sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Fragmento 4 - José Saramago

Assunto: MEMÓRIAS...
Data: 22/Jan 15:26
QUE A NOSSA MEMÓRIA PARA SEMPRE SE ALIMENTE DAS LÁGRIMAS DOS QUE CHORAVAM...QUE SE RECORDE COM PRECISÃO A MISÉRIA DA ALMA E O GRITO REPRIMIDO...AS SOMBRAS PUNGENTES, A FALA EM SEGREDO, AS VOLTAS TROCADAS...O NÃO SABER QUEM É QUEM....E DESCONFIAR, TER MEDO...CALAR...O SÚBITO SUMIR DE AMIGOS, PARENTES, IRMÃOS E NÃO PRECISAR PERGUNTAR ONDE TINHAM IDO...A ANGÚSTIA CRESCENTE DA MÃE QUE VÊ SEU FILHO CRESCER E A HOMEM CHEGAR...ESTAR DE MÃOS ATADAS. LEMBRAR E HONRAR OS QUE FORAM Á LUTA A PENSAR EM TODOS NÓS...PALAVRAS GRITADAS EM SEGREDO....PRISÃO...TORTURA...HOJE, LEMBRAR E CONTAR, CONTAR SEMPRE COMO ERA AOS QUE VIERAM DEPOIS....NOSSOS FILHOS, NOSSOS NETOS, PARA QUE PASSE A SER TAMBÉM SUA MEMÓRIA E NÃO APENAS UMA FOLHA DE UM LIVRO ESCOLAR...AH! MAS NÃO ESQUEÇAM DE FALAR DA ALEGRIA INFANTIL SENTIDA QUANDO, COM AS BUZINAS GRITÁVAMOS 'ESTAMOS AQUI. NÃO VOS ESQUECEMOS' AO PASSAR PERTO DA PRISÃO POLÍTICA DE CAXIAS....MEMÓRIA GRAVADA...PEDIA SEMPRE PARA SER EU A 'GRITAR'...E TU PAI, MEU PROFESSOR DE PALAVRAS EM LUTA...LIBERDADE...DEMOCRACIA...REVOLUÇÃO...TU SORRIAS...E BUZINÁVAMOS OS DOIS...EM ANEXO UM BEIJO! 
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Distribuído por  Moranguinho Pereira (hi5)
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FRAGMENTO 4
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O interrogatório do homem que saiu de casa de-
pois da hora de recolher começou há quinze dias e
ainda não acabou
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Os inquiridores fazem uma pergunta em cada
sessenta minutos vinte quatro por dia e exi-
gem cinqüenta e nove respostas diferentes para
cada uma
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É um método novo
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Acreditam que é impossível não estar a resposta
verdadeira entre as cinqüenta e nove que foram
dadas
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E contam com a perspicácia do ordenador para
descobrir qual delas seja e a sua ligação com as
outras
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Há quinze dias que o homem não dorme nem
dormirá enquanto o ordenador não disser não pre-
ciso de mais ou o médico não preciso de tanto
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Caso em que terá o seu definitivo sono
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O homem que saiu de casa depois da hora de
recolher não dirá por que saiu
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E os inquiridores não sabem que a verdade está
na sexagésima resposta
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Entretanto a tortura continua até que o médico
declare
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Não vale a pena
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JOSÉ SARAMAGO
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