Biografia
Esperámos 40 anos por este Salazar
25.08.2010 - Maria José Oliveira
É a biografia mais óbvia quando atentamos na história portuguesa contemporânea. Mas até 2009 ninguém ousou biografar António de Oliveira Salazar, morto em 1970. Foi preciso esperar por Filipe Ribeiro de Meneses, um jovem historiador nascido um ano antes da morte do ditador, para finalmente ler "Salazar"
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Há cerca de um ano, Filipe Ribeiro de Meneses estava em Washington para o lançamento mundial de "Salazar - A Political Biography" (Enigma Books), obra académica inédita na historiografia internacional. A notícia (dada pelo PÚBLICO, em exclusivo) suscitou um entusiasmado interesse por parte de várias casas editoriais portuguesas - há mais de quatro décadas que o país esperava pela biografia da figura mais importante do século XX português, António de Oliveira Salazar. E repentinamente, para surpresa de todos, a obra estava prestes a entrar no mercado internacional: escrita em inglês por um historiador português radicado em Dublin, "senior lecturer" na National University of Ireland. A corrida à edição portuguesa foi ganha pela Dom Quixote, que, a partir de amanhã, vai colocar "Salazar" nas livrarias nacionais.
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A obra, resultado de sete anos de investigação, foi internacionalmente bem acolhida. Mas Filipe Ribeiro de Meneses não esconde alguma ansiedade pela recepção portuguesa. "O livro vai ser passado a pente fino", diz. "Sei por experiência própria que há um enorme interesse em Salazar e no Estado Novo, um desejo de entender o passado recente", acrescenta. Um interesse, aliás, que ficou bem expresso no concurso "Grandes Portugueses", transmitido pela RTP em 2007, e na consequente multiplicação de projectos (teatrais, literários) em torno da temática Salazar.
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Ribeiro de Meneses, 40 anos, sabe que este livro que procura entender e descodificar o trajecto e as decisões políticas de Salazar ao longo de quatro décadas arrasta consigo controvérsia (efeito incontornável na abordagem da história recente). Até porque persistem ainda na historiografia portuguesa contemporânea muitas "ideias feitas" sobre Salazar e o Estado Novo - consequência de uma excessiva politização da análise histórica que, acredita, "tende a desaparecer".
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Em quase 700 páginas, o autor condensa 40 anos da vida de um homem que o contacto com a população repugnava e que evitou sempre avançar com um processo de doutrinação ideológica. Não só porque privilegiava a "realpolitik", como também porque só assim impedia a cristalização do Estado Novo. Mas "Salazar" é uma obra em aberto. Ribeiro de Meneses prevê regressar ao tema, "daqui a muitos anos!". O historiador diz querer esperar por uma idade mais avançada para tentar compreender algumas decisões do ditador que mais anos governou na Europa do século XX. Entretanto, para além das aulas, prossegue as suas investigações sobre os períodos da I República e Estado Novo, algumas delas já decantadas em livro: "União Sagrada e Sidonismo: Portugal em Guerra 1916-1918" (Cosmos, 2000), "Franco and the Spanish Civil War" (Routledge, 2001) e "Afonso Costa" (Texto, 2010), biografia que será também publicada pela editora britânica Haus numa série ("Makers of the Modern World") dedicada aos líderes das delegações à Conferência de Paz de Paris (1919), realizada no final da Primeira Guerra Mundial.
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A menos de um mês do lançamento em Lisboa, e na véspera de umas curtas férias na ilha de Achill, Filipe Ribeiro de Meneses respondeu às perguntas do Ípsilon por correio electrónico.
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Optou por centrar a biografia exclusivamente no trabalho político de Salazar. A abordagem da história pessoal não lhe interessava ou a informação sobre o assunto é escassa?
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O meu problema principal foi a dimensão. É impossível escrever sobre Salazar sem descrever a máquina do Estado Novo, e não se pode descrever o regime sem escrever sobre o país. Tendo o livro sido escrito originalmente para um público de língua inglesa, era duplamente necessário informar o leitor do meio em que Salazar se movia. Por isso escrevi muito e depois o pragmatismo da editora norte-americana [Enigma Books] forçou-me a cortar e a tornar a cortar. Parte do que ficou de fora tinha a ver com a história pessoal - mas em boa verdade não tinha muito mais de útil a dizer, porque a informação sobre a sua vida particular é de facto escassa e por vezes contraditória.
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Em entrevista ao P2 (edição de 29/10/2009) disse que um dos motivos para não existir uma biografia tão completa de uma das figuras mais óbvias da história recente prende-se com as ideias feitas sobre Salazar e o Estado Novo. A historiografia nacional é ainda politizada?
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De certa forma sim, o que é natural. Mas estamos felizmente muito longe do que sucede, por exemplo, em Espanha, onde existem duas historiografias sobre o século XX espanhol que pura e simplesmente se ignoram mutuamente. E há um fenómeno notável em Portugal: os historiadores são ouvidos sobre assuntos correntes, fazem parte do "comentariado", participam na vida política como deputados ou mesmo ministros - mas cada vez menos se usa a historiografia académica como arma política. Com algumas excepções notáveis, a manipulação do passado para fins políticos presentes tende a desaparecer.
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Escreve que incluir Salazar na "família fascista" é esticar o conceito de fascismo e que a repressão estado-novista não foi uma força "todo-poderosa". E equipara ainda a violência na década de 30 à de anos anteriores. A escala da repressão nessa década, com a abertura do Tarrafal e a criação da PVDE, não cumpre um dos requisitos da definição de Estado fascista?
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Não me parece que a pergunta resuma precisamente o que escrevi. Afirmo que "o silenciamento de ideias dissidentes assumiu um papel vital no regime que Salazar estabeleceu"; a comparação com a violência exercida em décadas anteriores abrange apenas uma parte da violência estatal do regime salazarista; não ignoro nem o Tarrafal nem a PVDE/PIDE; e - julgo - torno claro que Salazar deu rédeas demasiado largas aos directores da sua polícia secreta: era a estes homens que Salazar pedia explicações sobre os excessos da PIDE que lhe chegavam aos ouvidos, ou às mãos. Quanto à inclusão de Salazar na "família fascista", digo que "à primeira vista" não faz sentido nenhum.
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É importante realçar, no entanto, que não só o Estado Novo não se resumia a Salazar, como também Portugal estava aberto a influências estrangeiras, apesar da censura e da "política do espírito" do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN). E uma parte importante do Estado Novo sentia uma atracção muito forte pelo fascismo, numa altura em que este se estava a fortalecer por toda a Europa. Havia fascistas em Portugal, dentro do regime, e Salazar teve de pactuar com alguns deles; tinham inimigos comuns e, de certa forma, armas idênticas para os combater. Mas o que me parece claro é que Salazar quis sempre - e conseguiu sempre - travar e controlar estes elementos mais radicais. Conseguiu-o porque tinha uma autodisciplina notável e porque, nos anos 30, pouco se podia fazer sem o patrocínio financeiro do Estado: mas era precisamente Salazar quem controlava os cordões da bolsa. Todas as organizações que tinham uma componente fascista - os Vanguardistas, a Mocidade, a Legião - acabaram por se curvar perante o homem que continuava a ser o "ditador das Finanças".
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No fundo, esta questão tem na base a interpretação feita do fascismo. Quem o vê como uma simples resposta ao comunismo provavelmente verá em Salazar um fascista. Mas para quem considera o fascismo um fenómeno histórico digno de estudo, complexo nas suas causas e nas suas acções, Salazar surge como algo bem diferente. E não é a repressão estatal, impossível de negar, que chega para colmatar a brecha.
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Salazar teve sempre o cuidado de manipular a população de forma a obter ganhos políticos. Poder-se-á falar num culto da personalidade calculado?
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Sim. Tudo era estudado ao milímetro. O culto da personalidade desenvolvido por Mussolini, entre outros ditadores da época, servia para mobilizar as massas, o que Salazar não queria fazer - assim como não queria gastar demasiado tempo a contactar directamente com a população. Mas precisava de explicar a certos sectores sociais o seu direito a governar, estabelecendo uma narrativa que tornasse clara a razão de ser do Estado Novo, e isto fez-se com base na sobrevalorização dos seus dotes e virtudes pessoais. Tal tarefa coube em primeiro lugar ao SPN, que foi alvo de críticas dentro do regime pelo seu custo financeiro. Mas Salazar defendeu sempre o trabalho de António Ferro, sobretudo a sua componente internacional.
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"Salazar tinha pouca confiança em Franco"
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Durante a Guerra civil de Espanha, em Abril de 38, Salazar reconheceu o Governo de Franco. Contudo, e apesar de autorizar a propaganda pró-falangista, recusou qualificar os Viriatos, voluntários recrutados em Lisboa, como uma força política. Porquê?
