quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Nós - Cesário Verde

Terça-feira, 4 de Março de 2008
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Nós – Cesário Verde
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Que fruta! E que fresca e temporã,
Nas duas boas quintas bem muradas,
Em que o sol, nos talhões e nas latadas,
Bate de chapa, logo de manhã!
 
O laranjal de folhas negrejantes,
(porque os terrenos são resvaladiços)
Desce em socalcos todos os maciços,
Como uma escadaria de gigantes.
 
Das courelas, que criam cereais,
De que os donos – ainda! – pagam foros *,
Dividem-no fechados pitosporos **,
Abrigos de raízes verticais.
 
Ao meio, a casaria branca assenta
À beira da calçada, que divide
Ao escuros pomares de pevide,
Da vinha, numa encosta soalhenta!
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Entretanto não há maior prazer
Do que, na placidez das duas horas,
Ouvir e ver, entre o chiar das noras,
No largo tanque as bicas a correr!
 
Muito ao fundo, entre ulmeiros seculares,
Seca o rio! Em três meses de estiagem,
O seu leito é um atalho de passagem,
Pedregosíssimo, entre dois lugares,
 
Como se lhe luzem seixos e burgaus ***
Roliços! Marinham nas ladeiras
Os renques africanos das piteiras,
Que como alões espigam altos paus!
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*     - Imposto pago para trabalhar a terra
**  - Arvores ou arbustos de folha perene
*** - Fragmentos de rocha transportados pelos rios
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Que vivo e colorido se nos apresenta o campo neste poema de Cesário Verde, com descrição minuciosa e quente, quase podemos sentir o sol na pele e ouvir o som do vento nas arvores ou do rio a passar nas pedras. Contrasta com as suas descrições da cidade pesada e suja, para isso talvez contribuía o facto de o seu pai ter comprado uma quinta em Linda-a.-Pastora para fugir da Febre Amarela que atingia a cidade de Lisboa, onde a família tinha os seus negócios comerciais.
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Assim vai ser no seu “um salutar refúgio” que o mesmo tem liberdade para se dedicar á sua poesia. Espero que gostem tanto como eu.
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As fotografias são dos arrabaldes de Lisboa no principio do século XX


publicado por blackcrowes às 11:39
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http://blackcrowes.blogs.sapo.pt/6335.html
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