Fernando Lopes Graça em Évora
Sábado, Abril 28, 2007
FERNANDO LOPES-GRAÇA
músico/compositor, 1906-1994
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Fotografia de Victor Nogueira
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Fernando Lopes Graça (1906-1994) Canções Heróicas |
Acordai . Acordai, Homens que dormis A embalar a dor dos silêncios vis! Vinde, no clamor Das almas viris, Arrancar a flor Que dorme na raiz! Acordai, Raios e tufões Que dormis no ar E nas multidões! Vinde incendiar De astros e canções As pedras e o mar, O mundo e os corações! Acordai! Acendei, De almas e de sóis Este mar sem cais, Nem luz de faróis! E acordai, depois Das lutas finais, Os nossos heróis Que dormem nos covais Acordai! | |
Jornada . Não fiques para trás, ó companheiro, É de aço esta fúria que nos leva. Pra não te perderes no nevoeiro, Segue os nossos corações na treva. Vozes ao alto! Vozes ao alto! Unidos como os dedos da mão Havemos de chegar ao fim da estrada, Ao som desta canção. Aqueles que se percam no caminho, Que importa! Chegarão no nosso brado. Porque nenhum de nós anda sozinho, E até mortos vão ao nosso lado. Vozes ao alto! Vozes al alto! etc. | |
Mãe Pobre . Terra Pátria serás nossa, Mais este sol que te cobre, Serás nossa, Mãe pobre de gente pobre. O vento da nossa fúria Queime as searas roubadas; E na noite dos ladrões Haja frio, morte e espadas. Terra Pátria serás nossa Mais os vinhedos e os milhos, Serás nossa, Mãe que não esquece os filhos. Com morte, espadas e frio, Se a vida te não remir, Faremos da nossa carne As seraras do porvir. Terra Pátria serás nossa, Livre e descoberta enfim, Serás nossa, Ou este sangue o teu fim. E se a loucura da sorte assim nos quizer perder, Abre os teus braços de morte E deixa-nos aquecer. | |
Convite . Vinde ver a Primavera, Vós que sois da minha terra. Na raiz de cada chão Nasce um canto contra a guerra. Vinde ver o sol fecundo E abraçar a ventania. Nas vozes de cada fome Há gritos de rebeldia Vinde, vinde! | |
Firmeza . Sem frases de desânimo, Nem complicações de alma, Que o teu corpo agora fale, Presente e seguro do que vale. Pedra em que a vida se alicerça, Argamassa e nervo, Pega-lhe como um senhor E nunca como um servo. Não seja o travor das lágrimas Capaz de embargar-te a voz; Que a boca a sorrir não mate Nos lábios o brado de combate. Olha que a vida nos acena Para além da luta. Canta os sonhos com que esperas, Que o espelho da vida nos escuta. | |
Cantemos o Novo Dia . Olhai que vamos passar, Nosso canto é de verdade; Vinde connosco lutar, Nós somos a liberdade. A terra está toda em flor O céu é todo alegria. A nossa voz é de amor, - Cantemos o Novo Dia! Ó jovem que és cavador, Semeia, hás-de colher. A papoila é nossa flor, O trigo é nosso querer. Toda a palavra é de amor, A hora é nossa, confia, Nosso olhar tem mais fulgor - Cantemos o Novo Dia! Há seiva forte a brotar, Novas folhas a nascer, A Primavera a chegar, Os homens querem viver. A juventude é mais moça Quando o amor principia Pois se a vida é toda nossa - Cantemos o Novo Dia! | |
Combate . Nada poderá deter-nos Nada poderá vencer-nos. Vimos do cabo do mundo Com este passo seguro De quem sabe aonde vai. Nada poderá deter-nos, Nada poderá vencer-nos! Guerras perdidas e ganhas Marcaram o nosso corpo, Mas nunca em nós foi vencida Esta certeza sabida De saber aonde vamos. Nada poderá deter-nos, Etc. Os mortos não os deixamos Para trás, abandonados, Fizemos deles bandeiras, Guias e mestres, soldados Do combate que travamos. Nada poderá deter-nos, Etc. Nada poderá deter-nos, Pró assalto das muralhas Nossos corpos são escadas, Para as batalhas da rua Nossos peitos barricadas. Nada poderá deter-nos, Etc. Nada poderá vencer-nos, Vimos do cabo do mundo Vimos do fundo da vida: Que somos o próprio mundo E somos a própria vida. Nada poderá deter-nos, Etc. | |
