sábado, 16 de outubro de 2010

Italo Calvinoo

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Quarta-feira, Fevereiro 01, 2006
  ITALO CALVINO-BIOGRAFIA MINIMA
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O escritor italiano Italo Calvino não nasceu na Itália, mas em Santiago de Las Vegas, Cuba, a 15 de outubro 1923, onde seus pais estavam de passagem.

Passou sua infância em San Remo. Em 1941, matriculou-se na faculdade de agronomia de Turim, mas o desenrolar da II Guerra Mundial acabou levando Calvino a participar da resistência ao fascismo.

Em 1947, lançou sua primeira obra, Il Sentiero dei Nidi di Ragno, uma novela neo-realista inspirada em sua participação na Resistência Italiana e na luta dos partigiani. Na mesma linha é seu segundo livro, Ultimo Viene il Corvo.

São livros nos quais o pensamento da Resistência Italiana aparece em quase todas as páginas, com a narração de histórias que Calvino colheu durante sua participação nos conflitos. A forte influência do neo-realismo nos primeiros textos de Calvino se deve à predominância do movimento na Itália e à grande presença de autores como Cesare Pavese e Elio Vittotini, sem dúvida alguma os escritores mais significativos dos anos que vão de 1930 a 1950 (esta última data do suicídio de Pavese).

Ao final da II Guerra, Calvino foi morar em Turim, onde se doutorou em Letras com uma tese sobre Joseph Conrad. Em seguida, passou a trabalhar para o jornal comunista L'Unità, depois, trabalhou como editor da Eunadi.

É só a partir dos anos 50 que Calvino passa a escrever as obras que o tornariam famoso internacionalmente. Seus primeiros grandes sucessos são Visconde Partido ao Meio*, Cavaleiro Inexistente e O Barão nas Árvores*.

Estes livros podem ser compreendidos dentro de uma tendência que podemos chamar de reformística e fantástico-iluminista. Em Visconde Partido ao Meio, conta-se a história de um homem que acaba dividindo-se em dois: um totalmente bom, outro totalmente mau; em Cavaleiro Inexistente, narra-se a história de uma cavaleiro que não existe, em seu lugar há apenas uma armadura que se diz cavaleiro; em O Barão nas Árvores, o protagonista Cosimo de Rondò, depois de se revoltar com a obrigação de tomar uma sopa de escargots, passa a viver suspenso nos ramos das árvores, "no meio do caminho entre o céu e a terra, em ótima posição de ver e julgar", segundo nos diz Luperini, no Tomo II do seu Il Novecento.

Calvino cria nestes livros, segundo o professor Carmelo Distante, "um mundo fantástico onde os personagens vivem longe da realidade e da história, exatamente para subtraí-los aos condicionamentos deformantes que estas exercem".

Carmelo Distante afirma que Calvino inventa "um mundo onde não é possível realizar os sonhos e as esperanças, não restando outro caminho à razão eà fantasia que o contemplá-lo e observá-lo do alto se estas mesmas querem tomar consciência do como é feito e do porquê é feito desse modo".

Em 1956, Calvino se desliga do Partido Comunista e publica seu primeiro trabalho de literatura infantil, Quem Ficar Zangado Primeiro Perde. Neste livro o escritor também transforma a realidade em fábula. O (bom) humor é o objeto mágico central, que substitui as soluções tradicionais dos contos de fada, como árvores ou animais encantados.

O duplo sentido do título sugere a ironia maior de Calvino, que usa a estrutura dos contos maravilhosos para entreter as crianças. Em entrevista, Calvino declarou, certa vez, que escrever um texto "é um ato que deve obedecer a certas regras ou transgredi-las deliberadamente". Para ele, o aspecto lúdico e o humor são "metodologicamente necessários, pois colocam tudo em discussão, até o que se acabou de dizer".

De 1959 a 1966 ele editou, junto a Elio Vittorini, a revista de esquerda Il Menabò di Letteratura, que produziu uma seqüência de importantes debates sobre o papel dos intelectuais frente à crise das ideologias e sobre o problema específico da profissão de escritor.

Em 1972, publica o livro Cidades Invisíveis, no qual o veneziano Marco Pólo conta ao conquistador Kublai Khan todas as viagens que já havia feito. O livro é um desdobrar de territórios e uma viagem pelo reino da linguagem. Mostra a qualidade de um trabalho extremamente depurado que forma, ao final, uma metrópole atemporal e superpovoada de sentidos.

Calvino mostra em Cidades Invisíveis um império sem fim e sem forma, um domínio que se destrói e se reconstrói. São lugares que abrem, se bifurcam e nunca são iguais. Anastirma, Diomira, Dorotéia, Isaura, Maurília, Zaíra, Zenóbia e outras tantas.

Suas praças, ruas, vielas, pessoas gostos e cheiros que não podem ser representados totalmente no papel, ou na voz de Marco Pólo, o eterno estrangeiro."Se um viajante numa noite de inverno", publicado em 1979, é um dos mais elogiados romances de Calvino. Uma obra de ficção que empreende uma reflexão sobre a linguagem do romance, rastreando e ironizando as múltiplas direções da narrativa contemporânea. Em seu livro seguinte Palomar, publicado em 1983, Calvino afirma que "tudo aquilo que os modelos procuram modelar é sempre um sistema de poder; mas, se a eficácia do sistema se mede pela sua invulnerabilidade e capacidade de durar, o modelo se torna uma espécie de fortaleza cujas muralhas espessas ocultam aquilo que está fora".

Em seu livro Seis Propostas para o Próximo Milênio, onde há na verdade apenas cinco propostas, o escritor fala da leveza, da rapidez, da exatidão, da visibilidade e da multiplicidade."O mais das vezes, minha intervenção se traduziu por uma subtração do peso; esforcei-me por retirar peso, ora às figuras humanas, ora aos corpos celestes, ora às cidades; esforcei-me sobretudo por retirar peso à estrutura da narrativa e à linguagem."

O último livro de Calvino lançado no Brasil é Um General na Biblioteca, uma reunião de contos. Calvino morreu no dia 19 de setembro de 1985, na cidade de Siena, na Itália, aos 61 anos, de hemorragia cerebral. Italo Calvino é, talvez, o maior de todos os aprendizes de Borges. É, assim como seu mestre, um artesão das ilusões, incluindo a da originalidade. Deixou um legado que está além da delicadeza que marca suas obras.

Fez uma literatura que mostra ao leitor a maneira como foi feita, que mostra a sua natureza mágica, lúdica. A obra de Calvino não esconde os truques utilizados pelo autor. É uma literatura sincera, delicada e extremamente ágil. O que a aproxima de seu criador, pois Calvino foi, apesar das muitas mudanças na carreira e nas escolhas literárias, um humanista durante toda a sua vida, mantendo sempre uma postura ética e generosa.
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Renato Roschel
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Os titulos das traducoes em portugues de Portugal destes livros sao, respectivamente, "O Visconde Cortado ao Meio" e "O Barao Trepador"
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Joana
 

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