Cultura
Em 2010, as correspondências — em forma de poesia de cordel — trocadas entre Dona Idalzira, Joan Edesson e Zerivan foram selecionadas e publicadas no livro: Cordel Umbilical. Além de revelar o universo e as sensações vivenciadas por seus autores, as cartas também declaram o imenso amor que existe entre eles. Posteriormente, a neta Geórgia também passa a participar da troca de cartas, e mantém o nível poético das cartas. Acompanhem abaixo algumas destas correspondências poéticas.
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Carta de Idalzira para Joan
Minha casa era hospedagem
Dos que moravam por fora
Homem, criança e senhora
Faziam camaradagem
Todos fizeram viagem
Em busca de outro torrão
Deixando meu coração
Cheio de saudades somente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Foram embora meus cunhados
Meus sobrinhos, meus amigos
Foram enfrentar os perigos
Que existe em outros estados
Hoje estão espalhados
Me dando recordação
Vivo nesta solidão
Velha, cansada e doente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Fomos quatro irmãos unidos
Todos morando por perto
Porém Jesus achou certo
Que ficássemos divididos
Por isto fomos escolhidos
Para esta separação
A mana do coração
Foi embora primeiramente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Também um filho casado
Minha nora carregou
Meus netos também levou
Acabou o meu passado
Vi o mundo fracassado
Cheio de tanta ilusão
Pus a caneta na mão
Escrevi rapidamente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Evandy saiu primeiro
Para fora trabalhar
Depois pôde carregar
Joan que é rapaz solteiro
Erivam foi derradeiro
Todo cheio de razão
Edvany disse: assim não
Vou casar ligeiramente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Primeiro foi Evandy
Que era meu braço direito
Porém Deus achou bem feito
Levá-los todos daqui
Erivan, Joan, Edvany
Foi grande a separação
Só que não suporto não
De todos ficar ausente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
O cancão, meu grande amigo,
Canta e pula sem parar
O gato fica a miar
Pensando que não lhe ligo
Porém baixinho lhe digo
Não tenha ciúme não
Que é grande meu coração
Amo a todos igualmente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Hoje é meu aniversário
Mas me sinto muito triste
Não sei como se resiste
Um viver tão solitário
Tá parecendo um calvário
Sexta-feira da Paixão
Porém a ressurreição
Pode chegar de repente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Cedro, 20 de agosto de 1990
Carta de Joan para Idalzira
Sei que muito bom seria
Se nós pudéssemos viver
No mais completo prazer
Na mais repleta alegria
Eu de casa não saía
Não deixava o meu sertão
Pra viver na solidão
Neste lugar tão pacato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
A gente não abandonou
Nossa casa por vontade
Mas porque a necessidade
É mais forte e nos obrigou
Tanto que a gente chorou
Quando da separação
Doeu nosso coração
Para fazer esse ato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Lembre-se Mamãe querida
Que um dia também deixou
A casa do meu avô
Para viver sua vida
Mesmo chorando a partida
Soube agir com a razão
Foi triste a separação
Mas consumou-se o fato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Se Edivam foi embora
Foi pra vida melhorar
Portanto não vá botar
A culpa na sua nora
Eu sei bem que a senhora
Tem muita recordação
De que o nosso torrão
Foi com ele muito ingrato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Edvany, na verdade
Foi cumprir a sua sina
Já não era mais menina
E queria a felicidade
Aí ou em outra cidade
Se for embora ou não
Deixando o nosso rincão
Não vai perder o contato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Eu, Erivan e Didi
Não esquecemos da senhora
Mas é que chegou a hora
De nós sairmos daí
Erivan e Evandy
Buscam outra posição
Melhorar de situação
Eu acho isso exato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Sua irmã e seus conhecidos
Tiveram que se afastar
Mas por isso não vá pensar
Que eles estão esquecidos
Dos bons momentos vividos
Aí em nosso torrão
Eu sei que o seu coração
Também sofre com o mau trato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Lembre, o meu padecimento
É parecido com o seu
Fique sabendo que eu
Vivo no maior tormento
Pois todo dia lamento
