* Tiago Franco
Quando escrevi o último post, há dois dias, pensei: "vou fazer uma paródia com o Chega e este rolo de casos bem catitas de beberolas, pedófilos e malas".
Entretanto a minha mulher chamou-me para arranjar qualquer coisa e nunca mais vi o sol. Dois dias em 2025 correspondem a 30 em 1994. Anda tudo muito depressa e as notícias de 6f já parecem a RTP Memória.
Poucos minutos depois de ter escrito a piadinha do último post vejo, no meio do meu zapping higiénico, o pastor Ventura a saltar entre a TVI e a CNN, numa tentativa arriscada de acalmar as hostes cheganas.
Devo dizer que, depois de ouvir o ensaio, perdi a vontade de o arrasar (ou ao Chega, já que são a mesma entidade). Aliás, até me vou levantar e bater uma saraivada de palmas ao André. Imaginem-me no Parlamento, ao lado do antigo repórter tauromáquico, a gritar "muto bâim". Porque Ventura foi absolutamente brilhante.
Passou o dia a debitar aos ouvidos de cada jornalista em que tropecou na AR um sonoro "não me escondo", "seja meu pai, meu filho ou meu irmão...se papa meninos, é para castrar!". Mete uns posts no FB, no X, pede ajuda à Rita Matias e ao Frazão para repetirem a mesma história nas suas redes (os outros 45 não sabem escrever e por isso foram dispensados da tarefa) e arranca para os estúdios de Queluz. A TVI ainda é em Queluz? Adiante...
Na televisão bate no peito em frente à Sandra Felgueiras e depois, na CNN, meio esbafurido, repete tudo sem perder a calma. É diferente dos outros políticos. Tem mais merda em casa, é verdade, mas agarra o touro pelos cornos e corta o mal pela raíz. Com ele não há paninhos quentes nem se abafam histórias.
Ao contrário dos outros partidos. E aqui comeca a disparar para todo o lado.
Fala na Mortágua e no Robles. Nenhum deles cometeu qualquer crime. Fala no Ferro Rodrigues que nem indiciado foi. Fala no Paulo Pedroso que foi preso, libertado, sem julgamento e, mais tarde, indeminizado pelo estado português. Ou seja, não cometeu qualquer crime. Fala no Sócrates que está em julgamento eterno e de quem o PS já se afastou há muito. Fala do Medina que não foi acusado no Tutti-Futti.
Num estilo clássico de Ventura, misturou inocentes com indiciados, investigados com ilibados. Mexeu tudo muito bem, juntou um dedo no ar e salpicou com indignacão. Voilá, está servido o político diferente, o Sebastião da limpeza, o mártir que não teve culpa dos bronhos que lhe recomendaram para a bancada parlamentar.
Com essa conversa, desvia as atencões dos 20% de deputados com acusacões formadas e problemas com a justica que passam por irregularidades financeiras, roubo, assédio de menores, imigracão ilegal, difamacão, agressões, declaracões falsas e violência doméstica. Os quadros do Chega estão a uma namorada nepalesa de fazerem bingo nas causas do partido.
Nem um hora tinha passado desta última intervencão (CNN) e, munido de luvas e galochas, fui nadar em caixas de comentários. Por aqui, no X (tenho mesmo que deixar de ir aquele esgoto) e nos jornais, a mesmíssima narrativa do pastor era reproduzida na perfeicão pelos fiéis. Até os nomes usados de pessoas dos outros partidos eram os mesmos.
Não importa o que dizem os tribunais, não importa o estado de direito, nem sequer importa que maior parte dos iscos usados nem tenham cometido qualquer crime. Interessa, apenas, que o Ventura ensaia uma narrativa cheia de mentiras e omissões e os eleitores do Chega papam aquilo como se fosse Nestum em dia de preguica.
Julgo que foi o Daniel Oliveira (ou o Pedro Marques Lopes, não tenho a certeza) que disse que o BE seria mais castigado pelo despedimento das mães do que o Chega pela sucessão de casos com crimes (já provados). Não por causa da gravidade da accão do BE (não há comparacão com o furto de malas ou sexo pago com menores) mas por os eleitores do Bloco serem bem mais exigentes do que os do Chega (eu não diria apenas mais exigentes mas não me apetece falar do ensino obrigatório).
A mensagem passou com sucesso. Já não se discute a absoluta miséria que são os quadros do partido de um homem só. Não se fala dos crimes. Não se massacra o Chega como o Chega massacrou, desde o seu primeiro dia, cada deslize dos outros partidos. Lembram-se da "vergonha" que foi repetida, aos berros, em cada sessão parlamentar desde que Ventura era deputado único?
Tudo isso ficou para trás. O eleitorado do Chega fecha os olhos ao bando de criminosos e exalta com a bravura do líder que arruma a casa antes de continuar a limpar Portugal. Dou por mim sempre a pensar como é que há tanta gente com estas limitacões no raciocínio e na compreensão básica daquilo que acontece, aqui mesmo, em frente aos nossos olhos? Depois recordo-me que conseguimos ter taxas de abstencão em algumas eleicões de 60% e que, ainda há 4 ou 5 anos, metade da populacão nem o ensino obrigatório tinha.
Acabo este texto exactamente como disse que o iria terminar. Com pedófilos, ladrões, ilegais, corruptos e gajos que batem nas mulheres, o Chega ainda é capaz de subir nas intencões de voto.
Eles de facto são diferentes, o André é especial e vocês, que votam em gente desta, deviam ter direito a um cão-guia, para atravessarem a estrada.
Vou adiantando já servico, entre obras e arranjos. Deixo as notas dos próximos para não me esquecer:
1 - Venda de minérios raros na Ucrânia a troco de defesa
2 - Gaza, riviera do Médio Oriente
3 - Palestinianos, vão para a terra deles! (jordanos/egípcios/sauditas)
ps - pizza napolitana devia ser património da Unesco (isto não podem ser só desgracas)
2025 02 09
https://www.facebook.com/tiago.franco.735
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