Cultura
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Poeta Ferreira Gullar recebe hoje Prêmio Camões 2010
O poeta Ferreira Gullar recebe, nesta quinta (16), do Ministério da Cultura, em solenidade às 17h, no auditório da Biblioteca Nacional, no centro do Rio, o Prêmio Camões 2010. Gullar, que completou 80 anos na sexta-feira (10), vai receber 100 mil euros como premiação pelo conjunto de sua obra. O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, vai representar o ministro da Cultura, Juca Ferreira, na cerimônia.
Instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões é concedido anualmente a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.
A escolha de Ferreira Gullar ocorreu em maio, por um júri que se reuniu no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas brasileiros, o maranhense Ferreira Gullar (pseudônimo de José Ribamar Ferreira) é também crítico de arte e ensaísta e foi um dos fundadores do movimento neoconcretista. Tem mais de 15 livros de poesia publicados, entre eles A Luta Corporal, Poema Sujo e Em Alguma Parte Alguma, lançado este ano.
O primeiro escritor brasileiro a receber o prêmio foi o também poeta João Cabral de Melo Neto, em 1990. Desde então, mais sete autores nacionais foram agraciados com o Camões, que também premiou escritores de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Fonte: Agência Brasil
A escolha de Ferreira Gullar ocorreu em maio, por um júri que se reuniu no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas brasileiros, o maranhense Ferreira Gullar (pseudônimo de José Ribamar Ferreira) é também crítico de arte e ensaísta e foi um dos fundadores do movimento neoconcretista. Tem mais de 15 livros de poesia publicados, entre eles A Luta Corporal, Poema Sujo e Em Alguma Parte Alguma, lançado este ano.
O primeiro escritor brasileiro a receber o prêmio foi o também poeta João Cabral de Melo Neto, em 1990. Desde então, mais sete autores nacionais foram agraciados com o Camões, que também premiou escritores de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Fonte: Agência Brasil
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grande poeta
16/09/2010 16h38
Ferreira Gullar povoou minha adolescência de belos poemas de revolta e luta. Dentro da Noite Veloz é um dos melhores livros de poesia revolucionária já escrito. A morte do Che, a luta do povo do Vietnam, a resistência brasileira à ditadura, o amor. O Poema Sujo, de um só fôlego, para mim está entre os mais belos poemas já escritos. Pena que este gajo deu de cair para a direita com uma fúria incomum. Tomara que não chegue o dia que nos pedirá para esquecer o que escreveu. NeyNey GyrãoPorto Alegre - RS.____..
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TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?.Ferreira Gullar
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"Dois e Dois são Quatro"
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena...Ferreira Gullar
.Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento...Ferreira Gullar
..Metade
Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.
E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.
Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também..Ferreira Gullar
.. A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
Ferreira Gullar..Nova Canção do Exílio
Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos..Ferreira Gullar
.."A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz"..ferreira gullar
Ferreira Gullar
Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (nasceu dia 10 de setembro de 1930, em São Luis, Maranhão, Brasil); poeta brasileiro.
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