domingo, 31 de maio de 2009

Montalbano x Montalbano: detetives não se encontram

31 DE MAIO DE 2009 - 03h30


Foi lançado na Itália nesta sexta-feira (29) La Danza del Gabbiano (A dança da gaivota), o mais recente romance policial do impagável detetive siciliano Salvo Montalbano. Entre outras peripécias, o personagem do também siciliano Andrea Camilleri recusa-se a arrsicar um encontro com o ator Lula Zingaretti, que o interpreta há dez anos em um também popular seriado na TV italiana.


Camilleri e a estátua de Montalbano em Porto Empedocle

Em seu novo giallo (''amarelo'', como os italianos chamam os romances policiais), o comissário de polícia Montalbano, de férias, reluta em atender ao pedido de eterna noiva, Livia, para que façam o circuito das cidades barrocas sicilianas:


– Eu não gostaria que enquanto estivéssemos lá rodassem algum episódio da série de TV... – diz Montalbano.

– E qual é o problema, por favor? – dispara a noiva, sempre de pavio curto.

– E se por acaso eu me encontro com o ator que faz a mim mesmo... como se chama... Zingarelli...

– Se chama Zingaretti – corrige Livia, – não finja que erro. Além disso, vocês nem mesmo se parecem, ele é bem mais jovem que você.


A gaivota do título abre o romance, avistada por Montalbano da janela de sua casa na cidadezinha imaginária de Vigàta, em tudo semelhante à Porto Empedocle, onde Camilleri nasceu, 84 anos atrás. Mas a trama principal gira em torno do desaparecimento do inspetor Fazio, fiel escudeiro do comissário. E até o primeiro ministro Silvio Berlusconi faz uma ponta, às voltas com seu recente divórcio por andar atrás de saias adolescentes.

Camilleri criou Montalbano aos 59 anos de idade (antes escrevia livros esporadicamente, enquanto se dedicava ao cinema), com A forma da água. Batizou o personagem numa homenagem ao escritor policial catalão Manuel Vázquez Montalbán.

Rapidamente seus giallos o transformaram em celebridade nacional e internacional – no Brasil, é publicado pela Record. Montalbano é comparado aos heróis clássicos da literatura policial, como o parisiense inspetor Maigret (de Georges Simenon) e o belga radicado em Londres Hercule Poirot (de Agatha Christie), ou mesmo ao arquétipo do gênero, o inglês Sherlock Holmes (de Conan Doyle).

Cheios de sarcasmo, inclusive político, os romances de Montalbano estão longe de ser subliteratura. Neles, Camilleri se diverte brincando com a língua, misturando o italiano com o dialeto e a gíria de sua Sicília natal. Não hesita sequer em usar termos que só são conhecidos em sua província de Agrigente, no sudoeste da ilha. É considerado um terror para os tradutores.

Um espetáculo à parte é proporcionado pelas proezas gastronômicas de Montalbano. Devoto da cozinha siciliana, forte em frutos do mar e tradições populares, o comissário leva o assunto pelo menos tão a sério como a investigação de seus crimes. Quando senta-se à mesa, não admite sequer uma conversa trivial antes que a refeição se conclua.

Da redação, com agências

in Vermelho -
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