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Escrito por Dom Paulo Sérgio Machado, bispo diocesano 09-Mai-200809-Mai-2008 | |
PALAVRA DO BISPO Qual é a herança que estamos deixando para os nossos filhos? Estamos passando para eles, pelo nosso testemunho, o amor à vida, a alegria e a esperança tão necessárias? Que tipo de fé nós estamos comunicando?
Infelizmente há muita gente que adota esta “filosofia” de vida, alicerçada na famosa declaração de Luis XIV, o Rei Sol: “Après moi le déluge” (“depois de mim o dilúvio”), isto é, “depois de mim o mundo pode se acabar, o que importa sou eu”. Foi, na verdade, uma infeliz declaração que bem poderia figurar no rol das frases (mal) ditas, mas, convenhamos, seríamos ingênuos se pensássemos que este é um pensamento isolado. Ledo engano! Há milhares de pessoas que compartilham o pensamento de Luis XIV. Talvez usassem uma expressão diferente como “tô nem aí” ou “o mundo que se dane!”. Que mundo estamos construindo ou que herança estamos deixando para os nossos filhos? Vivemos num tempo em que as ações são desencadeadas mais tendo em vista o imediato do que o duradouro. A impressão que se tem é de que o homem não tem mais paciência de esperar, aquela virtude tão necessária ao agricultor e tão característica do pescador. O agricultor que não sabe esperar não planta e, se planta, colhe antes da hora e põe a perder o seu trabalho. O pescador que não tem paciência nada vai pescar, pois o peixe não tem hora e pode demorar a chegar. O mundo (e consequentemente o homem, motor desse mundo) está mais preocupado com o “ter” do que com o “ser”, com o “hoje” do que com “amanhã”, com o “estético” do que com o “ético”. Para ele, o que conta é o “agora”, o “já”, daí ser definido como imediatista. E, o que é pior, ao imediatismo se soma o individualismo: o que conta é a defesa dos próprios interesses. É um mundo “egocêntrico” que só sabe conjugar o verbo na primeira pessoa do singular, deixando-se conduzir por uma estranha matemática: eu + eu = eu. Esta aí a razão de tantos casamentos desfeitos; a explicação para tantas “depressões” e “desajustes sociais”. O homem ainda não conseguiu sair da “casca do ovo” para se encontrar com o “outro”. E, não se encontrando com o “outro”, muito menos com Deus ”. É vivendo junto com os outros e, como eles, que aprendemos a viver. A convivência não pode ser vista como arte de acomodar interesses pessoais imediatos. Daí o desafio de conviver. Na verdade, viver é fácil. O difícil mesmo é conviver, isto é, “viver com”. Isto exigirá de nós uma certa dose de altruísmo que, à luz da fé, vai se transformando em Caridade. Que mundo nós estamos construindo? Esta é uma pergunta incômoda, pois exige de nós uma resposta sincera. Pensemos, pois, numa forma moderna, atualíssima, não individual, mas compartilhada: a destruição da natureza. Deus fez o mundo em sete dias e o homem quer destruí-lo em igual tempo. Caem florestas, ano após ano, decoradas por moto-serras inescrupulosas e gananciosas; rios, lagos e mares poluídos tornam-se, cada dia mais, fontes de morte ao seu redor; a atmosfera, ferida pelas emissões de tóxicos... E, poderíamos continuar esta trágica exemplificação. Qual é a herança que estamos deixando para os nossos filhos? Estamos passando para eles, pelo nosso testemunho, o amor à vida, a alegria e a esperança tão necessárias? Ou, pelo contrário, estamos nos deixando contaminar pela desesperança, “entregando os pontos”, engrossando o número dos que pertencem à confraria dos braços cruzados, constituída por uma legião de cidadãos demissionários, que atiram os remos ao fundo do barco? Se for esta a nossa atitude, poderemos fazer coro ao que disse Luís XIV: “Après moi le déluge”.
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