terça-feira, 11 de março de 2008

Mulheres - Sojourneur Truth

Sojourner Truth
(1797-1883)

De escrava humilhada e analfabeta a grande figura do abolicionismo e da luta pelos direitos da mulher nos Estados Unidos, a vida e a luta política de Sojourner Truth é um dos maiores testemunhos sobre a capacidade de luta da mulher e do ser humano em geral

Sojourner Truth nasceu na escravidão, por volta do ano de 1797. Seu nome de batismo era Isabella Van Wagner. Passou a infância como mera mercadoria, tendo sido vendida em tenra idade e diversas vezes depois disto.

Sua primeira linguagem foi o holandês, nacionalidade que predomina no Condado de Ulster, Nova Iorque, onde nasceu.

Durante a sua infância tornar-se-á uma criança devotadamente religiosa, característica que marcará profundamente o seu caráter e toda a sua atividade política posterior.

Aproximadamente entre os anos 1810 e 1817 teve cinco filhos, de um companheiro escravo chamado Thomas, quando pertencia a um escravocrata chamado John J. Dumont, que vendeu quatro dos seus filhos. Destes apenas dois continuarão com ela após a sua alforria em 1827. Neste ano, fugiu de Dumont e foi para a propriedade de uma família quaker , de Isaac Van Wagner, de quem retirará o nome. Neste ano, o New York State Emancipation Act (Lei de Emancipação do Estado de Nova Iorque) libertará todos os escravos naquele Estado.

Abolicionista

Após a libertação consegue a ajuda de amigos quakers para recuperar um dos filhos mais novos, que havia sido vendido como escravo ilegalmente para um estado sulista, através de uma batalha judicial e vai morar com os dois filhos mais novos em Nova Iorque. Ali trabalhará como empregada doméstica até 1843.

A ex-escrava convenceu-se em algum período da sua vida de que ouvia vozes e tinha visões, as quais eram orientadas diretamente por Deus. Estas aparições a estimulavam a peregrinar pelo país e divulgar a mensagem da fraternidade entre os homens. Convertida à causa do abolicionismo, esta adquiriu a forma concreta da sua missão moral.

Em 1843, Isabella partiu de Nova Iorque, com uma trouxa de roupas e 25 centavos no bolso, para perambular pelo país sob o nome que adotou de Sojourner Truth, ou seja, Sojourner, um hóspede, uma pessoa que passa, e Truth, a verdade, que designa que entendia a sua missão como a de uma peregrina da verdade.

Sojourner começou a falar nos comícios abolicionistas no Norte, onde a burguesia apoiava a causa da libertação dos escravos e, apesar de analfabeta, conseguia reunir multidões para ouvi-la falar devido à sua personalidade carismática e, conforme o testemunho da época, enormes qualidades como oradora. Sojourner era uma pessoa imponente, com um metro e oitenta de altura e uma voz portentosa.

Sojourner é a mais destacada figura feminina da luta abolicionista norte-americana onde ex-escravos como Frederick Douglass e Francis Watkins Harper destacaram-se escrevendo livros que contêm o seu testemunho contra o horror da escravidão e falando em comícios e reuniões para convencer os brancos a pôr fim ao sistema bárbaro que transforma um ser humano em mercadoria capitalista.

Durante todo este tempo, sustentou-se com a venda do livro The Narrative of Sojourner Truth (A narrativa de Sojourner Truth), o qual ditou para Oliver Gilbert.

Durante a guerra civil, Sojourner Truth trabalhou para ajudar os batalhões de negros que compunha o exército do Norte. Após a guerra, o presidente Abraham Lincoln designou-a como conselheira na National Freedmen's Relief Association para ajudar os negros libertos em Washington.

Após a guerra civil, continuou fazendo campanha incansavelmente em defesa do emprego e da educação do negro que, saídos de séculos de escravidão, eram atirados ao mercado de trabalho capitalista.

Até a década de 70, Sojourner encorajava os recém libertos a migrar para os estados do Kansas e do Missouri.

Em defesa da mulher, em defesa da mulher negra


Sojourner Truth

Já na década de 50, Sojourner Truth travou conhecimento com o movimento pelos direitos das mulheres que, naquele momento, tinha como móvel principal a luta pelo sufrágio feminino. A ex-escrava tornou-se uma militante deste movimento, falando em comícios com a mesma energia e eficiência com que fizera no movimento abolicionista.

Em 1850, participará da Primeira Convenção Nacional dos Direitos da Mulher em Worcester, Massachusetts, um dos principais centros do sentimento abolicionista nos EUA. Foi a única mulher negra presente. Nesta convenção, foi aprovada uma resolução específica sobre a mulher negra, considerada “a mais injustiçada e mais perversamente ultrajada de todas as mulheres”, comprometendo-se a que, em “todo esforço para a melhoria da nossa civilização, teremos em nossos corações a memória da feminilidade ultrajada dos latifúndios e não omitir esforço algum para elevá-la a compartilhar os direitos que reivindicamos para nós mesmas”. No ano seguinte, participou de uma convenção feminina em Akron, estado de Ohio, onde algumas mulheres procuraram impedi-la de falar por medo de que se misturasse a causa da abolição com a causa das mulheres. Sojourner não se deixou intimidar e tomou a palavra, contra toda a pressão de vários homens, alguns deles ministros religiosos, que buscavam intimidar a escrava analfabeta, mas em vão. Em pouco, tempo, autorizada pela mesa, dominou o auditório com a sua famosa oração, registrada pelo presidente da mesa posteriormente, intitulada Ain't I a woman ( Não sou uma mulher? ).

Até o final da sua vida, participaria da luta das mulheres norte-americanas pelos direitos femininos. O texto do seu discurso, um verdadeiro poema em prosa Ain' I a woman tornou-se uma fonte de inspiração para um grande número de mulheres negras nos Estados Unidos.

Quando, em 1866, a Quarta Emenda à Constituição norte-americana deu aos negros do sexo masculino o direito de votar, estabelecendo uma odiosa distinção, e quando os defensores do abolicionismo inclinaram-se para um compromisso com esta manobra, contra a opinião das defensoras do direito das mulheres, Sojourner levantou-se praticamente sozinha em defesa do direito da mulher negra: o mais oprimido dos seres humanos.

Finalmente, em 1875, já velha, abandonou a sua longa e intensa atividade política em defesa dos negros e das mulheres e retirou-se para a cidade de Battle Creek, Michigan, onde permaneceu até a sua morte em 26 de novembro de 1883.

Uma curiosidade: em 1997, o robô pesquisador sobre rodas que foi enviado para explorar a superfície de Marte recebeu o seu nome como homenagem.




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