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Quem queria transformar os Viriatos numa força política era precisamente a ala mais radical do Estado Novo, que precisava duma milícia nova - a Legião já tinha sido domada pelo regime -, dotada duma mística própria, forjada no combate contra o inimigo "vermelho". Porquê? Porque queria transformar o Estado Novo em algo mais parecido com o regime franquista, ele próprio decalcado do italiano e do alemão. Os Viriatos seriam os "arditi" portugueses. Salazar não podia permitir tal coisa e sobreviver politicamente.
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O posicionamento de Salazar na Segunda Guerra Mundial continua debaixo de "mal-entendidos" e de leituras "deliberadamente distorcidas", defende. Diz que a tese de que Salazar era pró-nazi está mal sustentada nas relações conturbadas entre Portugal e os Aliados e na compra de armamento aos países do Eixo. Por que é que esta relação de causalidade é falaciosa?
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Precisei de dois capítulos para responder a essa pergunta. Para Salazar a guerra era uma catástrofe terrível, que punha em causa a "missão histórica" da Europa. Até ao Verão de 40 pensou que a melhor solução seria um entendimento entre os beligerantes, uma "paz branca". Foi depois surpreendido pela facilidade com que a França foi derrotada. Durante algum tempo pensou - e quem, no continente europeu, não pensou assim? - que a Alemanha tinha ganho a guerra, e que só a teimosia impedia Churchill de reconhecer a derrota. Não quer isto dizer que estivesse contente com o desfecho: longe disso. Foi uma época extremamente desgastante para Salazar, que tentou por todos os meios entender os contornos da "Nova Ordem" e o papel que esta reservava a Portugal - para não falar no esforço que fez para influenciar a política espanhola. Lentamente - mais lentamente do que Armindo Monteiro [então embaixador de Portugal em Londres] - entendeu que a Alemanha não poderia ganhar a guerra, pois esta tinha-se transformado numa contenda entre a Europa, parca em recursos estratégicos, e o resto do mundo. E a partir desse momento tentou convencer os Aliados ocidentais, cuja vitória desejava, a limitar os estragos, isto é, a travar o avanço da União Soviética, que ele receava ainda mais do que a Alemanha Nazi.
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Passemos ao armamento. Salazar preferiu, em regra, comprar armamento à Grã-Bretanha. Mesmo quando este era mais caro, ou de qualidade inferior, era para Londres que se virava. A modernização da Armada foi feita com base em navios britânicos, e o Governo comprou caças Gloster Gladiator quando estes já estavam totalmente ultrapassados pelos Spitfire desejados pela Aeronáutica Militar, mas reservados para a Royal Air Force. Porém, quando, após décadas de cortes orçamentais na Defesa, a Grã-Bretanha acordou para o perigo alemão, não estava em condições de vender a Portugal o que este queria. À frente de Portugal na fila estavam, para não falar nas próprias Forças Armadas britânicas, parceiros estratégicos que Londres queria manter na sua órbita. Portugal comprou armamento em Berlim porque precisava de o comprar (em parte porque o mundo se estava a tornar cada vez mais perigoso, mas também porque só munido de armas modernas o Exército aceitaria regressar às casernas) e porque Londres não lho vendia.
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Quanto às relações com os beligerantes, parece-me claro que Salazar podia falar sobre as políticas inglesa e americana de uma forma aberta, e por isso crítica, porque calculava que as suas palavras, necessárias à política interna, não provocariam um corte de relações. Com a Alemanha, a situação era diferente; todo o cuidado era pouco. A Grã-Bretanha podia desiludir Salazar, feri-lo com as suas acções, precisamente porque ele queria ter boas relações com Londres; da Alemanha nazi ele não esperava nada de bom. Com um país Salazar queria colaborar; com o outro apenas sobreviver.
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Para além de Salazar acreditar que uma eventual vitória da Alemanha poderia ser fatal para um país periférico e rural como Portugal, estiveram entre os motivos para a neutralidade os catastróficos resultados da participação na Primeira Guerra Mundial?
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Sempre me pareceu que sim. Salazar sabia que seria apoiado pela maioria da população se mantivesse o país fora de conflitos europeus. E sabia também que a participação na guerra estava muito além das possibilidades do Estado Novo: não só na sua vertente militar, mas também na organização da "frente doméstica", que tinha sido alvo de alguns escritos seus nos tempos de Coimbra.
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Uma investigação recente, de Manuel Ros Agudo, veio confirmar que Franco ponderou invadir Portugal. Até que ponto Salazar poderia desconfiar do plano franquista?
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Salazar tinha pouca confiança em Franco, e por vezes troçava dele. Eram personalidades opostas, com passados distintos. Mas Salazar sabia que para a Espanha a participação na guerra seria um sacrifício incomportável - um verdadeiro holocausto. Não se ignorava que a fome era uma realidade terrível em Espanha, que o país estava de rastos depois da guerra civil, que as prisões estavam a abarrotar e que a tensão entre a Falange e o Exército era uma constante. A Inglaterra fornecia a comida e o combustível que separavam a Espanha do abismo. Podia a Alemanha fazê-lo? Não. Por isso, a política de Salazar junto do Governo de Madrid era lembrar, com todo o tacto possível, esta realidade, assegurando o diálogo entre Franco e Churchill. Por outras palavras: era preciso falar ao cérebro de Franco, e não ao coração. Não foi fácil, mas funcionou.
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Não me espanta que tenham existido planos para a invasão espanhola de Portugal: surpreendente seria o contrário! Mas a sua descoberta apenas confirma o que já se sabia - que a tentação de participar no conflito era enorme. Parece-me que a importância destes planos é maior no contexto das guerras de memória histórica em Espanha do que no contexto português. Servem para demonstrar que Franco pensou a sério em entrar na guerra ao lado de Hitler e Mussolini, e se nisso pensou foi porque desejava a vitória do Eixo, contrariando assim a visão dos apologistas do ditador, que o dizem equidistante dos Aliados e do Eixo.
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Escreve que Salazar fez uma análise "incompleta" da situação europeia entre 39 e 45 e que as "motivações raciais e assassinas" do Terceiro Reich lhe terão escapado. Como se explica esta eventual falta de conhecimento?
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Há aqui muito espaço para investigações futuras. O problema é a falta de material sobre a Solução Final nos arquivos portugueses, a começar pelo Arquivo Oliveira Salazar. Foi-me impossível estabelecer o que Salazar soube sobre o extermínio dos judeus na Europa, e quando o soube. Mas tenho a impressão de que, até muito tarde, considerou Hitler como um estadista tradicional, movido por razões de Estado agressivas, repugnantes até, mas inteligíveis (a conquista de território e de recursos), tendo subestimado a componente racial e absurda da empresa nazi. Curioso também é o silêncio de Salazar sobre o Holocausto. Talvez tenha sido motivado pelo receio de municionar o inimigo ideológico durante a Guerra Fria; outra explicação é o receio de ofender a Alemanha, cujo ressurgimento, para Salazar, era uma certeza histórica.
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Durante a guerra, Salazar concentrou em si a maioria dos poderes de decisão. Este isolamento teve efeitos no regime?
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Sem dúvida. Tornou o Estado Novo mais dependente do fundador e minou ainda mais a autoridade de ministros e altas autoridades. Quem se insurgiu contra esta tendência viu a sua carreira política destruída. Carmona continuava a exercer uma tutela sobre Salazar, mas o que sabia Carmona que não tivesse passado primeiro pelas mãos de Salazar? Quase nada. A guerra teve outro efeito importante: conduziu à derrota da direita radical, que passou de porta-estandarte de uma ideologia triunfante a pária internacional. O Estado Novo é mais homogéneo a partir de 45; a luta de ideias no seu seio é menor, restando apenas a luta de interesses pessoais e económicos.
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Concorda com os historiadores que defendem que após a queda dos fascismos na Europa assistiu-se, em Portugal, a um processo de "desfascização" e inflexão nas instituições do regime?
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Concordo. Depois da guerra, Salazar pôde governar com maior facilidade. O Estado Novo tornou-se mais claramente o reflexo do seu fundador, e as resistências internas (no regime) diminuíram. A ameaça política da direita radical esfumou-se numa altura em que a Guerra Fria ajudou a justificar o lado repressivo. Era preciso apenas resistir a Marcelo Caetano e seus apoiantes, evitando a "promoção" à Presidência da República, e preservar os equilíbrios políticos e económicos de que dependia a estabilidade do Estado Novo. Porém, oponho-me frontalmente à ideia de que o Estado Novo da década de 30 é o genuíno, sendo o que se lhe seguiu uma cópia desbotada; parece-me até que só nos anos 50 é que Salazar começou a governar como realmente queria.
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É consensual a teoria de que o pós-guerra representou uma oportunidade dourada para a industrialização. Contudo, Salazar, dividido entre o ímpeto de Ferreira Dias e a contestação da oligarquia rural, optou por ceder a este último poderoso grupo. Porquê?
