quarta-feira, 29 de julho de 2009

Poemas Manuel Bandeira


Edição: 16ª
Formato: 14x21
Nº de Páginas: 160
ISBN: 85-260-0343-7

Melhores Poemas Manuel Bandeira

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Autor - Manuel Bandeira
Seleção e Prefácio - Francisco de Assis Barbosa

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Manuel Bandeira se dizia um poeta menor. Mas Carlos Drummond de Andrade, que sabia das coisas, considerava-o "o poeta melhor que todos nós, o poeta mais forte". Exagero de amigo? Talvez. Mas discreto, na justa medida em que o permite a justiça e a amizade.

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Manuel Bandeira nasceu em Recife, PE, em 1886. Tuberculoso, foi tratar-se na Suíça, regressando ao Brasil em 1917. Neste mesmo ano publica A Cinza das Horas, seguido de Carnaval (1919), livros renovadores e modernos, antecessores do modernismo. O que levou Mário de Andrade, alguns anos depois, a chamar o poeta de São João Batista da Nova Poesia.

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Nestes livros, como em toda a obra posterior, o poeta se mostra simples, coloquial, irônico. E irreverente, em poemas como Os Sapos, nos quais satiriza os parnasianos. Ou em versos como "Quero beber! Cantar asneiras", levando um crítico da época a dizer que já realizara seu desejo. Outra constante: a nota autobiográfica e confessional, presente em seus versos mesmo quando o tom é impessoal. E a simpatia pelos seres e aspectos humildes da vida, para os quais a maioria dos poetas não tem olhos de ver: o gatinho fazendo xixi, os meninos carvoeiros, o camelô "dos brinquedos de tostão".

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O verso livre passa a predominar a partir de O Ritmo Dissoluto (1924). O poeta alcança a plenitude em Libertinagem (1930), obra madura, equilibrada, um tanto pessimista, na qual se aguça o ceticismo e a descrença em relação aos valores humanos. Os livros seguintes, repletos de poemas admiráveis, mostram que o poeta não conheceu a decadência. Pelo contrário, teve forças para se renovar aos 50 anos e se interessar pelo concretismo, já na velhice. Faleceu em 1968, aos 82 anos, preparado para A Viagem Definitiva: "Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros/ cantando./ E ficará o meu jardim com sua árvore verde/ e o seu poço branco".

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Temas principais
Poemas


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Manuel Bandeira
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João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
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Poética
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Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
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Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
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Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
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Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
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- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
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Desencanto
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Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
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Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
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E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
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- Eu faço versos como quem morre.
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Arte de Amar
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Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
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Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

.Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
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Quando estás vestidas,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.
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(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.
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Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite
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O último poema
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Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
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A morte absoluta
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Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
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Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
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Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
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Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
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Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."
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Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.
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compiladas por Luis Rodrigues -

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ler também:
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Manuel Bandeira: uma poesia da ausência - de Yudith Rosenbaum - 1993 - Literary Criticism - 207 páginas

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