quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A CAIXA DE PANDORA - FRANÇOISE ROY

por Carmen Montesino a Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010 às 23:43
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Abri sem malícia. Devem conhecer a curiosidade feminina. A caixa vinha fechada, mas a foice do destino tem o poder de arrebatar a luz do dia. E na granada da sua boca, a sorte convoca os seus demónios, enquanto me diz que eu e cada um de nós, que caímos como chuva neste lugar, somos também uma caixa.

Juntando forças, procuro voltar a fechá-la. É impossível. Um vórtice, aprisionado durante séculos no cântaro hermético, começa a subir das profundezas como um vento tempestuoso, levando no seu encalce seres que me habitam, desde um lupanar fechado à chave:

-um dragão com o frasco do elixir do esquecimento nas garras...
-uma sacerdotiza apregoando a iminência de um eclipse solar...
-um anjo negro e despido, com rasgos de sátiro, que se abana com ramos verdes
-anões numa forja
-vermes mancos, tortos ou sem patas
-almas penadas no cimo de um barco, com uma estátua de sereia, a ver passar um cometa

Abrir a caixa: Solstício de Inverno no Verão das minhas mãos imprudentes.

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Pandora 1873, by Alexandre Cabanel
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