domingo, 12 de julho de 2009

Eu falo das casas e dos homens - Adolfo Casais Monteiro

Assunto: ...TODOS IGUAIS, TODOS IRMÃOS...
Data: 12/Jul 15:58

NUNCA MAIS ME DIGAM QUE NÃO É COMIGO....E QUE NINGUÉM AFIRME QUE NADA POSSO MUDAR. DENTRO DE MIM ESTÁ O MUNDO....TODO...INTEIRO, SOBRETUDO O QUE NÃO TEM VÓZ E O QUE NÃO TEM DONO. DENTRO DE MIM DÃO-SE AS MÃOS E SORRIEM...PORQUE NÃO O MESMO CÁ FORA?...DEIXEM-SE DE TEORIAS TOLAS DE QUE EXISTE O PROVOCADOR E O PROVOCADO O RICO E O POBRE, E QUE AQUELE SEMPRE POSSUIRÁ ESTE. O MUNDO FOI FEITO POR IGUAL - MESMOS SERES, MESMOS RISOS,MESMAS LÁGRIMAS, MESMAS CRIANÇAS. QUEM SOIS VÓS PARA ALTERAR O QUE O INFINITO CONSTRUIU? NÃO SEREI EU A SUJAR MINHAS MÃOS NO VOSSO SANGUE VISCOSO.SOU AVESSA AO SANGUE E Á GUERRA. RECOLHEI AOS VOSSOS CASULOS, LARVAS, FICAI POR LÁ ETERNAMENTE E DEIXAI SER O MUNDO COMO FOI IMAGINADO - TODOS IGUAIS, TODOS IRMÃOS. CALAI VOSSA BOCA - NÃO SOU LOUCA, NÃO!

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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)

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EU FALO DAS CASAS E DOS HOMENS
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Eu falo das casas e dos homens,
dos vivos e dos mortos:
do que passa e não volta nunca mais.. .
Não me venham dizer que estava materialmente
previsto,
ah, não me venham com teorias!
Eu vejo a desolação e a fome,
as angústias sem nome,
os pavores marcados para sempre nas faces trágicas
das vítimas.
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E sei que vejo, sei que imagino apenas uma ínfima,
uma insignificante parcela da tragédia.
Eu, se visse, não acreditava.
Se visse, dava em louco ou em profeta,
dava em chefe de bandidos, em salteador de estrada,
- mas não acreditava!
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Olho os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa...
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Deixai-me chorar - e chorai!
As lágrimas lavarão ao menos a vergonha de estarmos vivos,
de termos sancionado com o nosso silêncio o crime feito instituição,
e enquanto chorarmos talvez julguemos nosso o drama,
por momentos será nosso um pouco do sofrimento alheio,
por um segundo seremos os mortos e os torturados,
os aleijados para toda a vida, os loucos e os encarcerados,
seremos a terra podre de tanto cadáver,
seremos o sangue das árvores,
o ventre doloroso das casas saqueadas,
sim, por um momento seremos a dor de tudo isto. . .
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Eu não sei porque me caem as lágrimas,
porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
eu que estou na minha casa sossegada,
eu que não tenho guerra à porta,
- eu porque tremo e soluço?
Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?
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Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:
as ruas são ruas com gente e automóveis,
não há sereias a gritar pavores irreprimíveis,
e a miséria é a mesma miséria que já havia...
E se tudo é igual aos dias antigos,
apesar da Europa à nossa volta, exangüe e mártir,
eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente,
sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos,
sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta,
uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada...
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ADOLFO CASAIS MONTEIRO

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