Ronda . Amor, já se aproxima a hora De darmos as mãos e dançar. A ronda que começa agora, Eia agora! É para nela se bailar. Mas precisamos ir primeiro por uma madrugada fria, Fazer dos anseios bandeira, Na dor temperar a alegria. Amor, já se aproxima a hora De darmos as mãos e dançar. Na ronda que começa agora, Eia agora! Havemos todos de entrar. Se a vida vã que nos uniu À morte assim nos entregasse, Seria uma noite mais noite Que a esta noite nos poupasse. Amor, já se aproxima a hora De darmos as mãos e dançar. A ronda que começa agora, Eia agora! Não mais voltará a parar. E o novo dia se levanta Vadiando da rua ao telhado. - Amor, estende a tua manta, Vamos dormir sobre o passado. | |
Livre . Não há machado que corte A raiz ao pensamento: Não há morte para o vento, Não há morte. Se ao morrer o coração Morresse a luz que lhe é querida, Sem razão seria a vida, Sem razão. Nada apaga a luz que vive Num amor, num pensamento, Porque é livre como o vento Porque é livre. | |
Canto de Esperança . Dentro de mim e de ti Algo de novo estremece, A vida abre-se e ri Na hora que se entretece. Vultos parados e sós, Mudez da alma sozinha, Tomai o corpo e a voz Da vida que se adivinha. Canta mais alto, avança e canta, Lança-te à marcha, não te afastes. Mistura a tua voz à voz que se levanta Das chaminés e dos guindastes. Rasgam-se os céus e a terra, A esperança cai e refaz-se. É o grito duma outra guerra: Canto do homem que nasce. Tomam forma consistente As ilusões encobertas. Caminha, caminha em frente Para as novas descobertas. Canta mais alto, avança e canta, Etc. Molda em teus dedos leais Um destino à tua imagem. Ao ódio dos vendavais Ergue uma viva barragem. Da alma do tempo imundo Arranca a felicidade. Homens humanos do mundo! Homens de boa vontade! Canta mais alto, avança e canta, Etc. | |
Canto de Paz . Homens deixai abrir a alma ao que vier, Deixai entrar a paz do tempo que ela quer. De par em par aberta com sol até ao fundo, Gastai a alma toda na harmonia do mundo. Homens deixai abrir a alma ao que vier, Etc. Homens que vagueais pela berma da vida, Tereis enfim sinais da glória prometida. Homens deixai abrir a alma ao que vier, Etc. Na voz do Dia Novo a dar bom dia aos astros, Quando a tristeza for só pó dos vossos rastros, Homens deixai abrir a alma ao que vier, Etc. | |
Canto Livre . Gema embora a terra inteira Acurvada a iníquas leis; Esta fonte sobranceira Jamais de rojo a vereis. Hó! Ninguém, ninguém a esmaga Que eu sou livre como a vaga, Que sacode sobre a plaga O jugo de altos baixéis. Liberdade é o mote escrito No céu, na terra e no mar! Di-lo a fera no seu grito Di-lo a fera no seu grito E as aves cruzando o ar, Di-lo o vento da procela, A vaga que se encapela E nos espaços a estrela E nos espaços a estrela Em seu contínuo girar. Eu sou livre; eis minha crença, Nem força contra ela vale. Que um tirano enfim me vença; Triunfarei por seu mal. Triunfarei, que algemado E diante dele arrastado, Sou livre! Será meu brado Até ao momento final Liberdade é o mote escrito Etc. | |
Clamor . Ao sol os olhos vendados, Braços na luta cingidos; E ainda que algemados - Algemados Mas nunca vencidos! Sabemos do sofrimento O que no sofrimento há; Se a dor é desalento - Desalento Outra fé nos dá! Uma esperança em cada vida, Que ao calor do ódio arde; Luta até mesmo abatida - Abatida Mas nunca cobarde! Carne que se não corrige, Chicote com sangue a lava; Se só na morte transige - Transige Mas nunca é escrava! | |
Ó Pastor que choras. . Ó pastor que choras; O teu rebanho onde está? Ó pastor que choras; O teu rebanho onde está? Deita as mágoas fora! Carneiros é o que mais há! Deita as mágoas fora! Carneiros é o que mais há! Uns de finos modos Outros vis por desprazer: Uns de finos modos Outros vis por desprazer: Mas carneiros todos Com carne de obedecer! Mas carneiros todos Com carne de obedecer! Quem te pôs na orelha Essas cerejas pastor? Quem te pôs na orelha Essas cerejas pastor? São de cor vermelha! Vai pintá-las de outra cor... São de cor vermelha! Vai pintá-las de outra cor... Vai pintar os frutos, As amoras, os rosais: Vai pintar os frutos, As amoras, os rosais: Vai pintar de luto As papoilas dos trigais! Vai pintar de luto As papoilas dos trigais! | |
