* Victor Elias
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Já havia lido esta história de vida, e acredito que haja para ali qualquer coisa mal explicada, pois o cavalheiro autor da história terá estado 15 meses e não 25 em Angola. Como é dito que esteve de Fevereiro de 1973... teria terminado em Maio de 1974 e não 75.
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Depois... está mal explicado o seguirem 30 homens para a CCS - a 30 kilómetros do aquartelamento da Companhia - em viaturas sem ninguém que conhecesse a zona. Por aquela altura já havia muitos militares que estavam familiarizados com as picadas angolanas... para mais sendo a sua missão acompanhar o MBL - organização civil de camionistas que tinha por missão o transporte de bens para os Militares.
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Deitar as rações de combate fora, porque se não gostava delas é de meninos queque que vão para a guerra acompanhados de criado de quartos e cozinheira, com um graxate preparado para lhe dar brilho às botas. Gostava de vêr estes soldadinhos de chumbo a fazerem a barba a seco, sem espuma ou sabão para a mesma, a comerem carne de macaco assada na brasa e chamarem a isso um petisco, um manjar dos deuses ou o que se possa chamar à única hipótese encontrada para se levar qualquer coisa comestível à boca, tal como se chegava a comer cobra, cozinhada segundo o método local:- corta um bom bocado do lado da cabeça e igual do lado da cauda. Do que fica, depois de esfolado e temperado com um pouco de gindungo, enfia-se num pau entretanto descascado e leva-se ao lume. E bom apetite!
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Agora haver meninos que passam fome porque não gostam de ração de combate... tomaria apanhá-la quando não havia de comer! Tive camaradas de armas que estiveram vários meses a alimentar-se de rações de combate... e não morreram!
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A fome é de três dias e dá alguma imaginação que leve a procurar que comer... nem que sejam bananas, e estas existiam na zona de Maquela do Zombo!
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Tinham os rádios avariados... mas deu para saberem as notícias do que tinha acontecido nesse dia 25 de Abril com a revolução dos Capitães. Está explicadinho o que terá acontecido: - Com a revolução dos Capitães não temos mais nada a fazer aqui! Vamos regressar à CCS e aguardar o regresso ao "Puto". E devem ter esgotado os stockes de cerveja da cantina, o vinho tranportado pelo MBL, a suruma adquirida na sanzala... e que mais? Depois estavam com as forças esgotadas, mas não foi pela fome por se terem perdido!
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Que raio de militares estes que nem sabiam se as armas estariam em condições para serem usadas, caso houvesse algum ataque? Que comandante teriam estes briosos militares que permitiam que os seus rapazes passassem o dia a jogar à lerpa, em vez de estarem a contribuir para o esforço de guerra?
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Não utilizem estes contadores de histórias o termo "voluntários" quando referem os informadores, porque os Voluntários foram uma força de Polícia Rural que fez muito pelas populações, sendo em muitas ocasiões o seu Anjo da Guarda. Ainda está por contar a verdadeira história de Homens que deram o melhor de si mesmo, como Voluntários ao serviço da Pátria Portuguesa.
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Há muitas histórias por contar, muitos segredos por desvendar, muitas contas para acertar, mesmo tendo passado já tantos anos após as independências das antigas Colónias. Do lado de lá, tanto quanto nos chega aos ouvidos, há uma tentativa de responsabilizar os Portugueses por todos os males que afectaram África nos 150 últimos anos! Somos os causadores do que é e do que não é, do que foi e do que haveria de ser, da seca e das inundações, da febre amarela, preta ou cor-de-rosa, dos lixos que não são apanhados em Luanda e dos que o são! Há sempre o recurso ao Português como causa de tudo o que de mau acontece aos angolanos. Mesmo que tenha havido mãozinha de outras gentes... é a herança colonialista que está em causa.
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E os nossos antigos militares nem se apercebem que dão tiros nos pés quando dão de bandeja os motivos para os antigos colonizados manterem o dedo apontado a Portugal!
Se não sabem o que estão a dizer... o melhor é estarem calados!
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Victor Elias - Sintra
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