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Porque o poder político de Salazar assentava em parte sobre a sua capacidade de satisfazer grupos económicos com interesses por vezes contraditórios. Quando um destes manifestava o seu desagrado perante uma política anunciada, era tempo de rever essa política. E Salazar era muito mais forte em questões financeiras do que em matéria económica - daí, em parte, a fraqueza do corporativismo português. Por fim, entendia que mudanças económicas súbitas trariam consequências sociais que levariam a mudanças políticas: tendo em conta a agitação no pós-guerra, com o MUD e, mais tarde, a campanha de Norton de Matos, esta era uma questão de primeira importância. Industrialização significava um operariado maior. Já lhe chegava, em termos políticos e de segurança interna, um Barreiro! Por isso preferiu esperar.
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"Salazar herdou um colonialismo irrealista"
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Os primeiros anos de 50 coincidem com a publicação de "Férias com Salazar", um retrato suave escrito por Christine Garnier. Houve necessidade de recuperar e fortalecer o poder de Salazar no pós-guerra?
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"Férias com Salazar" foi um golpe de génio. Salazar conseguiu reafirmar, perante uma nova geração, as "verdades" do regime, as razões que o tinham levado a governar e a manter-se ainda, depois de tantos anos, no seu posto. Uma escritora francesa, que nada sabe sobre Portugal, chega, é conquistada intelectualmente (e não só) por Salazar e, em palavras aparentemente suas, que parecem ter sido escolhidas livremente (mas não foram), resume a vida e a obra de Salazar no tom mais elogioso possível, retratando-o e humanizando-o como nunca sucedera antes. Nada de cartazes, de manifestações, de secretariados de propaganda, de espalhafato; apenas um volume, de leitura fácil e rápida. Perfeito. Salazar precisava de renovar pontualmente a sua legitimidade e não dispunha de meios. Era necessária uma voz nova e aparentemente imparcial para tornar a apresentar os pontos essenciais do mito de Salazar, sobretudo o da renúncia aos prazeres mundanos. Essa voz foi a de Garnier.
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A candidatura independente de Humberto Delgado, porém, e o delírio nacional em torno das eleições representaram um forte revés para o regime. O que é que pode ter falhado?
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Muitas coisas falharam. Por um lado, o mundo estava em plena transformação, a começar pelo resto da Europa ocidental, cuja recuperação económica após a guerra foi fulminante. O Portugal descrito por Garnier - a última Arcádia - era uma fantasia. A pobreza, por vezes extrema, era uma realidade à qual Salazar era insensível. A modernização em curso tinha de ser controlada pelo Estado, de forma a minimizar as consequências sociais e políticas; tinha de haver progresso, mas não se queria pagar o preço da incerteza por ele causada. E tudo tinha de ser feito de acordo com a ortodoxia financeira ditada por Salazar. Quem viajasse, como Delgado fazia constantemente, quem pudesse comparar friamente Portugal ao resto do mundo ocidental, entenderia que a distância que os separava estava a aumentar por causa da lentidão do crescimento. Entenderia também que os custos humanos desta lentidão eram elevadíssimos. E porquê? Seria mesmo verdade que só Salazar era capaz de manter a paz social? Que Portugal não podia pagar a educação e alimentação de todas as suas crianças? Treze anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e mais de 30 anos depois do 28 de Maio, era preciso ainda suportar a PIDE, a censura e uma máquina administrativa insensível às necessidades da população e aberta a todos os tipos de abusos? Eram os portugueses assim tão ingovernáveis?
Delgado conseguiu levar estas questões ao eleitorado. Era o seu nacionalismo que o forçava a agir antes de o país se perder. Apresentou-se como um homem que tinha vencido o medo de dizer o que muitos pensavam. E conseguiu unificar as várias oposições, simplificando a escolha que se punha aos eleitores: ou ele ou Salazar. Não sabemos, pura e simplesmente, quem de facto eles escolheram.
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A partir de 1961, com a Administração Kennedy, Portugal sofreu maior pressão externa relativamente às políticas coloniais. Mas Salazar manteve-se irredutível, isolando cada vez mais o país.
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Na década de 30, foi atacado por ligar pouco à sorte dos territórios. E depois da guerra as críticas continuaram. Isto não quer dizer que Salazar não considerasse as colónias parte integrante de Portugal - desse mesmo Portugal cujo desenvolvimento ele estava disposto a retardar para manter a disciplina fiscal e a "Ordem". Não estava disposto a ser pressionado em relação ao Ultramar. A decisão de não começar a preparar a descolonização antes do início da guerra em Angola foi, sem dúvida, o maior erro de Salazar. Condenou o regime a continuar "in situ", imutável, até cair. Era impossível fazer uma transição negociada dada a guerra em África - mas também era impossível ganhar a guerra. Portugal era forte em África, como nunca o tinha sido; podia contar com o apoio da África do Sul (e, mais tarde, da Rodésia de Ian Smith); as economias de Angola e Moçambique iam de vento em popa. Este sentimento de força induziu-o em erro, levando-o a pensar que Portugal poderia resistir até ao resto do Ocidente mudar de opinião.
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As administrações norte-americanas não deixaram de tentar um eventual acordo entre Portugal e os movimentos de libertação, embora logo em 64 Washington tenha percebido que a autodeterminação das colónias seria impossível sem a mudança do regime. Seria necessária a alteração do regime ou bastaria um novo chefe do Governo?
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Portugal não se batia nas colónias apenas por vontade de Salazar; fazia-o porque se tinha tornado um caso único na Europa, um país em que o colonialismo continuava a ser uma política aceitável e desejável entre grande parte da elite governativa e militar, da Igreja Católica, e do resto da população. Não podemos esquecer que a emigração para o Ultramar acelerou depois do começo da guerra colonial. Não é nada óbvio que, se Salazar mudasse de opinião em relação à política em África, pudesse alterar o rumo de forma tão drástica e manter-se no poder. A tanto não chegaria a sua força.
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O Portugal de Salazar herdou da República e da Monarquia Constitucional um colonialismo totalmente irrealista. As colónias pareciam garantir a prosperidade e mesmo o futuro, mas eram, na realidade, um fardo. Estávamos em África desde o século XV, mas as campanhas de "pacificação" arrastavam-se ainda no século XX. Angola e Moçambique eram potencialmente riquíssimas, mas Portugal não tinha capital financeiro e humano. Éramos todos portugueses, mas havia portugueses de primeira e de segunda. A empresa colonialista dos séculos XIX e XX continha contradições que, com o passar dos anos, se foram tornando evidentes, levando a que países como a França e a Grã-Bretanha aceitassem a inevitabilidade da descolonização. O que aconteceu em Portugal, onde essas contradições eram ainda mais agudas, foi que o Estado Novo impediu que a situação fosse debatida. Podia discutir-se a melhor forma de colonizar, mas não o direito a fazê-lo. Passou-se de um período em que se receava que as colónias fossem absorvidas por um rival europeu (ou pela África do Sul) para um período em que se receava que se tornassem independentes. A resposta (recusar qualquer diálogo sobre o assunto) foi a mesma que tinha sido dada aos rivais coloniais dos anos 30, como se o problema também fosse o mesmo - mas não era.
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A base nacionalista do regime impunha tal resposta: eram as colónias que conferiam a Portugal a sua "grandeza", e que estabeleciam um elo vivo com um passado "glorioso". Mas havia outra razão. A partir dos anos 50 o Estado passou a dispor de recursos suficientes para impulsionar o desenvolvimento das economias coloniais. Foi com enorme frustração que se constatou que o resto da Europa tinha mudado de opinião quanto ao colonialismo. Tinha chegado a nossa vez de lucrar com o Ultramar, e estávamos determinados a fazê-lo.
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Já depois de nomeado Marcello Caetano, manteve-se a farsa em torno de Salazar, que julgava liderar o país. O que justifica esta encenação de dois anos?
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Este episódio - como a própria condição física e mental de Salazar entre 68 e 70 - é difícil de esclarecer. As contradições entre os vários testemunhos são imensas, talvez porque, durante a sua doença, Salazar teve períodos bons e maus, dias - ou horas dentro desses dias - de lucidez e dias de alheamento. Um Salazar consciente, por muito debilitado que estivesse, representaria sempre um perigo para Caetano, pois retirar-lhe-ia legitimidade e tornaria ainda mais difícil a implementação dos seus projectos de reforma.
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Está a pensar regressar ao tema daqui a alguns anos. O que lhe interessa ainda abordar?
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Não daqui a uns anos - daqui a muitos anos! Gostaria de compor um retrato mais pessoal, menos neutro, com menos preocupações académicas. Sou já mais velho do que Salazar era quando se tornou Ministro das Finanças, em 28, mas sinto-me demasiado novo para ajuizar da vida dele, ou de certas decisões, especialmente as que têm a ver com a insistência de se manter no poder. Quem é (relativamente) novo tem mais dificuldade em entender essa insistência. Mas o que podia Salazar fazer depois de se afastar de S. Bento? Voltar para o Vimieiro?
