Nada trazem consigo. As imagens
Que encontram, vão-se delas despedindo,
Nada trazem consigo, pois partiram
Sós e nus, desde sempre, e os seus caminhos
Levam só ao espaço como o vento.
Embalados no próprio movimento,
Como se andar calasse algum tormento,
O seu olhjar fixou-se para sempre
Na aparição sem fim dos horizontes.
Como o animal que sente ao longe as fontes,
Tudo neles se cala para auscultar
O coração crescente da distância,
E longínqua lhes é a própria ânsia.
É-lhes longínquo o sol quando os consome,
É-lhes longínqua noite e asua fome.
É-lhes longínquo o próprio corpo e o traço,
Que deixam pela areia, paso a passo.
Porque o calor do sol não os consome,
Porque o frio da noite não os gela,
E nem sequer lhes dói a própria fome,
E é-lhes estranho até o próprio rasto.
Nenhum jardim, nenhum olhar os prende,
Intactos nas paisagens onde chegam
Só encontram o longe que se afasta,
AS aves estrangeiras que os traspassam,
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio.
Sophia de Mello Breyner Andresen | "Poesia", 1944
Sem comentários:
Enviar um comentário