Esta minha situação
Pra aliviar a solidão
Não tenho nem seu retrato
Nem a companhia de um gato
Muito menos de um cancão
Acaraú, 23 de agosto de 1990
Mote glosado por Erivan
Nasci em setenta e três
Em um quatro de abril
Nesse dia o céu floriu
O sol mudou sua tez
Relato agora a vocês
Podem ter toda certeza
Ganhei o dom da beleza
E não quis o da mentira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Desde pequeno provei
Toda minha inteligência
Sempre tive consciência
De mentir nunca gostei
Sempre, sempre procurei
Me comportar com presteza
Para provar com clareza
De que braços eu saíra
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Não me meto em confusão
Nunca fiz pirataria
Não gosto de valentia
Nunca soltei palavrão
É herança de vovô João
Que nunca teve afoiteza
Nem gostou de safadeza
Porém no toque da lira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Nunca ninguém me avistou
Com intriga ou com zuada
Nunca fui de palhaçada
Pois mamãe já me avisou
Que eu mostrasse o meu valor
Trabalhando com firmeza
E que na vida a nobreza
Fosse sempre minha mira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Não gosto de arruaça
Bagunça nunca gostei
Os Bezerra sempre honrei
Sem nunca fazer pirraça
Meu rumo levo na raça
No verso tenho destreza
Na poesia sou alteza
Sou rifle que muito atira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Trago no sangue a poesia
Herança do meu avô
Minha mãe me repassou
Essa nobre primazia
E eu recebi com alegria
Esta sua gentileza
Tenho hoje esta certeza
Minha mãe é quem me inspira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Rimo em quadra e em quadrão
Em martelo e em galope
Minhas rimas dão ibope
Em qualquer celebração
Rimo amor com coração
E rimo dor com tristeza
Rimo sertão com pobreza
E gente ruim com mentira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Minha mãe é orgulhosa
De ter um filho poeta
Que faz poesia correta
E rimas maravilhosas
Que tira motes e glosas
Com maestria e firmeza
Eu sou a pedra turquesa
Minha mãe é uma safira
Sou filho de Idalzira
Poeta por natureza
Fortaleza, 30 de outubro de 1991
Carta de Idalzira para Erivan
Bom dia filho querido
Como é que vai você
Trinta dias sem te ver
É um tempo muito comprido
Faz-me mudar o sentido
E me dar perturbação
Me transtorna o coração
Mas aproveito o espaço
Para mandar-te um abraço
E a minha saudação
Mando também um beijão
E votos de felicidades
Fico com muitas saudades
Pois tenho minha razão
Aqui nesta solidão
Não tenho mais alegria
Me recordando o dia
Que me deixaste sozinha
Hoje mando esta cartinha
Deixando a segunda via
Esta natureza cria
Muita coisa diferente
Carrega os filhos da gente
Deixando na nostalgia
Só as mães sofrem agonia
Por verem os filhos distante
Mesmo sendo estudante
Procurando a melhora
Porém a mãe sempre chora
Sem esquecer um instante
Eu vejo no teu semblante
A falta do próprio lar
Como eu queria te dar
O meu convívio constante
Porém vivo bem distante
Já com pouca esperança
Pois ainda era criança
Quando daqui foste embora
Mas peço a nossa senhora
Que te dê perserverança
Com a fé tudo se alcança
Assim o provérbio diz
Eu quero te ver feliz
Cheio de paz e esperança
A vida é uma balança
Pendendo de lado a lado
Você é um felizardo
Tem uma mãe que te adora
Que muita vez até chora
A falta do filho amado
Eu sempre tive o cuidado
De lhe dar o bom conselho
De lhe servir de espelho
Lhe mostrando o meu passado
Quem respeita é respeitado
Nisto pode acreditar
Só aprende se estudar
Só vence quem quer vencer
E você precisa ter
Um futuro programado
Cedro, 17 de novembro de 1992
Carta de Idalzira para Joan
Joan meu querido filho
Recebi tua cartinha
Onde jogava pra fora
Toda angústia que tinha
Me fez tantos elogios
Só não me chamou rainha
Me chamou de vaidosa
Me chamou de egoísta
Só porque fui ao jornal
Para dar uma entrevista
Zombou da minha velhice
Sou velha mas sou artista
A velhice é coisa boa
Precisa se respeitar
Criei vocês com amor
Com amor devem pagar
Pois parte da minha herança
Reservei para te dar
O verso que me pediu
Eu fiz com todo respeito
Mas se você não gostou
Se não saiu do seu jeito
Peço para desculpar
Pois insulto eu não aceito
Parabenizei o Inácio
Da forma que merecia
Fiz votos para o Guilherme
No correr do dia a dia
Por favor você responda
O que é que mais queria?
