Escalar-te lábio a lábio
percorrer-te: eis a cintura,
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso, 
descer aos flancos, enterrar.
Os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração 
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria, 
da solidão
porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve,
abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.                                 (Eugénio
de Andrade)
 
 
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