* José Gomes Ferreira
(Em memória de José Caravela e António Maria Casquinha, mortos em Montemor-o-Novo pela Guarda Nacional Republicana)
I
Aqui
nesta planície de sol suado
dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui
onde agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas.
II
Quando os dois camponeses desceram às covas,
ante os punhos cerrados de todos nós,
chorei!
Sim, chorei
sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raízes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
- almas de frio fundo.
III
Digam-me lá:
para que serviria ser poeta
se não chorasse
publicamente
diante do mundo?
EM MEMÓRIA DE CASQUINHA E CARAVELA
Decorria o ano de 1979. O Novembro maldito de 1975 havia se encarregado de destruir muitas conquistas do povo trabalhador alentejano. Eram assassinados no Escoural Casquinha e Caravela às mãos da GNR, sem dó nem piedade. O povo alentejano sentiu na pele um castigo que se pensou não ser mais possível voltar a acontecer, depois de quase meio século de ditadura e repressão nos campos do Alentejo. Para que ninguém esqueça o que aconteceu aos nossos compatriotas... aqui os recordarmos, hoje e sempre!
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