quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Aguarelas de Cesário Verde - Maria Paula Lamas

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Aguarelas de Cesário Verde
Maria Paula Lamas
 
Oriundo de uma família de abastados recursos financeiros, Cesário Verde divide o seu quotidiano, entre a loja de ferragens, pertença de seu pai, e a Quinta situada em Linda-a Pastora, famosa pela fruta que produz, essencialmente, destinada à exportação. Apesar de o contexto familiar ser direccionado para o comércio e pouco propício ao espírito poético, Cesário Verde dedica o seu escasso tempo livre a redigir composições, onde evidencia idealismo e poder de observação. A sua vivência vai reflectir-se nos temas que retratam a realidade objectiva, tanto da cidade, como do campo, numa análise minuciosa de interiores e de exteriores, de pessoas, de animais e de objectos.
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Ao examinar detalhadamente tudo o que o rodeia, Cesário Verde transmite diversas sensações por ele experimentadas, dando relevo aos cinco sentidos, pois tal como afirma, emotivamente, em «Cristalizações», tangem-lhe, «(...) excitados, sacudidos, / O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto!». Nesta composição, o poeta relata a azáfama citadina constatada por ele, associando-a à injustiça que vitima as classes trabalhadoras. Através de pensamentos expressos em linguagem simbólica, surge a vida campestre, como denunciadora da exploração dos grandes meios urbanos.
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«Num bairro moderno», o sujeito poético descreve a vendedeira, «esguedelhada, feia» e «pequenina», que, no seu cabaz, transporta frutos e legumes, à semelhança de «um retalho de horta aglomerada». Esta mulher, paupérrima, que traz rotas as meias azuis de algodão, no desenrolar dos seus movimentos, curva-se e ajoelha-se, salientando-se estas acções por remeterem para a humildade e a submissão que a fragilizam face a eventuais compradores. Ao tentar vender a sua mercadoria, à entrada de uma casa burguesa, é menosprezada por «um criado», que, apesar de pertencer a idêntica classe social, aparenta superioridade e demonstra desdém:
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Do patamar responde-lhe um criado:
«Se te covém, despacha; não converses.
Eu não dou mais.» E muito descansado,
Atira um cobre ignóbil, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces. (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 71)
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No seguimento da expressão metafórica «faces duns alperces», surge a transfiguração dos produtos agrícolas «num ser humano»,[1] «cheio de belas proporções carnais», evidenciando o sujeito pensamentos repletos de vitalidade e de sensualismo:
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Subitamente – que visão de artista! –
Se eu transformasse os simples vegetais,
A luz do Sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?! (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 71)
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Dentro do mesmo espírito, o poeta continua o jogo de metamorfoses, utilizando uma linguagem comparativa e metafórica, ao descobrir semelhanças entre «os rosários de olhos» e «os cachos de uvas», e, ao afirmar que as azeitonas «são tranças dum cabelo». A associação de ideias é pródiga, detectando o sujeito «uma cabeça numa melancia», num melão uma barriga e no tomate «bons corações pulsando». Certos frutos lembram-lhe, ainda, «colos, ombros, bocas, um semblante», e as cenouras parecem-lhe «dedos hirtos, rubros».
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Não pára o desfilar de gente sacrificada, como «a regateira», vendendo «a sua fresca alface», que, num desabafo, grita, desesperada: «Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!...». O sujeito aproxima-se dela, «sem desprezo», e ajuda-a, levantando «(...) todo aquele peso / Que ao chão de pedra resistia preso, / Com um enorme esforço muscular». Este gesto de partilha demonstra que o poeta não se alheia da sorte dos outros, procurando, de algum modo, contribuir para atenuar o seu sofrimento, e, recebendo, como recompensa, palavras gratas que lhe transmitem «forças», «alegria» e «plenitude».
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E, num quadro repleto de movimento e de cor, continua o exame minucioso à vendedeira de rua, «magra» e «enfezadita» que apregoa «as suas couves repolhudas, largas», em antítese com a sua própria figura:
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E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas. (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 74)
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A adjectivação e a comparação são utilizadas com originalidade, e denotam, por um lado, o quotidiano concreto, por outro, a subjectividade que o poeta lhe imprime. Tal é atestado, por exemplo, nos seguintes versos:
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E como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras–carneiras. (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 74)
