Oscar Niemeyer
Quando ocorreu a invasão do Equador pela Colômbia, no dia 1º do mês corrente, que resultou na morte de 20 combatentes e de um dos principais líderes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes, escrevi um texto, revoltado com o que havia acontecido. Infelizmente, o texto que redigi não chegou aos jornais antes da solução adotada graças à pronta e corajosa intervenção dos governos latino-americanos, que deram ao mundo uma demonstração de unidade e força em defesa de sua soberania nacional.
Por Oscar Niemeyer
Como eu não me limitava a comentar as notícias sobre as Farc que surgiam nos jornais, mas mencionava fatos ou contatos que tive com aquele grupo, tomei a decisão de divulgar o artigo que havia elaborado e agora transcrevo:
"É bom, quando nos vemos diante da necessidade de escrever sobre qualquer assunto, verificarmos que a seu respeito já nos tínhamos manifestado anteriormente, que a nossa reação não surge de um fato novo ocorrido, mas de qualquer coisa que já nos tinha ocupado e sobre ela havíamos assumido uma posição definida.
Refiro-me ao que vem se passando com as Farc, um grupo de revolucionários que, instalados no território da Colômbia, vem-se opondo há décadas ao governo reacionário ainda existente naquele país.
É importante aqui registrar, aos que insistem em falar da violência dos revoltosos das Farc, a opinião do historiador britânico Eric Hobsbawm ("Globalização, democracia e terrorismo", Companhia das Letras): o combate ao terrorismo, ao longo dos últimos anos, por parte das autoridades colombianas, tem superado, em muito, a violência política desses guerrilheiros.
Lembro-me do emissário desse grupo que, muitos anos atrás, me procurou em meu escritório de Copacabana, pedindo-me que desenhasse um cartaz contra o Plano Colômbia, que, organizado pelo governo norte-americano, visava intervir nas Farc, ferindo a soberania do país.
Recordo a maneira emocionada como aquele emissário me falava do assunto, da revolta que exibia ao comentar a violência com que o governo colombiano tentava destruí-los. Em poucos dias, desenhei o cartaz que ele havia me pedido -um protesto contra aquele plano odioso. Uma colaboração política que muito me agradou, ao saber ter sido aquele cartaz utilizado até na Europa.
O tempo correu e, sem possuir a força para eliminar o movimento político já instalado no país, o governo reacionário de Bogotá passou a acusar a direção das Farc de ser conivente com o narcotráfico em crescente expansão na Colômbia.
Agora, no momento em que toda a América Latina se une contra as ameaças do imperialismo norte-americano, é que, numa atitude de violência e desrespeito inexplicável, o governo da Colômbia resolve invadir o território do Equador, comprometendo a unidade com que a América Latina tão bem vem se organizando contra todas essas pressões vindas dos Estados Unidos.
Com sensatez e firmeza, o governo brasileiro, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reclamou uma palavra de desculpa por parte do presidente colombiano, Álvaro Uribe. E de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, veio a resposta direta e corajosa que a esquerda latino-americana esperava.
Sabemos muito bem que os Estados Unidos têm a ambição de se apossar das riquezas existentes na Amazônia e que o governo da Colômbia se presta a servir de ponta-de-lança para essa finalidade.
Mas agrada-nos, principalmente, constatar a maneira altiva e vigorosa com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem atuando frente aos problemas desta América Latina tão vulnerável e ofendida".
Fonte: Folha de S.Paulo
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in Vermelho 17 DE MARÇO DE 2008 - 11h10
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