sexta-feira, 14 de março de 2008

Entrevistas interessantes

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Fernando Sobral
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Longe vão os tempos em que, na TV, o entrevistador perguntava ao entrevistado, especialmente se fosse político: “Sr. Dr., poderia elucidar os portugueses sobre esta questão no sector da Educação?”. E o ministro, por exemplo, responderia: “Ainda bem que me faz essa pergunta. Deixe-me pois esclarecer que...”.


Essa escola de entrevistas foi substituída por uma outra, mais determinada: a de o entrevistador raramente deixar o entrevistado conseguir acabar uma frase. Três recentes entrevistas fazem pensar sobre o tema: a de Ricardo Costa e Nicolau Santos a José Sócrates, na SIC, a de Judite de Sousa a Simone de Oliveira, na RTP 1, e a de Mário Crespo a Nuno Morais Sarmento, na SIC/Notícias. Todas diferentes.
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Da primeira, e da sua fórmula delicada, já se falou o suficiente. As outras duas são curiosas porque mostraram que é possível fazer entrevistas sérias, fora de um contexto de reverência face ao entrevistado ou de confusão e gritaria generalizada. Há, para além dos advogados da reverência face ao poder, uma outra cultura que se espalhou, e mal, na TV nacional: a de que é preciso gritar alto várias vezes a mesma pergunta para se mostrar que o entrevistado é exposto; a de que há um tema central na entrevista e que tudo o resto é irrelevante (há dias Luís Filipe Menezes, triste, chegava ao fim de uma conversa televisiva e dizia qualquer coisa como: “mas ainda não falámos da situação no país ”).
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A extremamente interessante entrevista de Judite de Sousa a Simone de Oliveira mostrou como é possível trazer a estúdio uma mulher sem papas na língua, e colocá-la a contar histórias pouco conhecidas, a ser espectadora emocionada do seu passado, a ser certeira nas suas análises (Simone referiu que ela, ou a própria Judite, eram privilegiadas quando chegavam um hospital, porque eram conhecidas, percebeu-se onde queria chegar). Percebeu-se o que entrevistadora e entrevistada disseram.
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Por seu lado, Mário Crespo trouxe a estúdio Nuno Morais Sarmento, para falar do Casino Lisboa, e de todas as dúvidas que existem sobre a sua posse. Foi uma conversa esclarecedora sobre muitos aspectos que são deixados de lado sobre o tema. Porque Morais Sarmento abriu o jogo, mostrou que conhecia o ‘dossier’ e revelou-se, curiosamente, um personagem televisivo que, se calhar, não tem sido bem aproveitado pelos canais nacionais. E Mário Crespo, no seu estilo diferente, entre o bem-humorado

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in Correio da Manhã 2008.03.07
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NOTA do EDITOR
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Como entrevistadores que se apagam e dão lugar ao entrevistado admiro Ana de Sousa Dias (fotogenicamente bela), Carlos Cruz (mas não como apresentador «sádico» no 1,2,3), Carlos Malato e Júlio Machado Vaz.
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Como apresentadores, José Hermano Saraiva e a sua teatralidade ne «encenação» da história (pese embora a sra assumida simpatia pelo regime fascista de Salazar e a feroz repressão estantil enquanto Ministro da Educação de Marcelo) e o maestro Vitorino de Almeida. Doutros tempos recordo o «se bem me lembro» do Vitorino Nemésio, aparentemente parecendo o que não se deve ser - desajeitado, ausente, e as apresentações de cinema mudo, por António Lopes Ribeiro, apesar de cineasta ideólogo do Regime de Salazar
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De José Hermano Saraiva recordo o seu ar intimidatório e o dedo ameaçador espetado para a assistência televisiva durante uma intervenção sua na RTP «de» Ramiro Valadão, enquanto Ministro da Educação.
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1 comentário:

A OUTRA disse...

Penso o mesmo quanto às entrevistas, odeio quem interrompe, para "não falar muito no assunto... mas mostrar que se falou... (e nada se disse).
Cortar as frases a meio quando os espectadores querem ouvir o entrevistado e passam par assuntos que nada tem a ver.
Por agora só gosto de Judite de Sousa (espero que continue) e Mário Crespo (vamos ver se não os calam, ou se eles não mudam o "tom".
Maria