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Todo o envolvimento é composto de luminosidade, destacando-se as «brancuras quentes» que ferem a vista; o sol, com os «seus raios de laranja destilada»; a «janela azul»; o «xadrez marmóreo duma escada»; as azeitonas «negras e unidas, entre verdes folhos»; o «sangue na ginja vívida, escarlate», entre muitos outros coloridos quadros. Do mesmo modo, as sensações olfactivas e auditivas também são uma constante, como atestam expressões que denunciam os aromas provindos da cozinha, o cheiro a hortelã, o ressoar dos tamancos na calçada, as campainhas das casas a tocarem e os canários a chilrearem.
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Ao pintar este quadro citadino, Cesário Verde fá-lo à semelhança dos pintores impressionistas,[2] que, de uma maneira particular, baseiam-se na sensação causada pela observação directa do quotidiano, suplantando a realidade através de uma forte óptica subjectiva.
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Com frequência, o triste Fado das pessoas simples atrai a atenção do poeta. Em «Cristalizações», foca «os calceteiros» que, «de cócoras», «com lentidão, terrosos e grosseiros, / Calçam de lado a lado a longa rua», e as peixeiras que gritam, «dando aos rins». O esforço exigido no desempenho de tarefas, humildes e custosas, atinge-o, emotivamente, provocando-lhe o seguinte desabafo:
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Povo! No pano cru rasgado das camisas
Uma bandeira penso que transluz!
Como ele sofres, bebes, agonizas:
Listrões de vinho lançam-lhe divisas,
E os suspensórios traçam-lhe uma cruz! (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 78)
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Neste último verso é de realçar a simbologia da cruz dos suspensórios, que se traduz no sofrimento da vida, penosa, difícil de suportar, causando piedade ao poeta, e, simultaneamente, revolta, devido às desigualdades e injustiças sociais.
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Em oposição ao povo, surge, neste mesmo cenário, «uma figura fina», uma actriz, «toda abafada num casaco à russa», que, «impaciente», «vacila», «sobre as botinhas de tacões agudos», perante os trabalhadores, que a encaram, «brutamente», «como animais comuns», «bovinos, másculos, ossudos».[3] Esta figura representa o artificialismo e o luxo, em contraste com a pobreza das classes mais desfavorecidas, funcionando, também, como símbolo do conflito entre a cidade e o campo. Para além da adjectivação e da comparação utilizadas na caracterização da mulher, é de destacar, igualmente, o uso do advérbio, transmitindo sentimentos autênticos às respectivas personagens, e, revelando o íntimo do sujeito poético. O retrato da actriz está repleto de ambiguidades, pois, tal como a cidade, evidencia, por um lado, um aspecto sedutor, por outro, manifesta repulsa, nitidamente expressa no final do poema:
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Porém, desempenhando o seu papel na peça,
Sem que inda o público a passagem abra,
O demonico arrisca-se, atravessa
Covas, entulhos, lamaçais, depressa,
Com seus pezinhos rápidos, de cabra! (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 79)
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O tema da mulher citadina, fatal, surge, também, em «Esplêndida», lembrando Baudelaire,[4] pela forma desdenhosa como o poeta caracteriza esta personagem feminina, recorrendo a expressões irónicas, tais como «É fidalga e soberba» e «É ducalmente esplêndida!».[5] Esta figura denota a futilidade mundana e a repressão da vida, na cidade, conducente à humilhação:
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E eu vou acompanhando-a, corcovado,
No trottoir, como um doido, em convulsões,
Febril, de colarinho amarrotado,
Desejando o lugar dos seus truões,
Sinistro e mal trajado. (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 168)
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Do mesmo modo, em «Humilhações», está patente o tema da opressão, através do afastamento entre a mulher rica e o homem pobre, que apenas a contempla, à distância:
Ao mesmo tempo, eu não deixava de a abranger;
Via-a subir, direita, a larga escadaria.
E entrar no camarote. Antes estimaria
Que o chão se abrisse para a abater. (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 56)
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No final do poema, em antítese à personagem feminina inicialmente retratada, surge uma velha, «suja», «infecta, rota, má», anunciando a pobreza e a infelicidade a que estão sujeitos os mais desfavorecidos da sociedade.[6] E, mais uma vez, o sujeito assume a sua ideologia, ao demonstrar a sua «raiva», perante a guarda que «espanca o povo» e que é o símbolo do poder da burguesia.
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Frequentemente, a cidade é aliada a sensações de mal-estar, manifestando o poeta pensamentos de evasão. Em «Cristalizações», ao descrever um outro cenário citadino, a sua apetência pela vida campestre transparece, através da transfiguração dos «calceteiros», com «os picaretes», em «cavadores», com «as enxadas». O cenário citadino, barulhento e poluído, em contraste com o campo, alegre e salutar, entristece o poeta, provocando-lhe desabafos reveladores do estado de alma, como testemunham os versos: «Não se ouvem aves; nem o choro duma nora! / (...) / E o ferro e a pedra que união sonora! – / Retinem alto pelo espaço fora, / Com choques rijos, ásperos, cantantes.»
