quinta-feira, 6 de março de 2008

Impressão Digital - O Espelho de Salazar



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Francisco Moita Flores, Professor Universitário

Não é Salazar quem ressurge como um herói fantasma. A saudade é a resposta emocional à mediocridade reinante.
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A questão foi lançada a propósito de um programa de televisão e ressurgiu com maior violência este fim-de-semana com a visita a Santa Comba Dão de um grupo de antifascistas que protesta contra a sua edilidade por criar um museu que plasme a vida e obra de Salazar.

A questão que esta emergência de paixões coloca obriga-nos a reflectir. Sendo certo que passaram quase quarenta anos sobre a morte do ditador, que já faz 33 anos que aconteceu o 25 de Abril, sendo certo que todos os grandes partidos não se reclamam herdeiros da sua obra, e até a repudiam, que ao longo de todos estes anos de democracia nem a escola, nem os discursos dominantes têm sido favoráveis ao Estado Novo, que a geração que recorda Salazar terá mais de cinquenta anos e aquela que viveu a revolução de Abril mais de 45 anos, o que explicará esta onda de saudosismo, de vivificação de um tempo já tão distante na memória dos mais novos? Se falarmos com jovens, homens até de 30, 40 anos, percebemos que reina a mais profunda ignorância sobre o regime salazarista mas também é difícil de encontrar quem o repudie vivamente com excepção de alguns institucionalizados nas juventudes partidárias.

Considero esta onda de simpatia inquietante. Não tanto por estar aí a ameaça de uma ditadura mas por admitir sem qualquer preconceito que esta saudade de Salazar celebra muito menos aquilo que ele foi, e fez, mas é sobretudo o espelho do desprezo e do repúdio pela falência de expectativas que o regime democrático está a provocar no imaginário de muitos que se encontram perante a vida sem projectos, sem futuro, dominados pelo medo e pela insegurança. A revivificação de Salazar acusa-nos e com razão. Acusa em primeira instância a regra democrática assente nos partidos políticos que se esqueceram há muito da necessidade de fazer da sua prática uma referência de exemplaridade cívica, de probidade intelectual, de integridade moral. Vazios, falhos de ideias, caceteiros e produtores de caciques, em vez de culturas de cidadania, mais empenhados nos seus vínculos ao poder, seja a que preço for, quietos em vez de inquietos, mitificando o poder pessoal deste ou daquele, desinteressados da reflexão profunda e programática sobre o nosso futuro. Depois, é a própria desonra da política. Sucedem-se governos atrás de governos que prometem o céu, que asseguram que agora é de vez, pedem sacrifícios e martírios, mas basta instalarem-se para repetirem as mesmas fórmulas, trocarem as voltas ao que disseram, desdizendo-se com o mesmo descaramento.

Salazar é um dos símbolos da injustiça, da restrição das liberdades individuais, da prisão sem justa causa. Mas por aqui, o regime democrático tem um passado de vergonha que cada vez menos possui força moral para denunciar o ditador. É já um enorme exército de gente vítima da prisão extemporânea, do achincalhamento nacional sem honra de julgamento, de condenações na praça pública porque se ser um simples arguido, coisa que hoje vale divisas de bandido. Não é Salazar quem ressurge como um herói fantasma. A saudade é a resposta emocional à mediocridade reinante, à desilusão teimosa, à destruição paulatina dos valores essenciais da dignidade e da honradez em nome de uma clientela qualquer e de um cacique qualquer sem escrúpulos. De certa forma, estamos a ser confrontados com a nossa própria incapacidade, a nossa incompetência, a nossa tolerância face à degradação moral do próprio poder. Salazar não tem culpa. Mais do que herdeiros dele, somos herdeiros de Pôncio Pilatos e a História não perdoa tanta indiferença.
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in Correio da Manhã 2008.03.05
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URAP apresenta abaixo-assinado
Petição contra Oliveira Salazar

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Após os acontecimentos em Santa Comba Dão no sábado, onde de um lado antifascistas tentavam impedir a criação do Museu Salazar e de outro a população se manifestava para apoiar o projecto, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) apresentou uma petição dirigida à Assembleia da República para que tenha em consideração e impeça a criação do museu do ditador.Segundo a URAP, o projecto assume o objectivo de materializar um pólo de saudosismo fascista e de revivalismo do regime ilegal e opressor, derrubado pelo 25 de Abril de 1974. Os antifascistas defendem que a criação deste museu constitui a uma afronta a todos os portugueses que se identificam com a democracia e o seu acto fundador do 25 de Abril. Assim, requerem à Assembleia da República, em defesa do regime democrático constitucional e da lei, que condene politicamente o processo da criação do museu e tome as medidas adequadas para um “projecto que assenta na organização centrada na propaganda do regime corporativo-fascista”.
A.D.



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Terça-feira, 6 Março


- Bluetorch
O Povo Português é que mais ordena! O Povo quer conhecer Salazar, basta ver na imprensa a forma como desperta muita curiosidade! Não são meia dúzia de indivíduos, que irão impedir os Portugueses de conhecer a sua História!
Segunda-feira, 5 Março


- Patriota
Como vivemos em Democracia tambem podem fazer um museu ao Lenine e ao Estaline e depois digam se Salazar comparado com esses 2 não era um santo.
- GARANTO-VOS FACHISMO EM PORTUGAL NUNCA MAIS.
SE NECESSITAREM DE ASSINATURAS PARA ESSA PETIÇÃO POR FAVOR CONTACTEM-ME, TEREI O MAIOR PRAZER EM ASSINAR A PETIÇÃO E DE LUTAR NA MEDIDA QUE FOR POSSIVEL CONTRA QUEM APOIA O RESTABELICIMENTO DE UMA DITADURA SIMILAR Á DO VELHO BEATO. ASSIM COMO TAMBEM ESTOU DISPONIVEL PARA UMA POSSIVEL LUTA ANTI-CLERO, QUERO DEIXAR DESDE JÁ PATENTE QUE ESTOU DISPOSTO A PAGAR COM A MINHA VIDA AS MINHAS CONVICÇÕES.

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