Empreguei rima bonita
Em cada quadra que fiz
Nascimento de um filho
Faz sempre um casal feliz
Casamento sem ter filhos
É como árvore sem raiz
É comum se ter inveja
Quando nasce uma criança
Vocês ficaram com raiva
Mataram minha esperança
Para que trabalhar tanto
Sem ter a quem dar herança?
Diz que a casa é pequena
Dá somente para dois
Foi esta a sua desculpa
Que na carta me propôs
Depois pra me conformar
Disse os filhos vêm depois
Estava de mala arrumada
Já querendo viajar
Mas você me escreveu
Apenas para avisar
Que a casa era pequena
Pensei, assim não vai dar
Betinha me convidou
Mas fiquei encabulada
Porque você repetia
Que a casa era apertada
Mas pra Inácio e Chico Lopes
Ela serviu de pousada
Perdi minha esperança
De conhecer o Sobral
Lá só vai gente famosa
Da Assembléia Estadual
Mas eu só recebo crítica
Porque saí no jornal
Porém como sou humilde
Veja a minha recompensa
Deixo aqui o meu abraço
Muitos votos e minha benção
Aumente um pouquinho a casa
Pelo menos uma despensa
Cedro, 24 de junho de 2000
Carta de Erivan para Idalzira
Minha mamãe adorada
Eu vim restabelecer
A nossa correspondência
Que estamos a nos dever
Aproveito este momento
Logo após o lançamento
Para uma carta escrever
Vou de pronto agradecer
Por sua grande coragem
De sair do nosso Cedro
Nesta distante viagem
Para comigo encontrar
E além disso me brindar
Com sua linda homenagem
Eu falo sem pabulagem
Me orgulho em ser seu filho
E agradeço esta herança
Que me deu com tanto brilho
Espero seguir seu passo
Com calma e sem embaraço
Pra nunca sair do trilho
Vou de ladrilho em ladrilho
Seguindo esta longa estrada
Tentando ser um bom pai
Bom amigo e camarada
Com muito amor e alegria
No jardim da poesia
Vou fazer minha morada
Eu sei que é longa a jornada
Qu’inda vou ter pela frente
Sei também que este mundo
Enlouqueceu de repente
Aproveito e neste verso
Peço ao Rei do universo
Que clareie a minha mente
Peço ao Pai onipotente
Pra minha casa guardar
Cuidar da minha família
Meu caminho preparar
Dos males me proteger
Me ajudar a resolver
Os problemas que encontrar
Espero reencontrar
Em breve com a senhora
No Natal se Deus quiser
Não vejo chegar a hora
Vou arrumar a bagagem
Preparar nossa viagem
Ligeiro sem ter demora
Dona Mônica, sua nora
Lhe envia um grande abraço
Sua neta manda um beijo
Decorado com um laço
E eu aqui se pudesse
Se a inspiração viesse
De carta mandava um maço
Sem poder mando um pedaço
Com a minha admiração
Os meus agradecimentos
Por sua dedicação
O mais que na carta vai
O meu abraço em papai
E também minha benção
Finalizo a narração
Com muita felicidade
Mandando uma saudação
Ao povo desta cidade
Diga a todos por ai
Que Zerivan está aqui
Se acabando de saudade
Fortaleza, 25 de setembro de 2003.
