaquero, todas as classes e categorias profissionais do Portugal de seu tempo. Assim, a Farsa do escudeiro, uma das primeiras, o Auto da Índia (1509), a Farsa do rico velho da horta (1512) e a Farsa dos físicos (c. 1516) preparam o caminho para sua obra-prima, a trilogia de sátiras que compõem Barca do inferno (1516), Barca do purgatório (1518) e Barca da glória (1519). Vêm depois a Farsa dos ciganos (1521), o Auto pastoril português (1523), a Farsa de Inês Pereira (1523), Juiz da Beira (1525), Clérigo da Beira (1526), Almocreves (c. 1527), Tragicomédia pastoril da serra da Estrela (1527), Romagem dos agravados (c. 1533) e Amadis de Gaula (1533). Gil Vicente morreu por volta de 1537.
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