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Em «O sentimento dum ocidental», o poeta foca, de novo, a melancolia patente na vida citadina e as náuseas provocadas pela poluição. Consequentemente, manifesta um desejo de fuga da «triste cidade», que surge associada a clausura, expressa em vocábulos, como «grades», «cadeias», «fechaduras» e «gaiolas». Inseridas neste mesmo cenário, a doença e a morte, também se destacam, através de diversas expressões, tais como, «E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, / Nesta acumulação de corpos enfezados; / Sombrios e espectrais recolhem os soldados». Asfixiado pela dor, patente em cada esquina, o sujeito considera-se emparedado, «sem árvores, no vale escuro das muralhas», deambulando por «nebulosos corredores», e, seguindo «as notas pastoris de uma longínqua flauta», na busca de «amplos horizontes».
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Neste poema igualmente se manifesta a preocupação do poeta em relação às desigualdades sociais, ao referenciar as classes humildes, como «as floristas» e «as costureiras», em contraste com as mulheres «elegantes» que sorriem «às montras dos ourives». As associações feitas pelo poeta também fazem transparecer a sua posição face a este assunto:
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As burguesinhas do catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo. (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 108)
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Por outro lado, a vida campestre anima Cesário Verde pela tranquilidade e salubridade que transmite. Os seus quadros calmos envolvem muita luminosidade e proporcionam alegria e paz de espírito. Tudo remete, preferencialmente, para aspectos positivos, como se constata no poema «De Verão»:
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(...) Que aldeias tão lavadas!
Bons ares. Boa luz! Bons alimentos!
Olha: os saloios vivos, corpulentos,
Como nos fazem grandes barretadas! (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 99)
O campo proporciona outro tipo de pintura, mais atractiva para o poeta, como a ribeira que corre, os rebanhos que apascentam, as colinas que brilham, a vinha que «verdeja, vicejante», as terras ceifadas, a «sombra dos pinheiros», e, inclusivamente, as formigas, que, «espertas, diligentes», «arrastam bichos, uvas e sementes» para «seus antros quase ocultos na parede».
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Na composição «De tarde», o poeta relata um «piquenique de burguesas», em que uma figura feminina desce «do burrico», sem artificialismos, para ir apanhar, «um ramalhete rubro de papoulas», «a um granzoal azul de grão-de-bico». Todo o cenário exprime, fortemente, luz e cor, como testemunham, o «Sol», as «talhadas de melão», os «damascos» e o «pão-de-ló molhado em malvasia», entre outros coloridos elementos. Mais uma vez, os versos de Cesário Verde denunciam sensualismo, ao destacar as flores vermelhas que surgem contrastando com a brancura da mulher:
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Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas! (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 112)
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Em «Nós», poema autobiográfico, Cesário Verde confessa abertamente a sua paixão pela vida campestre, fazendo a apologia do campo, como local privilegiado:
E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nós vamos para ; somos provincianos,
Desde o calor de Maio aos frios de Novembro! (O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 1988: 122)
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Nesta composição, o poeta conta que a sua família abandonou a cidade, devido à febre e à cólera, e refugiou-se no campo, consequentemente, identificado com saúde e salvação. A partir de então, pôde observar as montanhas que lhe recordavam «cabeças estupendas, grossas», cobertas «de cabelo grisalho, muito rente»; «as verdes ribanceiras»; as abelhas «douradas, pequeninas»; os besoiros «negros, volumosos»; «o laranjal de folhas negrejantes», entre tantos outros aspectos ilustrativos da natureza. Com base na observação detalhada do cenário envolvente e na respectiva retratação, o poeta chega a admitir que pinta «quadros por letras, por sinais».
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De facto, poder-se-á dizer que Cesário Verde coloca o seu cavalete, perante o objecto da sua análise, e capta esse momento, na sua tela, ou seja, a espontaneidade do quotidiano, constituído por luz, cor e movimento. Com base nessa realidade concreta,[7] e, aliado à sua subjectividade, Cesário Verde, simultaneamente, na qualidade de poeta e de pintor, recorre artisticamente à palavra, para ilustrar autênticas aguarelas, repletas de expressividade.
 