Carta de Idalzira para Erivan
Erivan eu recebi
Bonita cartinha sua
Com as notícias de Mônica
E bom carinho da Lua
A lembrança daquela festa
Que é tudo que me resta
Mas a vida continua
Vejo que na mesma rua
Ou mesmo em toda cidade
O seu grupo de amigos
Provaram grande amizade
Naquela movimentação
Foi bonita a união
Que trouxe da faculdade
Eu via que na verdade
Todos queriam ajudar
O Mário escapou da morte
Pois precisava ficar
Porque naquele momento
Ia haver o lançamento
De um livro tão exemplar
A banda que veio tocar
Para animar o povão
As músicas muito saudáveis
Mexiam com o coração
Confesso, não esperava
Tanta gente que lotava
De lado a lado o salão
Admirei com razão
Este Centro Cultural
Que nos deu as boas vindas
Acolhendo o pessoal
Funcionários e gerente
Todo mundo competente
Recebendo de igual a igual
Você aí na capital
Mesmo como professor
Deu prova de bom amigo
Mostrando assim seu valor
Só teve o que mereceu
Graças a Deus que escolheu
Um ótimo orientador
Trate a todos com amor
Justiça, esperança e fé
Veja que eu escolhi
O seu nome de José
Companheiro de Maria
Que te levou naquele dia
Para o Centro Oboé
Me sinto feliz até
Pela brisa mansa e fria
Que me levou junto a ti
Declamar uma poesia
Que fiz durante a viagem
Pra te prestar homenagem
De minha própria autoria
Ouviu aí a verdade
Pois não gosto de mentira
Receba com amor e saudade
Um abraço de Idalzira
Cedro, 08 de outubro de 2003.
Carta de Joan para Idalzira
Dona Idalzira, o meu
Bom dia queira aceitar
Eu estou lhe escrevendo
Pras novidades contar
E lhe dizer que Erivan
Veio aqui me visitar
Chegou aqui sexta-feira
Do ônibus vinha enjoado
Lhe recebi muito bem
Com especial cuidado
Levei-o pra passear
Após ele ter jantado
Fui com ele à beira-rio
Um lugar especial
Mas ele só reclamava
Que não estava legal
Dizia que a viagem
Tinha sido infernal
Ligou logo pros amigos
E por lá mesmo ficou
Voltei pra casa sozinho
Comigo ele não voltou
Mesmo assim ele mais tarde
Lá em casa pernoitou
No outro dia o levei
Pra cumprir sua missão
Ministrar sua oficina
Que eu arranjei de antemão
Lhe apresentei a todos
Como sendo meu irmão
Terminado o seu trabalho
Apressou-se em partir
A procura de uns amigos
Com quem queria sair
Não voltou pra minha casa
Nem sei onde ele foi dormir
Lá em casa apareceu
Na tarde do outro dia
Somente para avisar
Que apressado partia
Nem aceitou a merenda
Que Betinha oferecia
Nem sequer agradeceu
Minha hospitalidade
Não disse nem se gostou
Aqui da minha cidade
Aliás, eu lhe vi pouco
Para falar a verdade
E eu que vendi seus livros
Fiz a maior propaganda
Do lucro que ele teve
Não recebi uma banda
Nem um agradecimento
Aquele ingrato me manda
Mas o pessoal parece
Que gostou da oficina
Pois elogiaram muito
O jeito como ele ensina
E o cordel é uma coisa
Que a todo mundo fascina
Gostaram de suas cartas
Que ele leu e mostrou
Dizendo pra todo mundo
Ter sido quem começou
A escrever em cordel
Até isso inventou
O Diogo é que do tio
Na mesma hora gostou
Desde a rodoviária
O pé dele não largou
E pelo tio Erivan
Ainda hoje perguntou
Por isso estou escrevendo
Para o fato narrar
Pra que a senhora saiba
A história sem errar
Antes que outra versão
Erivan vá lhe contar
Receba um beijo meu
Do João Pedro e do Diogo
Betinha manda um abraço
E eu vou encerrando o jogo
Que é quase meio-dia
E este Sobral é um fogo
Sobral, 26 de setembro de 2005
Carta de Erivan em resposta a Joan
Ô raça da língua grande
Já vi que nenhum escapa
Bastou eu virar as costas
Pra se descobrir a capa
E o irmão ciumento
