* Eugénio Lisboa
No túmulo de um Astrónomo
Amei demasiado as estrelas
do céu nu que percorri a dedo,
para que a noite, onde brilham, belas,
em mim seja surto de algum medo.
Ptolomeu
Como todos, sou mortal:
minha vida é um dia.
Mas quando sigo, fatal,
no céu que nos alumia,
a multidão das estrelas,
sinto, deslumbrado nelas,
meus pés, do chão, levantar.
Copérnico
O céu que viste era o céu
de Ptolomeu. Mas diferente
foi a forma de o olhar.
No modo de julgar, teu,
a Terra, astro movente,
demitiu-se de pensar
que era o centro do mundo:
assim ver, que abalo fundo!
Kepler
O mundo próximo, à volta, apodrece.
Fome, mortal conflito e pestilência
turvam o dia que mal amanhece.
Segura-se à pureza da ciência:
o curso aparente das estrelas,
seguindo matemática divina,
deriva, das rigorosas tabelas
do vasto cosmo, a curva sibilina.
Poemas transcritos de O Ilimitável Oceano, Quasi Edições, Março de 2001, Vila Nova de Famalicão.
https://viciodapoesia.com/2018/04/26/eugenio-lisboa-alguns-poemas-de-o-ilimitavel-oceano/
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