Dentro dos meus olhos uma tela azul enorme grande como a
luz dos teus olhos onde meti todo o céu que pude
Um mar imenso de mil cores mil jardins de flores à minha
escolha ao critério dos meus dedos ao sabor dos meus
segredos e dos medos de não ser capaz
Azul e mais azul de amarelo fustigado um rasgo genial de
vermelho um reflexo de sol e de céu
Mas tu não gostas de poetas mortos nada te dizem as cores
da minha mão se tento escrever‑te numa tela ou pintar teu
rosto na letra de um verso
Não gostas de poemas nem queres puxar os cordéis das
minhas pernas em sentido de fuga
Não deixas abrir as janelas do vagaroso comboio carregando
ruas estreitas e novas lojas de palavras velhas
Nas estreitas ruas das minhas mãos há longuíssimas raízes
que te prendem a um labirinto de espelhos
Grande como o céu não sei pintar‑te assim
Vou recriar‑te dentro de mim numa fusão de quadros
brancos sem passado sem palavras sem fundo e sem fim
(in Adão Cruz, VAI O RIO NO ESTUÁRIO. Poemas de braços abertos, ediçõesengenho)
http://jardimdasdelicias.blogs.sapo.pt/dentro-dos-meus-olhos-adao-cruz-963283
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