segunda-feira, 2 de junho de 2014

eugénio de andrade - nas ervas

                       

Escalar-te lábio a lábio
percorrer-te: eis a cintura,
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso,
descer aos flancos, enterrar.

Os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão
porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve,

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.                                 (Eugénio de Andrade)


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