BIBLIOGRAFIA
BARREIROS, António José, História da Literatura Portuguesa, vol. II, 15ª ed. Braga: Bezerra-Editora, 1998.
CASTRO, Sílvio, O percurso sentimental de Cesário Verde, Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1990.
COELHO, Jacinto do Prado, Dicionário de Literatura, vol. 4º, 3ª ed. Porto: Figueirinhas, 1978.
FIGUEIREDO, João Pinto de, Cesário Verde a obra e o homem, Lisboa: Editora Arcádia, 1981.
MACEDO, Helder, Nós uma leitura de Cesário Verde, Lisboa: Editorial Presença, 1999.
MENDES, Margarida Vieira, Poesias de Cesário Verde, 2ª ed. Lisboa: Editorial Comunicação, 1982.
PEREIRA, José Carlos Seabra, História Crítica da Literatura Portuguesa, vol. VII, Lisboa: Editorial Verbo, 1995.
PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, O livro de Cesário Verde e poesias dispersas, 3ª ed. Mem Martins, 1988.
TEIGA, Carlos, O livro de Cesário Verde (Ensaio interpretativo e crítico), Setúbal: Corlito, 1993.

 


 

[1] «Para revalorizar a natureza – os frutos e os legumes – o sujeito torna-se e mostra-se poeta, capaz de a recriar num corpo carnal, e põe a nu o procedimento metafórico com a sua capacidade fecundadora e produtiva.» (MENDES, 1982: 39)
[2] «Em Cesário há íntima concordância entre as ideias e a forma de as exprimir. Mesmo os conceitos de nível popular são expostos em cores vivas e num ritmo que os eleva. / Então as palavras, às vezes, deixam de ser som e transformam-se em luz e cor, sugerindo deliciosas e bem recortadas pinturas.» (Barreiros, 1998: 304)
[3]«Trata-se também de uma metáfora nascida do contágio com os trabalhadores, que para isso se animalizam no final do poema, passando de duros e «terrosos» a «bovinos» e sanguíneos.» (Mendes, 1982: 35)
[4] «Desde Ramalho Ortigão têm os leitores críticos aproximado Cesário de Baudelaire, insistindo nas semelhanças e, por reacção, também nas diferenças. É o que fez, por exemplo J. Prado Coelho. A seu ver, ambos os poetas inscrevem nos seus poemas a mulher fria, a cidade e a sua vida, ambos têm o mesmo gosto pelo inesperado, por vezes «arrepiante» (o frisson nouveau), a mesma audácia metafórica e atitudes por vezes exageradas, e ambos associam a poesia à pintura. No entanto, Cesário Verde é também um poeta do campo, do prosaico, sem amplidão oratória, anti-romântico, sem as preocupações metafísicas e os abismos psicológicos de Baudelaire, além de não ter quaisquer marcas de satanismo.» (Ibidem: 22-23)
[5] «O tratamento irónico da «esplêndida» mulher do título cria um efeito de distanciamento que a torna na personificação dramática de uma situação social. Ela é um tipo social e não uma pessoa.» (Macedo, 1999: 77)
[6] A mulher, símbolo da aristocracia, «(...) é colocada no pólo actancial do agressor, do dominador que é preciso vencer. No outro pólo são colocados os «lacaios» e os «povos humilhados», a classe oprimida e o próprio sujeito.» ( Mendes, 1982: 33)
[7] «Não esqueçamos, de resto, que Cesário é intencionalmente realista. Por isso, atende com particular interesse ao real concreto, a pormenores mínimos desde que lhe sirvam para excitar e transmitir percepções sensoriais. Daí o ter construído com realidades aparentemente insignificantes quadros de grande expressividade.» (Barreiros, 1998: 304)
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http://www.filologia.org.br/soletras/10/01.htm

AGUARELAS DE CESÁRIO VERDE


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