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Há cerca de um ano, Filipe Ribeiro de Meneses estava em Washington para o lançamento mundial de "Salazar - A Political Biography" (Enigma Books), obra académica inédita na historiografia internacional. A notícia (dada pelo PÚBLICO, em exclusivo) suscitou um entusiasmado interesse por parte de várias casas editoriais portuguesas - há mais de quatro décadas que o país esperava pela biografia da figura mais importante do século XX português, António de Oliveira Salazar. E repentinamente, para surpresa de todos, a obra estava prestes a entrar no mercado internacional: escrita em inglês por um historiador português radicado em Dublin, "senior lecturer" na National University of Ireland. A corrida à edição portuguesa foi ganha pela Dom Quixote, que, a partir de amanhã, vai colocar "Salazar" nas livrarias nacionais.
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A obra, resultado de sete anos de investigação, foi internacionalmente bem acolhida. Mas Filipe Ribeiro de Meneses não esconde alguma ansiedade pela recepção portuguesa. "O livro vai ser passado a pente fino", diz. "Sei por experiência própria que há um enorme interesse em Salazar e no Estado Novo, um desejo de entender o passado recente", acrescenta. Um interesse, aliás, que ficou bem expresso no concurso "Grandes Portugueses", transmitido pela RTP em 2007, e na consequente multiplicação de projectos (teatrais, literários) em torno da temática Salazar.
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Ribeiro de Meneses, 40 anos, sabe que este livro que procura entender e descodificar o trajecto e as decisões políticas de Salazar ao longo de quatro décadas arrasta consigo controvérsia (efeito incontornável na abordagem da história recente). Até porque persistem ainda na historiografia portuguesa contemporânea muitas "ideias feitas" sobre Salazar e o Estado Novo - consequência de uma excessiva politização da análise histórica que, acredita, "tende a desaparecer".
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Em quase 700 páginas, o autor condensa 40 anos da vida de um homem que o contacto com a população repugnava e que evitou sempre avançar com um processo de doutrinação ideológica. Não só porque privilegiava a "realpolitik", como também porque só assim impedia a cristalização do Estado Novo. Mas "Salazar" é uma obra em aberto. Ribeiro de Meneses prevê regressar ao tema, "daqui a muitos anos!". O historiador diz querer esperar por uma idade mais avançada para tentar compreender algumas decisões do ditador que mais anos governou na Europa do século XX. Entretanto, para além das aulas, prossegue as suas investigações sobre os períodos da I República e Estado Novo, algumas delas já decantadas em livro: "União Sagrada e Sidonismo: Portugal em Guerra 1916-1918" (Cosmos, 2000), "Franco and the Spanish Civil War" (Routledge, 2001) e "Afonso Costa" (Texto, 2010), biografia que será também publicada pela editora britânica Haus numa série ("Makers of the Modern World") dedicada aos líderes das delegações à Conferência de Paz de Paris (1919), realizada no final da Primeira Guerra Mundial.
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A menos de um mês do lançamento em Lisboa, e na véspera de umas curtas férias na ilha de Achill, Filipe Ribeiro de Meneses respondeu às perguntas do Ípsilon por correio electrónico.
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Optou por centrar a biografia exclusivamente no trabalho político de Salazar. A abordagem da história pessoal não lhe interessava ou a informação sobre o assunto é escassa?
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O meu problema principal foi a dimensão. É impossível escrever sobre Salazar sem descrever a máquina do Estado Novo, e não se pode descrever o regime sem escrever sobre o país. Tendo o livro sido escrito originalmente para um público de língua inglesa, era duplamente necessário informar o leitor do meio em que Salazar se movia. Por isso escrevi muito e depois o pragmatismo da editora norte-americana [Enigma Books] forçou-me a cortar e a tornar a cortar. Parte do que ficou de fora tinha a ver com a história pessoal - mas em boa verdade não tinha muito mais de útil a dizer, porque a informação sobre a sua vida particular é de facto escassa e por vezes contraditória.
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Em entrevista ao P2 (edição de 29/10/2009) disse que um dos motivos para não existir uma biografia tão completa de uma das figuras mais óbvias da história recente prende-se com as ideias feitas sobre Salazar e o Estado Novo. A historiografia nacional é ainda politizada?
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De certa forma sim, o que é natural. Mas estamos felizmente muito longe do que sucede, por exemplo, em Espanha, onde existem duas historiografias sobre o século XX espanhol que pura e simplesmente se ignoram mutuamente. E há um fenómeno notável em Portugal: os historiadores são ouvidos sobre assuntos correntes, fazem parte do "comentariado", participam na vida política como deputados ou mesmo ministros - mas cada vez menos se usa a historiografia académica como arma política. Com algumas excepções notáveis, a manipulação do passado para fins políticos presentes tende a desaparecer.
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Escreve que incluir Salazar na "família fascista" é esticar o conceito de fascismo e que a repressão estado-novista não foi uma força "todo-poderosa". E equipara ainda a violência na década de 30 à de anos anteriores. A escala da repressão nessa década, com a abertura do Tarrafal e a criação da PVDE, não cumpre um dos requisitos da definição de Estado fascista?
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Não me parece que a pergunta resuma precisamente o que escrevi. Afirmo que "o silenciamento de ideias dissidentes assumiu um papel vital no regime que Salazar estabeleceu"; a comparação com a violência exercida em décadas anteriores abrange apenas uma parte da violência estatal do regime salazarista; não ignoro nem o Tarrafal nem a PVDE/PIDE; e - julgo - torno claro que Salazar deu rédeas demasiado largas aos directores da sua polícia secreta: era a estes homens que Salazar pedia explicações sobre os excessos da PIDE que lhe chegavam aos ouvidos, ou às mãos. Quanto à inclusão de Salazar na "família fascista", digo que "à primeira vista" não faz sentido nenhum.
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É importante realçar, no entanto, que não só o Estado Novo não se resumia a Salazar, como também Portugal estava aberto a influências estrangeiras, apesar da censura e da "política do espírito" do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN). E uma parte importante do Estado Novo sentia uma atracção muito forte pelo fascismo, numa altura em que este se estava a fortalecer por toda a Europa. Havia fascistas em Portugal, dentro do regime, e Salazar teve de pactuar com alguns deles; tinham inimigos comuns e, de certa forma, armas idênticas para os combater. Mas o que me parece claro é que Salazar quis sempre - e conseguiu sempre - travar e controlar estes elementos mais radicais. Conseguiu-o porque tinha uma autodisciplina notável e porque, nos anos 30, pouco se podia fazer sem o patrocínio financeiro do Estado: mas era precisamente Salazar quem controlava os cordões da bolsa. Todas as organizações que tinham uma componente fascista - os Vanguardistas, a Mocidade, a Legião - acabaram por se curvar perante o homem que continuava a ser o "ditador das Finanças".
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No fundo, esta questão tem na base a interpretação feita do fascismo. Quem o vê como uma simples resposta ao comunismo provavelmente verá em Salazar um fascista. Mas para quem considera o fascismo um fenómeno histórico digno de estudo, complexo nas suas causas e nas suas acções, Salazar surge como algo bem diferente. E não é a repressão estatal, impossível de negar, que chega para colmatar a brecha.
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Salazar teve sempre o cuidado de manipular a população de forma a obter ganhos políticos. Poder-se-á falar num culto da personalidade calculado?
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Sim. Tudo era estudado ao milímetro. O culto da personalidade desenvolvido por Mussolini, entre outros ditadores da época, servia para mobilizar as massas, o que Salazar não queria fazer - assim como não queria gastar demasiado tempo a contactar directamente com a população. Mas precisava de explicar a certos sectores sociais o seu direito a governar, estabelecendo uma narrativa que tornasse clara a razão de ser do Estado Novo, e isto fez-se com base na sobrevalorização dos seus dotes e virtudes pessoais. Tal tarefa coube em primeiro lugar ao SPN, que foi alvo de críticas dentro do regime pelo seu custo financeiro. Mas Salazar defendeu sempre o trabalho de António Ferro, sobretudo a sua componente internacional.
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"Salazar tinha pouca confiança em Franco"
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Durante a Guerra civil de Espanha, em Abril de 38, Salazar reconheceu o Governo de Franco. Contudo, e apesar de autorizar a propaganda pró-falangista, recusou qualificar os Viriatos, voluntários recrutados em Lisboa, como uma força política. Porquê?
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Quem queria transformar os Viriatos numa força política era precisamente a ala mais radical do Estado Novo, que precisava duma milícia nova - a Legião já tinha sido domada pelo regime -, dotada duma mística própria, forjada no combate contra o inimigo "vermelho". Porquê? Porque queria transformar o Estado Novo em algo mais parecido com o regime franquista, ele próprio decalcado do italiano e do alemão. Os Viriatos seriam os "arditi" portugueses. Salazar não podia permitir tal coisa e sobreviver politicamente.