Descortinar o seu mapa
Inda mais é fuxiqueiro
Conta aos outros sua história
Que ele do jeito dele
Faz parecer ilusória
Parece até por maldade
Ou por falta de memória
Eu cheguei mesmo cansado
Pois a viagem é ingrata
Cinco horas de buracos
Qualquer pessoa maltrata
E mesmo eu não possuo
Bunda e coluna de lata
Mas mesmo estando cansado
Depressa um banho tomei
E a sopa da Betinha
Com muito gosto jantei
Fui lá para a beira rio
Com meus sobrinhos fiquei
Brinquei muito com os dois
Correndo pra todo lado
Escorregando na grama
Com o Diogo sentado
Tanto é que o menino
Ficou por mim fascinado
João Pedro também gostou
Dessa minha brincadeira
Ainda ensinei pra ele
O jogo da capoeira
E o pai deles sentado
Feito burro em fim de feira
Depois saí realmente
Fui uma amiga encontrar
Porque é conveniente
Quando se vai passear
Querer rever os amigos
E a saudade matar
No outro dia o trabalho
Que fiz com o maior prazer
Levando o cordel àqueles
Que desejam conhecer
E um pouco de poesia
Pra quem queira aprender
O curso foi muito bom
Eu disse pro meu irmão
E também agradeci
Pela consideração
Ou ele se fez de surdo
Ou já não gira bem não
Ele mesmo quem chamou
Alguns amigos da gente
Quando terminou a aula
Miguel já estava presente
Fomos para um botequim
Conversar alegremente
Ainda ligou pro Sávio
E também o convidou
Pra ir lá nos encontrar
Sávio logo confirmou
Não ficamos muito tempo
Joan pra casa voltou
Aí eu pedi a ele
Pra me deixar num lugar
Pois novamente eu iria
Com Andréa me encontrar
E na casa do Fernando
Nós fomos para jantar
Dormi lá na casa deles
De manhazinha voltei
De novo com os meninos
Outro tanto eu brinquei
Depois fui a Meruoca
Com o Fernando almocei
Fui conhecer a família
Desse grande amigo meu
E logo depois do almoço
Da serra a gente desceu
Eis o relato completo
De tudo que aconteceu
Ainda presenteei
Esse mal-agradecido
Umas polpas de goiaba
E abacaxi escolhido
Que a mãe do meu amigo
Havia me oferecido
Agora aproveito a carta
Para aqui reafirmar
Só tenho a agradecer
De nada vou reclamar
Minha viagem foi ótima
Espero breve voltar
Eis aí mamãe querida
Toda minha narração
Pode em tudo acreditar
Que eu falo de coração
O resto tudo é fuxico
E intriga do meu irmão
Fortaleza, 27 de setembro de 2005
Resposta de Idalzira para os dois filhos
Joan Edessom e Erivan
Estamos no fim do mês
Estou cansada de ouvir
Esta briga de vocês
Não vou deixar pra depois
Se a briga era de dois
Porém agora é de três
Garanto por minha vez
Não fiz filho diferente
Porque nunca pulei cerca
Sou uma mulher decente
Vivo da minha labuta
E vocês estão nesta luta
Manchando a imagem da gente
Se Joan é inteligente
Veja, ele nasceu primeiro
Você tem que respeitar
Porque nasceu derradeiro
Mas veja que eu sou capaz
De nunca ficar pra trás
Conheço melhor o roteiro
Vocês podem ter dinheiro
Mas eu tenho competência
Quando nasci neste mundo
Deus me deu inteligência
Não sou uma velha pateta
Vim de família poeta
Honro a minha descendência
Erivan que estuda ciência
Está fazendo doutorado
Não menospreze o Joan
Que faz apenas o mestrado
Eu que sou analfabeta
Sendo mãe dos dois poetas
Não quero ficar de lado
O recado já foi dado
Veja se ninguém reclama
Lutei pra criar vocês
Estudaram pra ter fama
Veja o que aconteceu
Cospem no prato que comeu
Mas a mãe sempre lhes ama
Cedro, 28 de setembro de 2005
Carta de Geórgia para Idalzira
Minha vozinha querida
Que trago no coração
Vou lhe contar novidades
Que vão causar-lhe emoção
Agora eu sei fazer versos
Tal e qual o seu exemplo