Canções de Catarina . Na fome verde das searas roxas Passeava sorrindo Catarina Passeava sorrindo Catarina Ah! Na fome verde das searas roxas Ai a papoila, Ai a papoila cresce na campina! Ai a papoila cresce na campina! Ah! Na fome roxa das searas negras Que levas, Catarina, em tua fonte? Que levas, Catarina, em tua fonte? Na fome roxa das searas negras Ai devoraram, Ai devoraram corvos o horizonte! Ai devoraram corvos o horizonte! Ah! Na fome negra das searas rubras Ai da papoila, ai de Catarina! Ai da papoila, ai de Catarina! Ah! Na fome negra das searas rubras trinta balas, Trinta balas gritaram na campina Trinta balas Trinta balas Te mataram a fome Catarina | |
As Papoilas . O papoilas dos trigais, Em ondas de cor... Em ondas de cor... Sangrentas como os punhais Do nosso suor... Do nosso suor... Dá vontade de arrancá-las, Pô-las nas lapelas... Pô-las nas lapelas... E, depois, E, depois, dependurá-las Na luz das estrelas Na luz das estrelas. O papoilas como chagas Em ondas de flor... Em ondas de flor... No sangue das vossas vagas Anda a nossa dor Anda a nossa dor. Outras papoilas um dia, Pela terra fora Pela terra fora Darão ao mundo a alegria Duma nova aurora Duma nova aurora. | |
Canção do Camponês . Adeus trigo, ai, adeus trigo, Depois de ceifado, adeus: Amanho-te e não mastigo, Ai, nem eu, nem eu nem os meus. O escravo da campina Ouve o motor do tractor Com ele mudas a sina - Da terra és conquistador!. Searas cor de sol posto, Meu mar alto de aflição Enche-o com suor do rosto, Ai, em troca falta-me o pão. O escravo da campina Etc. Ai campos, como os meus olhos. Ai campos, como os meus olhos, Rasos de água tanta vez: Foram-se espigas nos molhos, Ai, vem fome para o camponês. O escravo da campina, Etc. | |
Quando a Alegria for de todos . Quando a Alegria for de todos Como bem que não tem dono Como bem que não tem dono; Quando a alegria for de todos E tão naturalmente E tão naturalmente Como o ar que respiramos Quando a alegria for de todos - Que bom será viver E Respirar a plenos pulmões O ar saudável da alegria! Como será bom e belo e fecundo O riso da Vida O riso da Vida Nas bocas floridas, Nas bocas floridas de palavras de Amor! Ah! Quando a alegria for de todos Quando a alegria for de todos todos, todos!. | |
Não te deites, Coração . Não te deites, coração, À sombra dos teus amores. Não durmas, olha para eles, Com alegrias e dores. Não tenhas medo. O calor, Que vem das serras ao mar, Erguendo incêndios não queima Erguendo incêndios não queima O que não é de queimar. Agradece ao vento frio Que traz chuva miudinha É neve que se aproxima, Tormenta que se avizinha... Nos incêndios naturais Queima o ramo das saudades E faz a tua canção E faz a tua canção Do surgir das tempestades! | |
Hino do Homem . Homem, se homem queres ser E não uma sombra triste, Olha para tudo o que existe Com olhos de bem ver. Nada, Nada receies saber. Ao que não amas, resiste. Mesmo vencido, persiste E acabarás, E acabarás por vencer. Quere, Quere e poderás poder. Vai por onde decidiste. A liberdade consiste No que a razão No que a razão No que a razão te impuser. . . |
http://tv1.rtp.pt/canais-radio/antena2/arquivo_cancoes/fernando-lopes-graca-1.html
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Fernando Lopes-Graça (1906-1995)
Fernando Lopes-Graça foi um dos mais notáveis compositores e musicólogos contemporâneos. Nasceu a 17 de Dezembro de 1906, em Tomar. Estudou em Coimbra, no Conservatório Nacional. As «Variações Sobre um Tema Popular Português para Piano» são a sua primeira obra, datada de 1929.