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O posicionamento de Salazar na Segunda Guerra Mundial continua debaixo de "mal-entendidos" e de leituras "deliberadamente distorcidas", defende. Diz que a tese de que Salazar era pró-nazi está mal sustentada nas relações conturbadas entre Portugal e os Aliados e na compra de armamento aos países do Eixo. Por que é que esta relação de causalidade é falaciosa?
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Precisei de dois capítulos para responder a essa pergunta. Para Salazar a guerra era uma catástrofe terrível, que punha em causa a "missão histórica" da Europa. Até ao Verão de 40 pensou que a melhor solução seria um entendimento entre os beligerantes, uma "paz branca". Foi depois surpreendido pela facilidade com que a França foi derrotada. Durante algum tempo pensou - e quem, no continente europeu, não pensou assim? - que a Alemanha tinha ganho a guerra, e que só a teimosia impedia Churchill de reconhecer a derrota. Não quer isto dizer que estivesse contente com o desfecho: longe disso. Foi uma época extremamente desgastante para Salazar, que tentou por todos os meios entender os contornos da "Nova Ordem" e o papel que esta reservava a Portugal - para não falar no esforço que fez para influenciar a política espanhola. Lentamente - mais lentamente do que Armindo Monteiro [então embaixador de Portugal em Londres] - entendeu que a Alemanha não poderia ganhar a guerra, pois esta tinha-se transformado numa contenda entre a Europa, parca em recursos estratégicos, e o resto do mundo. E a partir desse momento tentou convencer os Aliados ocidentais, cuja vitória desejava, a limitar os estragos, isto é, a travar o avanço da União Soviética, que ele receava ainda mais do que a Alemanha Nazi.
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Passemos ao armamento. Salazar preferiu, em regra, comprar armamento à Grã-Bretanha. Mesmo quando este era mais caro, ou de qualidade inferior, era para Londres que se virava. A modernização da Armada foi feita com base em navios britânicos, e o Governo comprou caças Gloster Gladiator quando estes já estavam totalmente ultrapassados pelos Spitfire desejados pela Aeronáutica Militar, mas reservados para a Royal Air Force. Porém, quando, após décadas de cortes orçamentais na Defesa, a Grã-Bretanha acordou para o perigo alemão, não estava em condições de vender a Portugal o que este queria. À frente de Portugal na fila estavam, para não falar nas próprias Forças Armadas britânicas, parceiros estratégicos que Londres queria manter na sua órbita. Portugal comprou armamento em Berlim porque precisava de o comprar (em parte porque o mundo se estava a tornar cada vez mais perigoso, mas também porque só munido de armas modernas o Exército aceitaria regressar às casernas) e porque Londres não lho vendia.
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Quanto às relações com os beligerantes, parece-me claro que Salazar podia falar sobre as políticas inglesa e americana de uma forma aberta, e por isso crítica, porque calculava que as suas palavras, necessárias à política interna, não provocariam um corte de relações. Com a Alemanha, a situação era diferente; todo o cuidado era pouco. A Grã-Bretanha podia desiludir Salazar, feri-lo com as suas acções, precisamente porque ele queria ter boas relações com Londres; da Alemanha nazi ele não esperava nada de bom. Com um país Salazar queria colaborar; com o outro apenas sobreviver.
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Para além de Salazar acreditar que uma eventual vitória da Alemanha poderia ser fatal para um país periférico e rural como Portugal, estiveram entre os motivos para a neutralidade os catastróficos resultados da participação na Primeira Guerra Mundial?
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Sempre me pareceu que sim. Salazar sabia que seria apoiado pela maioria da população se mantivesse o país fora de conflitos europeus. E sabia também que a participação na guerra estava muito além das possibilidades do Estado Novo: não só na sua vertente militar, mas também na organização da "frente doméstica", que tinha sido alvo de alguns escritos seus nos tempos de Coimbra.
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Uma investigação recente, de Manuel Ros Agudo, veio confirmar que Franco ponderou invadir Portugal. Até que ponto Salazar poderia desconfiar do plano franquista?
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Salazar tinha pouca confiança em Franco, e por vezes troçava dele. Eram personalidades opostas, com passados distintos. Mas Salazar sabia que para a Espanha a participação na guerra seria um sacrifício incomportável - um verdadeiro holocausto. Não se ignorava que a fome era uma realidade terrível em Espanha, que o país estava de rastos depois da guerra civil, que as prisões estavam a abarrotar e que a tensão entre a Falange e o Exército era uma constante. A Inglaterra fornecia a comida e o combustível que separavam a Espanha do abismo. Podia a Alemanha fazê-lo? Não. Por isso, a política de Salazar junto do Governo de Madrid era lembrar, com todo o tacto possível, esta realidade, assegurando o diálogo entre Franco e Churchill. Por outras palavras: era preciso falar ao cérebro de Franco, e não ao coração. Não foi fácil, mas funcionou.
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Não me espanta que tenham existido planos para a invasão espanhola de Portugal: surpreendente seria o contrário! Mas a sua descoberta apenas confirma o que já se sabia - que a tentação de participar no conflito era enorme. Parece-me que a importância destes planos é maior no contexto das guerras de memória histórica em Espanha do que no contexto português. Servem para demonstrar que Franco pensou a sério em entrar na guerra ao lado de Hitler e Mussolini, e se nisso pensou foi porque desejava a vitória do Eixo, contrariando assim a visão dos apologistas do ditador, que o dizem equidistante dos Aliados e do Eixo.
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Escreve que Salazar fez uma análise "incompleta" da situação europeia entre 39 e 45 e que as "motivações raciais e assassinas" do Terceiro Reich lhe terão escapado. Como se explica esta eventual falta de conhecimento?
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Há aqui muito espaço para investigações futuras. O problema é a falta de material sobre a Solução Final nos arquivos portugueses, a começar pelo Arquivo Oliveira Salazar. Foi-me impossível estabelecer o que Salazar soube sobre o extermínio dos judeus na Europa, e quando o soube. Mas tenho a impressão de que, até muito tarde, considerou Hitler como um estadista tradicional, movido por razões de Estado agressivas, repugnantes até, mas inteligíveis (a conquista de território e de recursos), tendo subestimado a componente racial e absurda da empresa nazi. Curioso também é o silêncio de Salazar sobre o Holocausto. Talvez tenha sido motivado pelo receio de municionar o inimigo ideológico durante a Guerra Fria; outra explicação é o receio de ofender a Alemanha, cujo ressurgimento, para Salazar, era uma certeza histórica.
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Durante a guerra, Salazar concentrou em si a maioria dos poderes de decisão. Este isolamento teve efeitos no regime?
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Sem dúvida. Tornou o Estado Novo mais dependente do fundador e minou ainda mais a autoridade de ministros e altas autoridades. Quem se insurgiu contra esta tendência viu a sua carreira política destruída. Carmona continuava a exercer uma tutela sobre Salazar, mas o que sabia Carmona que não tivesse passado primeiro pelas mãos de Salazar? Quase nada. A guerra teve outro efeito importante: conduziu à derrota da direita radical, que passou de porta-estandarte de uma ideologia triunfante a pária internacional. O Estado Novo é mais homogéneo a partir de 45; a luta de ideias no seu seio é menor, restando apenas a luta de interesses pessoais e económicos.
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Concorda com os historiadores que defendem que após a queda dos fascismos na Europa assistiu-se, em Portugal, a um processo de "desfascização" e inflexão nas instituições do regime?
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Concordo. Depois da guerra, Salazar pôde governar com maior facilidade. O Estado Novo tornou-se mais claramente o reflexo do seu fundador, e as resistências internas (no regime) diminuíram. A ameaça política da direita radical esfumou-se numa altura em que a Guerra Fria ajudou a justificar o lado repressivo. Era preciso apenas resistir a Marcelo Caetano e seus apoiantes, evitando a "promoção" à Presidência da República, e preservar os equilíbrios políticos e económicos de que dependia a estabilidade do Estado Novo. Porém, oponho-me frontalmente à ideia de que o Estado Novo da década de 30 é o genuíno, sendo o que se lhe seguiu uma cópia desbotada; parece-me até que só nos anos 50 é que Salazar começou a governar como realmente queria.
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É consensual a teoria de que o pós-guerra representou uma oportunidade dourada para a industrialização. Contudo, Salazar, dividido entre o ímpeto de Ferreira Dias e a contestação da oligarquia rural, optou por ceder a este último poderoso grupo. Porquê?
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Porque o poder político de Salazar assentava em parte sobre a sua capacidade de satisfazer grupos económicos com interesses por vezes contraditórios. Quando um destes manifestava o seu desagrado perante uma política anunciada, era tempo de rever essa política. E Salazar era muito mais forte em questões financeiras do que em matéria económica - daí, em parte, a fraqueza do corporativismo português. Por fim, entendia que mudanças económicas súbitas trariam consequências sociais que levariam a mudanças políticas: tendo em conta a agitação no pós-guerra, com o MUD e, mais tarde, a campanha de Norton de Matos, esta era uma questão de primeira importância. Industrialização significava um operariado maior. Já lhe chegava, em termos políticos e de segurança interna, um Barreiro! Por isso preferiu esperar.
