quinta-feira, 9 de julho de 2009

“O Planalto e a Estepe” – Pepetela


04/05/2009 - Rui Azeredo


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“O Planalto e a Estepe”, do angolano Pepetela, lançado em Abril de 2009 pela Dom Quixote é, sem surpresa, um livro belíssimo, que se lê quase de um fôlego e que faz jus à capa, daquelas que dá logo vontade de pegar no objecto-livro e folheá-lo.

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A verdade é que a capa merece o miolo e vice-versa. Quem se deixa deslumbrar pela capa não fica desiludido com o que encontra lá dentro, embrulhado em frases coloridas, vivas, quentes, saborosas, mesmo quando relatam situações de tristeza, de drama, de sofrimento. E isso não falta em “O Planalto e a Estepe”, uma história que começa em Huíla, nos Sul de Angola, nos anos 60, e atravessa os tempos até à actualidade, depois de passar pela União Soviética, Mongólia, Argélia e Cuba.

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A descrição dos tempos de meninice de Júlio (o protagonista), logo no início do livro, é das partes mais belas do livro, quando ainda tudo era puro e só havia as brincadeiras, as descobertas, a harmonia, envolvidas naquele acolhedor ambiente africano/angolano, junto da Tundavala.

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É uma história de amor, inevitavelmente, baseada em factos verídicos, entre um homem (Júlio) e uma mulher (Sarangerel), entre esse homem e uma filha que lhe é levada antes de nascer. É uma história de um amor impossível porque vivido numa época e num contexto em que as ideologias estavam acima dos indivíduos e das suas necessidades mais íntimas. É a história de um angolano, branco, filho de português, que se apaixona por uma rapariga mongol quando ambos estudam em Moscovo, na União Soviética. Era um amor proibido, nomeadamente porque ela era filha de um alto dirigente da Mongólia e tinha reservado (ou idealizado) um futuro com alguém importante do seu país. Mas o amor por João, e uma gravidez inesperada, espoletam uma série de acontecimentos que levam ao afastamento de Sarangerel, resgatada de novo para o seu país. Na União Soviética, Júlio não encontra apoio para a sua causa, recuperar a mulher e a criança que com ela partiu para a Mongólia. Outros interesses se levantavam, nada poderia importunar as relações entre soviéticos e os seus parceiros mongóis. Pôde contar com a solidariedade dos seus colegas de estudo, mas ninguém teve força para derrubar os interesses e preconceitos dos soviéticos e dos seus aliados estratégicos. Tudo em nome do colectivo, que assim abafou as individualidades. Já antes disto, Júlio, em conversas com os seus amigos estudantes oriundos de outros países amigos do regime soviético, chegara à conclusão que o idealismo que surgia ligado ao comunismo não passava disso mesmo, de idealismo. Na prática, a tão desejada igualdade não passava de uma ficção, ensombrada, nomeadamente, pelos espiões internos que havia ente os próprios estudantes, sempre atentos a ver se os outros seguiam os preceitos desejados.

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É portanto uma obra sobre a desilusão face a um regime que se autoproclamava quase de perfeito mas que final vivia submerso nos mesmos vícios dos que criticava. Os mesmos vícios, modos diferentes de os viver.

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Esses podres tornaram-se mais evidentes com o desmoronar da União Soviética, mas aí era tarde para Júlio reencontrar o(s) seu(s) amor(es) perdido(s).

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Seguimos então o percurso de Júlio até se tornar um militar de carreira do MPLA, o que nos serve para em paralelo seguir o percurso da própria Angola, um percurso muitas vezes questionado pelo protagonista.

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A descrição dos tempos de meninice de Júlio, logo no início do livro, é das partes mais belas do livro, quando ainda tudo era puro e só havia as brincadeiras, as descobertas, a harmonia, envolvidas naquele acolhedor ambiente africano/angolano, junto da Tundavala.

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in porta livros.wordpress

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