domingo, 31 de maio de 2009

Imprensa on line, imprensa escrita e Blogs


DIGESTIVOS >>> Imprensa

Quarta-feira, 20/5/2009
Imprensa
Julio Daio Borges




Digestivo nº 416 >>> Amazon convida blogueiros para o Kindle
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Enquanto a Economist desfere um novo golpe sobre os jornais, o New York Times estuda fechar seu site e Murdoch ameaça acabar com a festa do conteúdo aberto da News Corp, a Amazon tenta fazer uma média com o novo Kindle DX (supostamente concebido para vender assinaturas de jornal) enquanto acena com mais uma possibilidade de remuneração para os blogueiros (seus leitores pagariam assinaturas mensais, como as de um jornal). No Brasil, jornalistas de papel oscilam entre perder a cabeça (e atacar a nova mídia por causa de sua própria falência) e tentar entender o que está realmente acontecendo (porque também não adianta mais fingir que nada está acontecendo). Especialistas, assim como a Economist, afirmam que o Kindle DX não vai ressuscitar os jornais, da mesma forma que o iPod (e o iTunes) não ressuscitaram as gravadoras. Também alertam que a crise dos jornais não vai passar quando esta crise econômica acabar – a crise dos jornais é anterior e não pode ser revertida com subsídios governamentais (afinal, como a própria Economist reconhece, jornais sustentados pelo governo são, como bem sabemos no Brasil, uma contradição em termos). Os blogueiros – que não precisam inventar nenhum modelo de negócio, porque nunca precisaram de um para subsistir – estão numa posição favorável, com a ascensão do Twitter (um microblog, que ultrapassou New York Times e Wall Street Journal em abril), e, agora, com esse aceno da Amazon. Estima-se que os blogueiros vão receber 0,6 dólares, ou aproximadamente 1,2 reais, por leitor-assinante. Leitor-blogueiro: multiplique sua audiência e veja se compensa... (O Kindle já aceita blogueiros de fora dos EUA, embora, para receber o pagamento, seja um pouco mais complicado...)
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>>> Kindle Publishing for Blogs