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"Salazar herdou um colonialismo irrealista"
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Os primeiros anos de 50 coincidem com a publicação de "Férias com Salazar", um retrato suave escrito por Christine Garnier. Houve necessidade de recuperar e fortalecer o poder de Salazar no pós-guerra?
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"Férias com Salazar" foi um golpe de génio. Salazar conseguiu reafirmar, perante uma nova geração, as "verdades" do regime, as razões que o tinham levado a governar e a manter-se ainda, depois de tantos anos, no seu posto. Uma escritora francesa, que nada sabe sobre Portugal, chega, é conquistada intelectualmente (e não só) por Salazar e, em palavras aparentemente suas, que parecem ter sido escolhidas livremente (mas não foram), resume a vida e a obra de Salazar no tom mais elogioso possível, retratando-o e humanizando-o como nunca sucedera antes. Nada de cartazes, de manifestações, de secretariados de propaganda, de espalhafato; apenas um volume, de leitura fácil e rápida. Perfeito. Salazar precisava de renovar pontualmente a sua legitimidade e não dispunha de meios. Era necessária uma voz nova e aparentemente imparcial para tornar a apresentar os pontos essenciais do mito de Salazar, sobretudo o da renúncia aos prazeres mundanos. Essa voz foi a de Garnier.
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A candidatura independente de Humberto Delgado, porém, e o delírio nacional em torno das eleições representaram um forte revés para o regime. O que é que pode ter falhado?
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Muitas coisas falharam. Por um lado, o mundo estava em plena transformação, a começar pelo resto da Europa ocidental, cuja recuperação económica após a guerra foi fulminante. O Portugal descrito por Garnier - a última Arcádia - era uma fantasia. A pobreza, por vezes extrema, era uma realidade à qual Salazar era insensível. A modernização em curso tinha de ser controlada pelo Estado, de forma a minimizar as consequências sociais e políticas; tinha de haver progresso, mas não se queria pagar o preço da incerteza por ele causada. E tudo tinha de ser feito de acordo com a ortodoxia financeira ditada por Salazar. Quem viajasse, como Delgado fazia constantemente, quem pudesse comparar friamente Portugal ao resto do mundo ocidental, entenderia que a distância que os separava estava a aumentar por causa da lentidão do crescimento. Entenderia também que os custos humanos desta lentidão eram elevadíssimos. E porquê? Seria mesmo verdade que só Salazar era capaz de manter a paz social? Que Portugal não podia pagar a educação e alimentação de todas as suas crianças? Treze anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e mais de 30 anos depois do 28 de Maio, era preciso ainda suportar a PIDE, a censura e uma máquina administrativa insensível às necessidades da população e aberta a todos os tipos de abusos? Eram os portugueses assim tão ingovernáveis?
Delgado conseguiu levar estas questões ao eleitorado. Era o seu nacionalismo que o forçava a agir antes de o país se perder. Apresentou-se como um homem que tinha vencido o medo de dizer o que muitos pensavam. E conseguiu unificar as várias oposições, simplificando a escolha que se punha aos eleitores: ou ele ou Salazar. Não sabemos, pura e simplesmente, quem de facto eles escolheram.
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A partir de 1961, com a Administração Kennedy, Portugal sofreu maior pressão externa relativamente às políticas coloniais. Mas Salazar manteve-se irredutível, isolando cada vez mais o país.
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Na década de 30, foi atacado por ligar pouco à sorte dos territórios. E depois da guerra as críticas continuaram. Isto não quer dizer que Salazar não considerasse as colónias parte integrante de Portugal - desse mesmo Portugal cujo desenvolvimento ele estava disposto a retardar para manter a disciplina fiscal e a "Ordem". Não estava disposto a ser pressionado em relação ao Ultramar. A decisão de não começar a preparar a descolonização antes do início da guerra em Angola foi, sem dúvida, o maior erro de Salazar. Condenou o regime a continuar "in situ", imutável, até cair. Era impossível fazer uma transição negociada dada a guerra em África - mas também era impossível ganhar a guerra. Portugal era forte em África, como nunca o tinha sido; podia contar com o apoio da África do Sul (e, mais tarde, da Rodésia de Ian Smith); as economias de Angola e Moçambique iam de vento em popa. Este sentimento de força induziu-o em erro, levando-o a pensar que Portugal poderia resistir até ao resto do Ocidente mudar de opinião.
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As administrações norte-americanas não deixaram de tentar um eventual acordo entre Portugal e os movimentos de libertação, embora logo em 64 Washington tenha percebido que a autodeterminação das colónias seria impossível sem a mudança do regime. Seria necessária a alteração do regime ou bastaria um novo chefe do Governo?
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Portugal não se batia nas colónias apenas por vontade de Salazar; fazia-o porque se tinha tornado um caso único na Europa, um país em que o colonialismo continuava a ser uma política aceitável e desejável entre grande parte da elite governativa e militar, da Igreja Católica, e do resto da população. Não podemos esquecer que a emigração para o Ultramar acelerou depois do começo da guerra colonial. Não é nada óbvio que, se Salazar mudasse de opinião em relação à política em África, pudesse alterar o rumo de forma tão drástica e manter-se no poder. A tanto não chegaria a sua força.
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O Portugal de Salazar herdou da República e da Monarquia Constitucional um colonialismo totalmente irrealista. As colónias pareciam garantir a prosperidade e mesmo o futuro, mas eram, na realidade, um fardo. Estávamos em África desde o século XV, mas as campanhas de "pacificação" arrastavam-se ainda no século XX. Angola e Moçambique eram potencialmente riquíssimas, mas Portugal não tinha capital financeiro e humano. Éramos todos portugueses, mas havia portugueses de primeira e de segunda. A empresa colonialista dos séculos XIX e XX continha contradições que, com o passar dos anos, se foram tornando evidentes, levando a que países como a França e a Grã-Bretanha aceitassem a inevitabilidade da descolonização. O que aconteceu em Portugal, onde essas contradições eram ainda mais agudas, foi que o Estado Novo impediu que a situação fosse debatida. Podia discutir-se a melhor forma de colonizar, mas não o direito a fazê-lo. Passou-se de um período em que se receava que as colónias fossem absorvidas por um rival europeu (ou pela África do Sul) para um período em que se receava que se tornassem independentes. A resposta (recusar qualquer diálogo sobre o assunto) foi a mesma que tinha sido dada aos rivais coloniais dos anos 30, como se o problema também fosse o mesmo - mas não era.
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A base nacionalista do regime impunha tal resposta: eram as colónias que conferiam a Portugal a sua "grandeza", e que estabeleciam um elo vivo com um passado "glorioso". Mas havia outra razão. A partir dos anos 50 o Estado passou a dispor de recursos suficientes para impulsionar o desenvolvimento das economias coloniais. Foi com enorme frustração que se constatou que o resto da Europa tinha mudado de opinião quanto ao colonialismo. Tinha chegado a nossa vez de lucrar com o Ultramar, e estávamos determinados a fazê-lo.
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Já depois de nomeado Marcello Caetano, manteve-se a farsa em torno de Salazar, que julgava liderar o país. O que justifica esta encenação de dois anos?
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Este episódio - como a própria condição física e mental de Salazar entre 68 e 70 - é difícil de esclarecer. As contradições entre os vários testemunhos são imensas, talvez porque, durante a sua doença, Salazar teve períodos bons e maus, dias - ou horas dentro desses dias - de lucidez e dias de alheamento. Um Salazar consciente, por muito debilitado que estivesse, representaria sempre um perigo para Caetano, pois retirar-lhe-ia legitimidade e tornaria ainda mais difícil a implementação dos seus projectos de reforma.
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Está a pensar regressar ao tema daqui a alguns anos. O que lhe interessa ainda abordar?
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Não daqui a uns anos - daqui a muitos anos! Gostaria de compor um retrato mais pessoal, menos neutro, com menos preocupações académicas. Sou já mais velho do que Salazar era quando se tornou Ministro das Finanças, em 28, mas sinto-me demasiado novo para ajuizar da vida dele, ou de certas decisões, especialmente as que têm a ver com a insistência de se manter no poder. Quem é (relativamente) novo tem mais dificuldade em entender essa insistência. Mas o que podia Salazar fazer depois de se afastar de S. Bento? Voltar para o Vimieiro?
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Comentários
comentario 1 a 10 de um total de 25
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comentario01.09.2010 - 20:56 - José Gonçalves Cravinho, Holanda
Nesta entrevista com o autor da biografia de Salazar verifico que êle até dá a impressão de ter vivido nêsse tempo,o que é impossível dado a sua idade de 40 anos. Portanto as suas afirmações àcêrca da pessoa de Salazar,foram «bebidas» nalguma fonte mas será essa fonte fidedigna?Eu sou um simples trabalhador emigrante aqui na Holanda desde 1964 e já velhote (86 anos) e simplesmente digo o seguinte: A Pátria-Mãe p''ra mim madrasta/empurrou-me p''rà emigração/e maldita seja toda a Governação/que Portugal p''rà miséria arrasta.