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Biografia de Fernando Lopes Graça: http://www.citi.pt/cultura/temas/frameset_graca.html
Portuguese Folk Music Vol. IV – Alentejo | «Esta antologia é o fruto das primeiras pesquisas que Giacometti realizou em Portugal. Contou com a preciosa colaboração de Fernando Lopes Graça, na selecção de trechos musicais e na análise dos mesmos»: http://montra.alentejodigital.pt/cd.htm Fernando Lopes-Graça dedicou toda uma vida à recolha de temas tradicionais. Juntamente com Michel Giacometti, fez uma recolha sobre os ritmos e cantares do povo português que é considerada como uma das mais importantes para os estudos etnográficos. |
Ouvir Cantares Tradicionais dirigidos por Fernando Lopes Graça:
Para ouvir poemas tradicionais cantados aceda a: http://www.utad.pt/~cmisto/repertoriobai.html
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Sobre as Canções Heróicas
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As Canções Heróicas/ /Canções Regionais Portuguesas foram compostas musicalmente por Fernando Lopes-Graça e cantadas pelo Coro da Academia de Amadores de Música com Olga Prats ao piano.
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São canções politicamente empenhadas que contribuíram para exaltar a liberdade e dar força a todos aqueles que lutavam contra o antigo regime. A primeira versão foi publicada, em 1946, sob o título de «Marchas, Danças e Canções – próprias para grupos vocais ou instrumentos populares». Foi apreendida pela Censura o que impediu que os poemas fossem ouvidos e cantados em espectáculos ou sessões públicas, como até então. Contudo, muitos resistentes continuaram a cantar as canções nos encontros clandestinos ou nos países onde se encontravam exilados. Em 1960, surge uma colecção, mais alargada, com o nome de «Canções Heróicas, Dramáticas, Bucólicas e Outras». A nova edição destinava-se a celebrar o 50º aniversário da implantação da República e foi divulgada com grandes precauções, num meio muito restrito de pessoas. Finalmente, a versão final ficou conhecida por «Canções Heróicas».
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http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/05/02.html
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Lopes Graça
Juntamente com os poetas José Gomes Ferreira, João José Cochofel, Carlos de Oliveira, entre outros, compõe as Canções Heróicas, cantadas em defesa da paz e ...
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- CANÇÕES HERÓICAS: Acordai (02' 08'')
- Jornada (01' 13'')
- Mãe Pobre (01' 52'')
- Convite (01' 06'')
- Firmeza (01' 26'')
- Cantemos o Novo Dia (01' 28'')
- Combate (02' 00'')
- Ronda (01' 52'')
- Livre (01' 32'')
- Canto da Esperança (02' 19'')
- Canto de paz (02' 46'')
- Canto Livre (03' 02'')
- Clamor (01' 33'')
- Ó Pastor que Choras (01' 22'')
- Canção de Catarina (01' 47'')
- As Papoilas (01' 14'')
- Canção do Camponês (02' 38'')
- Quando a Alegria for de Todos (01' 09'')
- Não te Deites Coração (01' 19'')
- Hino do Homem (01' 37'')
- CANÇÕES REGIONAIS PORTUGUESAS: Nossa Senhora das Preces (01' 54'')
- Lá em Sta. Iria (01' 31'')
- Nem contigo nem sem ti (02' 06'')
- S. João Adormeceu (03' 26'')
- Andorinha Gloriosa (01' 35'')
- Quatro Laços da Dança dos Paulitos (02' 15'')
- Fui-te ver, 'stavas lavando (02' 23'')
- Anda Duermente Niño (01' 02'')
- Oração de Sto. António (02' 18'')
- Ai de Mim Tanta Laranja (01' 51'')
- Moradoras Desta Casa (01' 12'')
- Deus Te Guarde, Pastorinha (03' 16'')
- Vai Colher a Rosa (02' 10'')
- Milho Verde, Milho Verde (01' 50'')
- Senhora do Livramento (01' 45'')
- Sete varas tem (02' 44'')
- Tascadeiras do Meu Linho (01' 45'')
- Ó Senhora do Amparo (02' 19'')
- Passarinha Trigueira (02' 02'')
- À Moda da Rita (03' 04'')
Canciones de Canções Heróicas / Canções Regionais Portuguesas
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