Digestivo nº 414 >>> Um golpe na economia da colaboração
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Um dos assuntos preferidos da internet, nos últimos tempos, tem sido a crise dos jornais, seus muitos prejuízos, sua obsolescência programada e, fatalmente, seu desaparecimento. Foi, portanto, inesperado o recente golpe de Farhad Manjoo, colunista da Slate, sobre um dos pilares do jornalismo na internet, o “conteúdo colaborativo”. Manjoo começa revelando que, embora estejamos cansados de ouvir sobre o mau desempenho das empresas jornalísticas tradicionais, um dos maiores prejuízos do nosso tempo é causado, justamente, pelo YouTube, site de compartilhamento de vídeos. Neste ano – calcula um relatório do banco Credit Suisse –, estão estimadas perdas ao redor de 470 milhões de dólares para o Google (que arrematou o YouTube em 2006). Assim o Boston Globe, por exemplo, cujas perdas ficarão em “apenas” 89 milhões de dólares em 2009, revela-se, subitamente, cinco vezes mais “lucrativo” que o YouTube. Manjoo prossegue no seu raciocínio: assim como os jornais têm de pagar caro para derrubar árvores e fazê-las circular em forma de notícia, o YouTube tem de pagar caríssimo por uma conexão pantagruélica de internet, para estocar e entregar seus vídeos – em suma, ambos correm atrás de anunciantes fugidios que banquem seus custos proibitivos de armazenamento e logística. Em citação a Benjamin Wayne – presidente de um dos concorrentes do YouTube –, Manjoo igualmente afirma que nem o Google, com suas receitas mirabolantes, tem como sustentar uma empresa que perde quase meio-bilhão de dólares/ano. Farhad Manjoo, para piorar, considera que o YouTube é só a ponta do iceberg da economia do “conteúdo gerado pelo usuário” (locomotiva da famosa Web 2.0). Por mais que as práticas colaborativas tenham revolucionado ambientes como o da política nos Estados Unidos e áreas do conhecimento como o enciclopedismo, sites como a Wikipedia e Twitter não geram ainda ganhos proporcionais ao barulho que fazem. A justificativa de Manjoo para essa contradição é simples: anunciantes não se sentem à vontade em veicular seus produtos e marcas ao lado de textos, fotos e vídeos “artesanais” ou “caseiros”; sendo que os maiores sucessos de audiência, pelo menos em matéria de vídeos (os conhecidos “virais”), são, além de os mais caros de manter (porque os mais acessados), os mais constrangedores nos quais se anunciar – a ponto de o YouTube só conseguir vender publicidade para menos de 10% de seu acervo. E o Facebook segue na mesma linha: de acordo com o indefectível TechCrunch, a maior rede social do mundo gastava, no último levantamento, nada mais nada menos que 1 milhão de dólares mensais só de eletricidade, 500 mil dólares mensais em conexão de internet e mais de 2 milhões de dólares por semana em novos servidores (para dar conta das quase 1 bilhão de fotos postadas por seus usuários todo mês). Farhad Manjoo conclui – para enterrar as últimas esperanças do jornalismo colaborativo – que os internautas, atualmente, pagam é pelo velho conteúdo gerado por profissionais. Entre os quais: música vendida através do iTunes e assinaturas on-line do Wall Street Journal. Sem contar o Hulu (outro concorrente do YouTube), que veicula filmes e séries de TV, e que parece estar ensinando ao todo-poderoso Google como atrair anunciantes numa proporção muito mais interessante. Farhad, por fim, admite que o “conteúdo gerado pelo usuário” transformou definitivamente o mundo – mas é pena que ninguém ainda tenha descoberto um jeito de ganhar dinheiro com ele...
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>>> Do You Think Bandwidth Grows on Trees?
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Digestivo nº 413 >>> A Revista de Cultura do Itaú Personnalité
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Para quem não tem mais paciência de folhear as revistas ditas “de cultura” nas bancas de jornal, surgiu uma alternativa salvadora: a Revista do Itaú Personnalité. Produzida pelo núcleo de “customizadas” da editora Trip, que já foi responsável pelas revistas da Mitsubishi e da Gol, entre outras, a do Itaú Personnalité (o segmento private do Itaú) não decepciona, porque: primeiro, não se pauta pela agenda; segundo, não tem vergonha de ser highbrow (principalmente num mercado pós-Piauí); e, terceiro, foge corajosamente da celibritite aguda, perfilando verdadeiros nomes da cultura. Assim, para começar, tem Luiz Schwarcz, editor-fundador da Companhia das Letras, entrevistado por Oscar Pilagallo, criador da extinta revista Entrelivros. Segue com Marta Góes, autora de Um Porto para Elizabeth Bishop (e mãe de Antonio Prata), assinando perfil sobre Myrna Domit, filha da nossa elite mas preocupada com o mundo. Prossegue com Ana Paula Sousa, ex-editora de cultura de Carta Capital, revelando Fátima Toledo, a preparadora de atores por trás de Cidade de Deus e Tropa de Elite. E encerra com Carlos Haag, ex-editor de cultura do Valor Econômico, conversando com o eternamente lacônico Nelson Freire (complementado por uma entrevista com o documentarista João Moreira Salles). Entre outras matérias interessantes... Se, nos programas da rádio Eldorado, Paulo Lima, cérebro da Trip, vêm flertando com autênticos representantes do pensamento brasileiro contemporâneo, como Luiz Felipe Pondé e Contardo Calligaris, no núcleo de customizadas da sua editora vemos frutificar uma publicação que aposta seriamente na alta cultura, justo num momento em que os jornais morrem ao redor do globo e muitos se sentem, intelectualmente, órfãos.