Que transformou a poesia
Em belo e sagrado templo
Seguindo seus passos vou
Rimar por aí afora
Até que os versos prestem
Lá se vai mais de uma hora
Fortaleza é muito quente
O calor está matando
Faça chuva ou faça sol
É eu aqui só suando
Carnaval está aí
Vou passear na terrinha
Para matar as saudades
Da querida vovozinha
Aqui vou me despedindo
Sem fazer muito sermão
Beijos e abraços a todos
Te amo de coração
Fortaleza, 13 de fevereiro de 2009
Resposta de Idalzira para Geórgia
Geórgia o meu abraço
Muitos beijos e um bom dia
Com saudades estou lendo
Sua primeira poesia
Nós temos nossas raízes
Temos que levar em frente
Desenvolver a cultura
Que está na alma da gente
Adorei sua poesia
Parecida com as minhas
Achei que estavam perfeitas
Suas primeiras quadrinhas
Dos 11 aos 12 anos
Fiz a primeira experiência
Hoje com 84
Tenho a mesma inteligência
Me sinto muito feliz
Tenho dois filhos poeta
Agora pra completar
É poetisa minha neta
Agradeço ao Criador
Pela arte e a cultura
Devagar chegamos lá
Amando a literatura
Sua poesia é linda
Tem uma rima correta
É uma jovem estudiosa
E eu sou quase analfabeta
Ame a seu pai e sua mãe
Mas não esqueça sua avó
Meus filhos casaram todos
Hoje me vejo quase só
Cedro, 17 de fevereiro de 2009
Carta de Geórgia para Idalzira
Olá! Dona Idalzira
Como está a senhora
Não lhe falo há um bom tempo
Mas estou falando agora
Eu não sou desnaturada
Só estou é maltratada
Pelo estudo de três horas
Agora eu lhe pergunto
Quando por aqui vai vir
Poesias não são bastante
Para a saudade dormir
Sua neta manda o aviso
Consulte o seu juízo
Venha me fazer sorrir
Eu bem sei que a poesia
É nosso maior tesouro
Mas o amor de uma avó
Vale mais que todo ouro
Porque ele é infinito
E também o mais bonito
Porque é mais duradouro
Já ia me esquecendo
De pedir-lhe pra parar
Com essa sua história
"Não vou mais muito durar"
Nunca se dê por vencida
Pois a vida é uma corrida
Em que se tem de lutar
E quanto a dor nos joelhos
É inveja da idade
Ela não sabe rimar
Daí ter tanta ruindade
Pense na sabedoria
Nunca deixe a poesia
Essa é a finalidade
Mando beijos para todos
Na véia, no véio e em vovô
Pense com muita clareza
Me faça esse favor
Me despeço com saudade
Desejo felicidade
De Geórgia com amor.
Fortaleza, 23 de maio de 2009
Resposta de Idalzira para Geórgia
O meu pai trouxe nas veias
Sangue de família artista
Gostava da poesia
Era um grande repentista
A mim deixou como herança
Adorei esta conquista
Meu avô está na lista
Da primeira geração
Meu pai ficou na segunda
Na terceira eu pus a mão
A quarta é dos dois caçulas
Foi bem feita a divisão
As netas do coração
Ficaram em quinto lugar
Com as suas poesias
Me fazem até chorar
Inteligência é uma herança
Que ninguém pode tomar
Geórgia e Lua vão ficar
Pra levar o barco em frente
Estão na quinta geração
No estudo são competente
Clarice veio ajudá-las
Pois é muito inteligente
João Pedro ficou doente
Porque nele não falei
Diogo falou baixinho
Garanto que não liguei
Pois são eles os dois heróis
Da história que narrei
Cedro, 28 de maio de 2009
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Aos cordelistas umbilicais
19/12/2010 18h13Queridas/os cordelistas Adorei esse cordel que se diz umbilical Gostaria de também ter inspiração de "repente", prá me colocar como igual Sei que não é para todos ter esse dom natural... e se eu insistir muitas vezes? conseguirei, mesmo não sendo genial? Parabéns pela poesia e um abraço prá vocês MaráMaráSão Paulo - SP..
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