segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Tiago Franco - MOMENTOS DE EMBARAÇO A DAR COM UM PAU |

* Tiago Franco 

A conferência de Munique, pelo furacão que lá passou, fez-me ligar a televisão. 

O resumo do que me pareceu ouvir, e que me fez corar de vergonha, está aqui:

- JD Vance, numa conferência sobre segurança, falou do clima, de firewalls e de imigração. Desprezou totalmente a questão ucraniana. 

- Mark Rutte (o novo bibelot da Nato) disse que as negociações de paz não incluem a adesão mas que no futuro, numa galáxia distante, quem sabe?

- Keith Kellogg, o enviado especial de Trump para as questões da Ucrânia, disse que a Europa não estaria na mesa das negociações e, que a própria Ucrânia, estaria numa fase mais adiantada (basicamente para lhes comunicarem a decisão)

- Trump aceita metade dos minérios raros do território ucraniano e, em troca, faz o acordo de capitulação da Ucrânia (é apenas isso que está a acontecer, nada mais). 

- Von Der Leyen diz que não há negociações de paz sem a Ucrânia (tal como não havia mísseis sem chips das máquinas de lavar)

- Costa diz que juntos somos mais fortes e pergunta se é cheia para todos ou se há quem prefira italiana.

- Zelensky acena com a hipótese de um exército europeu, partindo do ucraniano (que é neste momento o maior). Questiona também como é que é possível haver negociações sem a Ucrânia e alguém lhe fala no plano de paz/vitória que ele apresentou à Europa e à EUA (do Biden) sem mandar uma cópia ao Putin.

- Macron, vendo a bandalheira em que se tornou a conferência e o enxovalho que os americanos, totalmente alinhados com a Rússia, foram fazer a Munique, convoca os países europeus para uma reunião de emergência. Ali haverá muito brainstorming e medição de pilas. Portugal não foi convidado para o sonho molhado francês o que é uma pena. Ninguém mede como nós.

Feita a cronologia, resta-me dizer o seguinte. Quando Von Der Leyen e demais inúteis líderes europeus, andaram a fazer de capachos dos interesses americanos, quem os criticou foi apelidado de putinista. Lembram-se desses tempos?

Quando Von Der Leyen, sem exército ou armas, prometia apoiar a Ucrânia "for as long as it takes", fartaram-se de meter bandeirinhas e jurar "slavas" aos filhos dos outros que iam morrendo.

Quando a população europeia foi empobrecendo para pagar esta merda, vendo o óbvio lucro a ir para o outro lado do Atlântico, passámos a primários anti-americanos, nossos eternos aliados, que por acaso eram os beneficiários das sanções à energia russa e do fornecimento de armas.

Quando nos buzinaram, durante 3 anos, que mais uma remessa de armas X e a Ucrânia, venceria, não se podia dizer que, desde Maio de 2022, as posições russas estavam estabilizadas.

A Europa andou 3 anos a servir os interesses dos EUA e do seu braço armado, graças a uma casta de líderes do mais incompetente e desprovidos de tomates que alguma vez me lembro de ter visto. A custo de uma geração absolutamente arrasada na Ucrânia, que fez frente aos segundo maior exército do mundo, enquanto idiotas com responsabilidades nas políticas europeias nos juravam que os russos estavam a dias do colapso. Tudo isto foi dito, escrito, repetido. Nada do que está a acontecer hoje pode ser uma surpresa de tão óbvio que era (com ou sem Trump, já agora).

3 anos depois a Europa está cheia de regimes amigos de Putin (a próxima deverá ser a Alemanha) e os próprios EUA viraram para uma autocracia, onde apenas a lei do comércio importa. 

Dá dó ver Zelensky a ser entalado por quem lhe disse para avançar. Sinto vergonha com a impotência do discurso europeu que tenta mostrar uma posição de força sem ter como derramar sangue. Chegamos ao ponto de ver o velho continente a ser relegado para segundo plano, enquanto os impérios decidem as divisões que se seguem. E para piorar, ainda temos que aturar figuras patéticas como o Macron na liderança do grito do Ipiranga.

Em 2022 escrevi, não me recordo das palavras ao certo, que em 100 anos de história, só me lembrava de uma ou duas vezes (Afeganistão por exemplo) em que os russos, uma vez num conflito, voltassem de lá com as mãos a abanar. Mas não...a Ursula disse que com sanções, F16s e chuva de dinheiro, a coisa ia lá. O problema é que estava a falar com as calças do pai vestidas e ele, agora, resolveu pedi-las de volta.
Acabo como já acabei N textos sobre a Ucrânia. Estávamos exactamente neste ponto há 3 anos, no que a território dizia respeito. Tínhamos era mais um milhão de rapazes vivos, coisa que importa rigorosamente nada a quem decidiu este conflito, da Casa Branca ao Kremlin, passando por Londres e Bruxelas.

Num mundo ideal e com governantes dignos desse nome, esta era o momento em que a Europa começava a subir a escada da independência e da libertação deste papel de fantoche menor.

Com as actuais lideranças e a subida da facharia um pouco por todo o lado, temo que nada disso aconteça. 

O futuro na europa, com todos estes sinais, parece estar destinado a ser algo que nunca vivi mas que todo o livro de História, em especial do séc.XX, se encarrega de explicar.

https://www.facebook.com/tiago.franco.735
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Antonio Gil
Algumas observações que não vão bulir nada com o tom geral deste texto:

Se a afirmação que a Ucrânia enfrentou o 2º exército mais poderoso do mundo tem em mente os EUA como o 1º não podia estar mais equivocada. Se nela está implícito que a China é o 1º mesmo assim é matéria para discussão (que não farei aqui).

Não estávamos exactamente neste ponto há 3 anos, no que diz respeito a território ganho pelos russos, nem de perto nem de longe. Isso é o que os média nos querem fazer acreditar quando falam de impasse. É observar como os russos avançaram desde o fim da chamada 'contra-ofensiva' ucraniana até aos dias de hoje e em aceleração constante, de lá para cá.

Tudo o resto subscrevo.

 Tiago Franco
Antonio Gil o primeiro é obviamente o exército chinês.

Antonio Gil
Tiago Franco : sob muitas métricas sim. Não todas porém.
 
Filipe Dourado
Eu que muitas vezes em campanha ando a falar com as pessoas já foi apelidado de Putinista 1000 vezes e os contra argumentos, quando tento explicar a posição política , são do nível pré-histórico com palito na boca . Alguns ainda dizem que foram camaradas mas que agora deixaram de ser pela posição que o Pcp tem sobre a guerra na Ucrânia . Ter razão tem consequências , pelos vistos negativas.

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