segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sebastião da Gama e Casimiro de Brito - Poesia

Assunto: SEM TÍTULO
Data: 15/Jun 10:38

Nasci p'ra ser ignorante
Mas os parentes teimaram
(e dali não arrancaram)
em fazer de mim estudante.
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Que remédio? Obedeci.
Há já três lustros que estudo.
Aprender, aprendi tudo,
mas tudo desaprendi.
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Perdi o nome às Estrelas,
aos nossos rios e aos de fora.
Confundo fauna com flora.
Atrapalham-me as parcelas.
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Mas passo dias inteiros
a ver um rio passar.
Com aves e ondas do Mar
tenho amores verdadeiros.
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Rebrilha sempre uma Estrela
por sobre o meu parapeito;
pois não sou eu que me deito
sem ter falado com ela.
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Conheço mais de mil flores.
Elas conhecem-me a mim.
Só não sei como em latim
as crismaram os doutores.
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No entanto sou promovido,
mal haja lugar aberto,
a mestre: julgam-me esperto,
inteligente e sabido.
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O pior é se um director
espreita p'la fechadura:
lá se vai licenciatura
se ouve as lições do doutor.
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Lá se vai o ordenado
de tuta e meia por mês,
Lá fico eu de uma vez
um Poeta desempregado.
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Se me não lograr o fado,
porém, com tais directores,
e de rios, aves e flores
somente for vigiado.
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Enquanto as aulas correrem
não sentirei calafrios,
que flores, aves e rios
ignorante é que me querem.
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SEBASTIÃO DA GAMA
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EM ANEXO, UM BEIJO!
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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)

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DO POEMA
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O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes —
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o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.
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CASIMIRO DE BRITO

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