quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Lição de Poesia - João Cabral de Melo Neto

Assunto: ESCOLA DA VIDA
Data: 26/Mai 15:21

A CADA MOMENTO SE APRENDE - POBRE DOS QUE SABEM TUDO.... - E O NOVO QUE APARECE, AINDA QUE SEJA DORIDO, É MAIS VIDA QUE SE ARMAZENA NO NOSSO CORAÇÃO....TEM MOMENTOS EM QUE PARECE QUE ESQUECEMOS TUDO, AÍ, O QUE SE PASSA Á NOSSA VOLTA É COMO UM CAOS FERVILHANDO....DÁ MEDO! APETECE FICAR....PERMANECER....MAS A ALMA TEM A DIMENSÃO DO SONHO E DEIXA SEMPRE A PORTA ABERTA....APROVEITEMOS A ÚLTIMA FORÇA PARA AÍ, DEVAGAR, NOS DIRIGIRMOS E, NESSA NOSSA MAIOR DIMENSÃO PROCURAR O PONTO MAIS ILUMINADO. ESTAMOS NÚS, MAS ESSA LUZ NOS VAI VESTINDO SUAVEMENTE, E VOLTAMOS, MAIS FORTES, PARA A ESCOLA DA VIDA....EM ANEXO, UM BEIJO!

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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)

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A LIÇÃO DE POESIA
1.

Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.

Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.

2.

A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.

Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.

3.

A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.

A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis - naturezas vivas.

E as vinte palavras recolhidas
as águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.

Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO


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