segunda-feira, 20 de abril de 2020

William Shakespeare - Sempre que, debatendo no mais doce silêncio,

* William Shakespeare


Sempre que, debatendo no mais doce silêncio,
Convoco na memória tudo o que foi passado,
Suspiro pela ausência do que foi desejado
E assim gasto o meu tempo valioso em velhos prantos.

E os meus olhos se afogam, eu, que mal sei chorar,
Por amigos perdidos na morte sem idade,
E torno a lamentar amores antes sarados
E pranteio por tudo o que gastei do olhar.

Posso sofrer então por sofrimentos idos,
Contar de mágoa em mágoa, da forma mais dorida,
A minha triste história de queixas mais antigas

Cobrando, nova, a história, como nunca cobrada.
Mas quando, amigo meu, me vens ao pensamento
Recuperam-se as perdas e finda o sofrimento.

Soneto 30, tradução de Ana Luísa Amaral, inserido na colectânea “31 Sonetos” de William Shakespeare, publicado pela Relógio D’Água

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