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>>> Revista do Itaú Personnalité
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Digestivo nº 411 >>> Viva e deixe morrer(em)... os jornais
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“Se a General Motors quebrar, ainda vão existir carros; e, se o New York Times falir, ainda vai haver notícias”. Com essa máxima, Michael Kinsley, colunista semanal do Washington Post, encerra mais um capítulo sobre o epitáfio dos jornais. Inaugurando uma nova postura, em relação à velha mídia, Kinsley não parece preocupado com o ocaso de uma indústria da qual faz parte seu empregador... O colunista do Post começa afirmando que os jornais sempre foram um monopólio – considerados, inclusive, uma “exceção” dentro da lei antitruste. E os antigos donos de jornal, se hoje ressuscitassem, jamais acreditariam que sua tragédia seria, justamente, não pagar papel, impressão e distribuição. Sua tragédia seria... a internet. Kinsley concede que os jornais poderiam ter mantido seus classificados (on-line); que os jornais poderiam, inclusive, ter inventado as redes sociais... Mas o típico executivo de jornal – Michael Kinsley faz a comparação – é como um urso de cérebro limitado. Até há pouco tempo, esse pequeno cérebro bastava; agora, nem com um think tank de gênios os jornais poderão ser salvos. Indústrias vem e vão, ele consola, invocando Schumpeter. E quem cresceu entre computadores acha tão chato ler em papel (jornal) quanto velhos dinossauros acham ler na tela... “Vocês querem enfiar informação jornalística, goela abaixo, em nome da democracia?”, Kinsley provoca. Lê-se mais notícias (e mais análises) do que nunca atualmente – só que on-line. E talvez o “jornal” do futuro seja mais ou menos parecido com o jornal de agora – só que sem papel. “Num tom mais casual, mais opinativo e participativo”, conclui. Uma única entidade ou uma lista de links “favoritos”? O certo é que Michael Kinsley não arrisca sobre o futuro das velhas empresas de notícias... (E tem sempre a alternativa de voltar para a Slate, da qual foi editor.)
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>>> Life After Newspapers
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Digestivo nº 410 >>> Associated Press matando os jornais?
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É como se um sussurro se convertesse em um urro, ao longo dos anos, sentenciou Tom Curley, presidente da Associated Press, sobre a grita recente dos jornais, contra o oferecimento de notícias gratuitas na internet (que os está matando lentamente). O raciocínio é simples – e até os jornais brasileiros já entenderam: se você disponibiliza notícias gratuitamente na Web, você as “comoditiza”; se elas estão disponíveis para todo mundo, como é que você vai querer cobrar por elas? Em um ensaio para a última edição do American Journalism Review, Paul Farhi, repórter do Washington Post, sugere que grande parcela da culpa, pelo atual estado de coisas, é da Associated Press (AP) – que, em 1998, assinou, pela primeira vez, com um portal aberto, o jovem Yahoo. Até então, o material da AP só estava disponível em serviços “fechados”, que cobravam por acesso, como AOL, Compuserve e Prodigy. A AP, em sua defesa, diz hoje que, se não abrisse seu conteúdo para o Yahoo, a Reuters iria acabar fazendo isso (como já estava ameaçando, aliás). O fato é que, uma vez publicado na chamada “internet aberta”, esse conteúdo caía, fatalmente, na mãos dos web spiders, do Google (por exemplo), e – voilà – uma infinidade de sites (e blogs etc.) poderia dispor dele livremente. A maior ironia, dessa história toda, é que a Associated Press é mantida, ainda, por muitos jornais, que estão fechando (alimentando-se, inclusive, de material produzido por eles) – e, portanto, tende a desaparecer, seguindo a lógica da crise da imprensa-impressa... Depois de anos fingindo que nada estava acontecendo, os jornalistas começaram uma caça às bruxas. No Brasil, será que vai sobrar, também, para as agências de notícias?
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>>> A Costly Mistake?
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In Digestivo Cultural
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