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* Valete, Frates (apesar de ser sozinho)
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Continuando com os temas fracturantes, que têm sido a força deste blog, hoje gostaria de falar dum assunto que é de uma relevância enorme para a sociedade portuguesa, com a agravante que é o facto da maior parte de nós não nos apercebermos da importância do mesmo, mas nada temam que eu fui chamado para alertar.
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E o problema é a má interpretação que tem sido feita ao longo dos anos de um dos poemas do Fernando Pessoa que, indubitavelmente, resulta da dificuldade que os Silvas têm de perceber os paradoxos e ver mais do que fica dito. Agora que consegui a vossa atenção, resta-me explicar onde fui buscar esta ideia. Surgiu depois de ver na TV um senhor na ponte, parecido com o Bosingwa, a afirmar que o buzinão foi tanto física como ruidosamente perceptível pelo Ministro.
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Não percebi. Continuo sem perceber. Achei melhor tentar esquecer. Mas, tal como as grandes paixões, continua lá para me azucrinar. O que é chato. Ou nem tanto assim. Dizem-nos que temos coração. Se calhar até é bom.
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Bom, o facto é o de que esse homem não disse nenhum paradoxo, apenas uma parvoíce, mas deu-me a desinspiração para escrever crap e isso é que importa.
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O poema é a Tabacaria e, erro meu, não é do Pessoa mas sim do Álvaro de Campos, um daqueles poemas que toda a gente sabe citar nas horas mortas mas ninguém percebe o significado. Um pouco como estar "in bloom" para os que atingiram o Nirvana.
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A mim sempre me fez confusão um génio não se ver como tal. Era como se pusesse em causa a minha convicção de ser um deles e isso eu não poderia aceitar. Vai daí que sempre me intrigou o Álvaro dizer "Não sou nada/Não posso querer ser nada/Nunca serei nada" e a professora explicar que o sujeito poético (que terrível expressão!) revelava sentimentos de fracasso, melancolia e revolta consigo próprio. Ora é sabido que a revolta é o primeiro estado de consciência do Homem. E que o português é uma língua graciosamente traiçoeira. E que menos com menos dá mais (engraçado como a matemática ajuda na interpretação de poesia), logo "Não sou nada" significará que se é alguma coisa. E assim para os outros versos.
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Mas não posso bastar-me com estes versos iniciais. Há que tocar mais fundo. O poeta começa então a revelar-se aos poucos "Falhei em tudo/Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada" o que é um indício. E acaba, não o poema, mas a revelação "Semiergo-me enérgico, convencido, humano/E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.". E já nada será como dantes.
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Lendo assim já faz sentido o Universo reconstruir-se sem ideal nem esperança e o dono da Tabacaria sorrir. A Esperança só dá o braço aos infelizes. Os outros não precisam dela para nada. Se o Universo se reconstrói sem ela é porque algo de bom se conseguiu, nem que seja a, não tão mera assim, paz de espírito. O que cada um traz dentro de si é, na realidade, a única coisa que importa porque ninguém, a não ser o próprio, lho poderá tirar...o que parece irreal!
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Um amigo uma vez disse-me que a Arte devia revelar a Arte e esconder o artista, parece-me que Pessoa também o sabia. Não te preocupes, ninguém liga, your secret is safe.
Um amigo uma vez disse-me que a Arte devia revelar a Arte e esconder o artista, parece-me que Pessoa também o sabia. Não te preocupes, ninguém liga, your secret is safe.
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É curioso como tudo na vida só faz sentido na contradição, no paradoxo. Toda a gente sabe que o paradoxo é uma afirmação que implica uma contradição fundamental na sua base. Quase ninguém sabe que, na verdade, o paradoxo não comporta contradição alguma. Diz a verdade e por isso é que nos rimos.
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Voltando ao poema, pensando bem, talvez não seja esse o seu significado, mas é que para alguns de nós faz toda a diferença do Mundo haver ou não uma rosa, consoante o apetite da ovelha (e que tenebroso é depender disso!). Talvez o meu amigo tenha estado mais acertado quando disse que o que a Arte espelha realmente é o espectador e não a vida, e seja eu que queira ver o poema desta forma. Talvez também eu tenha querido dizer algo de subtil e sublime neste texto.
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Já não sei. Estou baralhado. Ou como diria o mesmo amigo...às vezes sou tão inteligente que não percebo uma palavra do que digo.
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Valete, Frates (apesar de ser sozinho).
Friday, June 8, 2007
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- in -> Venire Contra Factum Proprium - Fui como Ervas e não me arrancaram