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comentario01.09.2010 - 20:31 - jacdc, mtnfr
me desculpem a minha teimosia mas ja nao basta a corrupecao do poer politicovejam agora o que se esta a passar em maputo no tempo do salazar era o genocido falar de quem? do abstrato de gente que ja morreu e nao levanta nada vao me perdoar a minha ironia levantar o que? se nem dinheiro um dia destes teem dinheiro para pagar ao coveiro que o enterrou. por amor a deus este sr ja esta a pagar no inferno como muitos outros que em vida so fizeram mal e depois deixam testamentos para o bem da ciencia da cultura do desporto da educacao etc para curar fridas e deixar as suas familias livres de perigos nao passa de um mais ganhar uns vintens este livro
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comentario01.09.2010 - 19:59 - jacdc, mtnfr
o salazar ? biografia para que ? me desculpem mas se este homem hoje fosse vivo acontecia lhe o mesmo que o sa carneiro se calhar de maneira diferente morria no vazio dos cofres com falta de ouro quando os diamantes iam para outros paises . por favor lembrem se da pide lembrem sede tanta gente que emigrou forcada para nao combater numa guerra que nao dava nada era defender o que ainda hoje varios partidos defende o monopolismo a miseria o haver mais analfabetos o haver uma informacao enganosa e ver estes srs dos lugares cativos continuarem . me desculpe o povo que esta contra o que eu digo mas levantar um morto e facil mas enterrar e dificil e porque. porque isto que estao a fazer e levanta lo para ganherem dinheiro o pior e enterra lo porque ja nao ha dinheiro
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comentario01.09.2010 - 19:52 - Luis, Lisboa
Este artigo foi escrito sem conhecimento de facto... pois Jaime Nogueira Pinto já escreveu uma biografia de Salazar em 2007, com "António de Oliveira Salazar - O outro retrato". (A Esfera dos Livros, 2007) Ou então não se considera essa biografia de Jaime Nogueira Pinto, devido à sua conotação com a direita e com a face humana que ele demonstrou no livro que publicou.
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comentario01.09.2010 - 17:58 - Soares, Lamego
As diferenças do regime de Salazar e de hoje: Nesse tempo havia fome, pobreza, emprego, segurança, justiça e seriedade. Hoje: há fome, pobreza, não há emprego, segurança, justiça, nem moral. Afinal o que será que os verdadeiros portugueses querem?! Só para exclarecer: tive os mesmos previlégios que tenho hoje dos políticos, ou seja, zero! Não consigo é ser lacaio de ninguem. Se o antigo regime era fascista, hoje temos 2/1. Ou seja comunista e fascista ao mesmo tempo. É por isso que os Portugueses acham que estamos pior, já só os que comem à conta o defendem.
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comentario01.09.2010 - 16:54 - Anónimo, Lisboa
Após ler todos os comentários aqui feitos até agora, não posso deixar de verificar que se fala bastante da falta de liberdade existente na altura em que Salazar governava, das suas medidas drásticas, da morte de inúmeras pessoas inocentes, etc., etc. (possívelmente todos estes comentários foram feitos por pessoas que nasceram em 74 ou após!) mas não posso deixar de dizer que se existia falta de Liberdade na altura, o que será que existe agora em que alguém decide publicar algo relevante para a nossa história, e é logo criticado mesmo por pessoas que ainda nem sequer leram o livro!!! Falta de Liberdade e respeito pela opinião de outro?!? Parece-me que sim! Qualquer um é livre de escrever acerca do tema que lhe interessa sem ser ofendido, não concordam? Boas leituras com "MENTES ABERTAS" - Podemos não concordar com tudo o que lemos, mas podemos respeitar a opinião de outro.
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comentario01.09.2010 - 15:47 - Anónimo, Espinho
O compromisso de Portugal na defesa do ultramar teve as suas ori¬gens na procura de uma renovada grandeza de épocas passadas, como advogava a visão imperialista do governo de Salazar. As colónias africa¬nas dos nossos dias foram na sua maioria um fardo económica e politi¬camente irregular até à véspera das guerras, e até ao pós-Segunda Guerra Mundial apenas ofereciam promessas de benefícios económicos substan¬ciais. A oposição política a Salazar não era tolerada nem na metrópole nem no ultramar. Os abusos de longa data às populações africanas de Portugal criaram, pois, uma insatisfação generalizada, sem perspectivas de qualquer saída. Era inevitável uma explosão contra a intransigência de Salazar perante as reivindicações da população africana. Quando, em 1961, se deu essa explosão, os acontecimentos em Angola, juntamente com o golpe frustrado, o isolamento nas Nações Unidas e a queda de Goa, a situação criada levou Salazar a solidificar o compromisso do povo português na defesa das colónias e a preservar o seu regime. Este com¬promisso nacional foi o reflexo do seu próprio compromisso pessoal e da sua propensão para não tolerar qualquer oposição, particularmente por parte de movimentos nacionalistas aparentemente presunçosos e de ele¬mentos do seu próprio exército. Este sentimento era tão forte que desafiou qualquer voz da razão e impediu qualquer retirada ou acordo acerca dos assuntos africanos. As forças armadas e as riquezas portuguesas foram assim completamente empenhadas, enquanto manifestação definitiva desta promessa de fazer funcionar o sistema colonial dentro do conceito de império de Salazar. In - Contra-Insurreição em África, 1961 - O modo português de fazer a guerra. Jojn P. Cann. Edições Atena, Lda, pág.62
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comentario01.09.2010 - 12:58 - Domingos Peixoto, V.N.GAIA
Também vivi o antes e depois,e hoje vejo que não ganhamos nada com a troca, no antes havia emprego, havia segurança, havia respeito, havia honra, havia meia dúzia de pequenos comilões,e não se podia falar mal do governo, no depois por troca, pode-se dizer mal do governo, mas passou a haver um super desemprego, corrupção incontrolável,insegurança, desrespeito pela dignidade humana,e essencialmente um número muito elevado de comilões. Não sou um saudosista, mas se a situação governativa em Portugal se modificar, tambem não vou ter saudades.
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comentario01.09.2010 - 11:58 - rui, portugal
Na falta de personalidades hoje em dia vão-se entretendo com o Salazar.
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comentario01.09.2010 - 11:58 - rui, portugal
Na falta de personalidades hoje em dia vão-se entretendo com o Salazar.
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comentario01.09.2010 - 03:22 - Nuno Galhardo, Figueira da Foz, Portugal
1º Regra dos ditadores que muita gente ainda não percebe, principalmente quem defende Salazar: Só passa o que é positivo, a propaganda em tudo quanto é sitio e o que é negativo é abafado ao máximo, a censura fazia o muito bem o seu trabalho, Simples, como ninguém percebe... diz-se que ele era uma pessoa correcta, que nunca roubou o país, para mim foi o maior Ladrão que houve neste país, Roubou a liberdade, a inteligência, a economia, o progresso, os direitos humanos, a dignidade e a Honra Portuguesa, em que ainda hoje andamos a pagar as mentalidades retrógradas com Meio século de Fascista retro gado e egoísta. Deste sujo e perfundamente cobarde Salazar, em que na qual valia tudo para estar sempre no poder em que era obcecado a qualquer custo. A RTP referiu, O maior Português de sempre: VEGONHOSO, Salazar foi o maior assassino português de todos os tempos, Mandou apreender, espancar, torturar e Matar Milhares de Portugueses. Como é que alguém tem como referencia esta ''''coisa''''que nos apareceu... Há e tal, quando chegou, endireitou o país, que tava muito mal... Bem, como ele fez até a minha bisavô que nem sabia ler conseguia fazer o que ele fez... Se eu meter o exercito português a prender e espancar e Matar umas pessoas que se revoltam com algumas medidas que queira impor, toda a gente se cala e me dão razão...Enfim já tou um pouco farto de ver os salazarentos sempre a dizer com o Salazar aqui isto entrava na linha e tal... Esses deveriam ir 1 ano viver papa a Coreia do Norte, mudavam logo de opinião...
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comentario30.08.2010 - 17:15 - Anónimo, Lisboa
"Mas até 2009 ninguém ousou biografar António de Oliveira Salazar, morto em 1970." Morto?!? Morto por quem? Só se tiver sido pelo analfabetismo dos (re-)escritores contemporâneos... Nem era fascista e até na morte ele não teve culpa, einh...
