quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Diderot, o enciclopedista, e sua História da Filosofia

Quarta-feira, 10/11/2010

Julio Daio Borges






Digestivo nº 473 >>> Não faz muito tempo, quando alguém resolvia atacar a Wikipedia, invocava, na hora, a tradição dos primeiros enciclopedistas, a saber: Diderot e D’Alembert. A Wikipedia era sempre acusada de imprecisão, de parcialidade e quase de “improbidade administrativa”. Mas, depois de ler Diderot, a pergunta que fica é: “Será que os acusadores da Wikipedia leram os primeiros enciclopedistas?”. Porque Diderot, ao contrário do que se poderia imaginar, é personalíssimo. Nesta continuação da sua História da Filosofia (que integra a famosa Enciclopédia, pela editora Perspectiva), ele não poupa elogios a Francis Bacon, quem nem é tão lembrado hoje, e desanca, por exemplo, Spinoza, porque, no alto do Iluminismo, Diderot não admitia um filósofo que não fosse minimamente religioso. O que é espantoso, mesmo para os padrões da Wikipedia ;-) Por incrível que pareça, o que há de mais saboroso nessa História da Filosofia são, justamente, as anedotas, as vidas dos filósofos, mais do que as filosofias propriamente ditas. Diverte-nos – outro exemplo – saber que Aristóteles, além de ser “A Inteligência”, na Academia de Platão, era um brincalhão, e tirava a concentração dos colegas, para a irritação do mestre. Diderot não se furta a colocar Leibniz nas alturas – mais um exemplo de personalismo –, afinal ele lançou as bases para a consagração do termo “enciclopédia”; mas, ao mesmo tempo, lamenta que, na França de sua época, se ensine mais “filosofia inglesa”, de Newton – embora não dedique ao precursor de Einstein nenhum capítulo... Objeções virão no sentido de considerar Newton um “físico” e não um filósofo propriamente dito, mas o capítulo extremamente elogioso sobre Galileu confirma que o nosso Diderot foi parcial, sim. (Jimmy Wales, pai da Wikipedia, talvez merecesse, como Galileu, a fogueira, a depender dos nossos inquisidores off-line...) Nomes como Thomasius, a quem Diderot consagra algumas dezenas de páginas, praticamente se perderam no limbo. E Malebranche, embora não esteja 100% esquecido, perdeu historicamente a influência. Por outro lado, suas apostas em Hobbes e Heráclito se revelam corretíssimas; o primeiro, por seu Leviatã, ensinado até hoje; e o segundo, por haver sido reabilitado, pela filosofia alemã. A propósito: nenhuma palavra, por parte de Diderot, sobre Kant, seu contemporâneo. Esse último dado talvez explique por que a História da Filosofia da modelar Enciclopédia se sirva (ainda) da escolástica, mesmo com alguns laivos de filosofia moderna... E ai de alguém que, a título de experiência, reproduzir um único (e escasso) verbete do mestre Diderot, na Wikipedia – será desancado através dos séculos... em nome da... da... Enciclopédia (não lida)!
>>> Diderot: Obras VI - O Enciclopedista - História da Filosofia I
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Diderot Obras VI - O Enciclopedista

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Autor: GUINSBURG, J.
Autor: ROMANO, ROBERTO
Editora: PERSPECTIVA
Assunto: FILOSOFIA
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Julio Daio Borges
Editor

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Sobre o autor:

ROMANO, ROBERTO
Roberto Romano é professor de Filosofia na Universidade Estadual de Campinas e ensaísta com presença marcante no debate de idéias, no Brasil. Voltado sobretudo para os temas e problemas – contemporâneos ou clássicos – da ética, da política e da estética, seu pensamento crítico vem se traduzindo em larga colaboração na imprensa e em palestras e conferências, bem como em numerosos estudos e ensaios publicados em revistas especializadas ou em livros. É autor de 'Brasil, Igreja contra Estado'; 'Conservadorismo Romântico'; 'Corpo e Cristal. Marx Romântico'; 'Lux in Tenebris'; 'Silêncio e Ruído' e 'O Caldeirão de Medéia'.
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