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comentario01.09.2010 - 19:59 - jacdc, mtnfr
o salazar ? biografia para que ? me desculpem mas se este homem hoje fosse vivo acontecia lhe o mesmo que o sa carneiro se calhar de maneira diferente morria no vazio dos cofres com falta de ouro quando os diamantes iam para outros paises . por favor lembrem se da pide lembrem sede tanta gente que emigrou forcada para nao combater numa guerra que nao dava nada era defender o que ainda hoje varios partidos defende o monopolismo a miseria o haver mais analfabetos o haver uma informacao enganosa e ver estes srs dos lugares cativos continuarem . me desculpe o povo que esta contra o que eu digo mas levantar um morto e facil mas enterrar e dificil e porque. porque isto que estao a fazer e levanta lo para ganherem dinheiro o pior e enterra lo porque ja nao ha dinheiro
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comentario30.08.2010 - 12:36 - José Lemos Vale, Coimbra
Lê-se aqui que até 2009 ninguém ousou biografar Salazar. Como autor do livro "Guerra Colonial:As Razões de Salazar" publicado em 2009 pela editora Fonte da Palavra, gostaria de dizer que no meu livro procuro traçar um perfil psicológico de Salazar e do seu pensamento político, sobretudo no que se refere ao problema do Ultramar Português e concluir que Salazar não teve alternativa à Guerra Colonial, dado ter eclodido após os horrendos massacres no Norte de Angola em 1961. É certo que não é uma biografia no sentido do termo, mas os traços de personalidade e a justeza do seu pensamento político sobre a questão ultramarina, penso estarem bem tratados no livro que referi, do qual repito o título: "Guerra Colonial:As Razões de Salazar".
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comentario01.09.2010 - 19:52 - Luis, Lisboa
Este artigo foi escrito sem conhecimento de facto... pois Jaime Nogueira Pinto já escreveu uma biografia de Salazar em 2007, com "António de Oliveira Salazar - O outro retrato". (A Esfera dos Livros, 2007) Ou então não se considera essa biografia de Jaime Nogueira Pinto, devido à sua conotação com a direita e com a face humana que ele demonstrou no livro que publicou.
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comentario01.09.2010 - 20:31 - jacdc, mtnfr
me desculpem a minha teimosia mas ja nao basta a corrupecao do poer politicovejam agora o que se esta a passar em maputo no tempo do salazar era o genocido falar de quem? do abstrato de gente que ja morreu e nao levanta nada vao me perdoar a minha ironia levantar o que? se nem dinheiro um dia destes teem dinheiro para pagar ao coveiro que o enterrou. por amor a deus este sr ja esta a pagar no inferno como muitos outros que em vida so fizeram mal e depois deixam testamentos para o bem da ciencia da cultura do desporto da educacao etc para curar fridas e deixar as suas familias livres de perigos nao passa de um mais ganhar uns vintens este livro
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comentario31.08.2010 - 11:43 - Anónimo, Alcabideche
Salazar foi, sem dúvida, um grande economista que conseguiu encher os cofres do Estado, no entanto, tudo isso teve um enorme peso para o povo, noque diz respeito aos bens essenciais e à educação.
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comentario01.09.2010 - 12:58 - Domingos Peixoto, V.N.GAIA
Também vivi o antes e depois,e hoje vejo que não ganhamos nada com a troca, no antes havia emprego, havia segurança, havia respeito, havia honra, havia meia dúzia de pequenos comilões,e não se podia falar mal do governo, no depois por troca, pode-se dizer mal do governo, mas passou a haver um super desemprego, corrupção incontrolável,insegurança, desrespeito pela dignidade humana,e essencialmente um número muito elevado de comilões. Não sou um saudosista, mas se a situação governativa em Portugal se modificar, tambem não vou ter saudades.
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comentario01.09.2010 - 11:58 - rui, portugal
Na falta de personalidades hoje em dia vão-se entretendo com o Salazar.
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comentario31.08.2010 - 14:16 - Motuproprio, Amadora
Salazar entrou para o Governo quando o país atravessava um momento muito difícil, económica e politicamente. Conseguiu com mão de ferro endireitar as finanças públicas e encher os cofres do Banco de Portugal. Mas isso não fez dele um exemplar Ministro, pois fê-lo à custa da privação do povo e em 40 anos não deixou obra que o dignificasse. Posso mesmo dizer que o orgulho de Salazar de não ter entrado na 2ª Guerra Mundial, se traduziu num sofrimento do povo, maior que o do povo alemão:passou-se mais fome em Portugal do que na Alemanha Nazi. A filosofia económica de Salazar era igual à de qualquer provinciano, actual: come-se um prato de sopa e guarda-se o dinheiro que sobra. Foi nesta base idiota que Portugal" cresceu". Na ONU, quando Portugal falava pela boca do seu Ministro dos Estrangeiros, Rui Patrício, toda a gente ia fumar. Era intervalo e o dito falava sozinho. Um reinado para esquecer.Todos os ditadores são parecidos nos seus métodos. Não vejo diferença entre Salazar e Saddam Hussein.
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comentario01.09.2010 - 08:19 - Pierre Laramée, Londres UK
Vejo com tristeza que ainda ha quem tenha saudades de Salazar cujo poder é responsavel do atraso cronico de Portugal ao que se devem acrescentar todos os crimes fascistas : tortura, assassinatos, etc. Infelizmente o 25/4/74 nao criou o equivalente dum Nuremberga portugues para levar à prisao perpetua os criminosos do poder salazarista como Marcelo. Se fosse eu Salgueirao Maia, Caetano nao ia passear para o Brasil.
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comentario30.08.2010 - 18:54 - Antonio, Sal-é-Azar
A historia é feita na historia. Quer isto dizer que o que o senhor diz sobre o passado reflete o que se vive no presente. Pensem para onde caminha a europa e vejam porquê que os regimes fascistas ou para-fascistas estao a ser branqueados!
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comentario30.08.2010 - 21:04 - Miguel Leiria, São Mamede de Infesta
Ó Andreia de Lisboa, já agora podia informar-nos sobre quais são os muitos "avançados países gloriosamente democráticos e tolerantes" onde se vai para a prisão por ler livros. Só para não me meter em sarilhos.
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comentario31.08.2010 - 11:43 - Anónimo, Alcabideche
Salazar foi, sem dúvida, um grande economista que conseguiu encher os cofres do Estado, no entanto, tudo isso teve um enorme peso para o povo, noque diz respeito aos bens essenciais e à educação.
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comentario31.08.2010 - 11:33 - Anónimo, Natal - Brasil
De: Silvino Potêncio Abrimos o jornal "Público" de hoje e aceitamos comentar o anuncio de topo de pagina sobre o Professor Doutor Oliveira Salazar, na nossa modesta óptica de Emigrante Luso em Terras de Além Mar... mais tarde Terras de Além Europa, e por último, em Terras de Além Oceano Marron! Falar de homens (ou mulheres)enquanto figuras públicas ao serviço do Estado, e por consequência A SOLDO DA NAÇÃO... que representam todos nós Portugueses, em apenas algumas linhas, é exercício mental deveras condensado e por isso difícil de resumir com justeza de julgamento, e rectidão de informação. Maior tarefa será esta de dizermos algo deste cidadão, mas... aceitamos o repto porque a omissão, jamais se deve confundir com a Oh Missão de dizermos aquilo que nos vai na lma sob pena de passarmos pela vida omitidos dos outros e de nós mesmos! Biografias são sempre úteis, informativas, desde que elaboradas sem passionismos exacerbados sem demagogias nem ideologias de qualquer indole, muito menos destituídas de qualquer cunho politico partidário. Talvez por isso, nós e tantos outros "escribas" da nossa faixa etária, que sofremos na pele todas as influências do antes e do depois... do aqui e agora!... da implantação de novas ideias, da desestruturação de uma máquina administrativa pela substituição de uma outra que, pelo sua falta de estructura generalizada, acabou por se submeter ao bel-prazer de alguns Generais! Trocar o pijama civil por uma "farda" nem sempre usada por homens de bem, é tarefa árdua e o Povo leva anos para se acostumar, todavia relembrar momentos de Glória, feitos heróicos, acontecências de resultados positivos é algo bem mais prazeroso, e isso!... quando lembramos o Home de Santa Comba Dão, o Professor (por Direito emérito) o Doutor (por imposição honorífica conquistada pelo seu valor pessoal ao longo de uma carreira - demasiado longa para uns - muito breve para outros!)o Presidente do Conselho de Ministros do Estado Novo, o cidadão António de Oliveira Salazar, tudo fez para que isso jamais se esqueça. Os seus inimigos politicos, justamente por serem seus inimigos, minavam as suas defesas inexorávelmente, porém o temeram por sua capacidade de resposta! - Os seus Amigos, que no íntimo eram poucos porém em publico eram muitos, confessadamente adeptos das suas ideias e princípios, eles o admiraram - e ainda admiram!... por tudo que ele deixou em herança MATERIAL e ideológica. Aqueles que creram nele, na sua passagem além da Luz que nos ilumina no nosso trajecto planetário, continuam na cauda da sua Via Láctea em direção ao infinito da história de cada um, e rezam... que Deus o Tenha em boa Memória. Silvino Potêncio - O Home de Caravelas de Mirandela Autor de: Os Nïzcaros! ((...)) (...) (...)
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