segunda-feira, 19 de outubro de 2015

de Porfírio Silva a Luis Miguel Cintra, um poema

(para o Luis Miguel Cintra, com Lorca ao fundo)


não é o dono, Federico, que complica:
que as cheias devastem as habitações
enquanto corpos secos povoam as terras,
que os animais do campo escrevam os contos edificantes
esquecidos pelos bichos das repúblicas,
que deve isso ao dono ou à sua ausência?
quem viu, Federico, que a ferida estava no brinquedo,
no próprio brincar sem folguedo, foi o Luis Miguel,
com peças várias da tua herança,
esquecendo por momentos a teologia do dono,
arriscando mesmo um certo panteísmo
para mostrar a diversidade dos jeitos, 
a pluralidade dos modos em que somos
brinquedos quebrados, sim,
mas tão-somente das mãos e juízos uns dos outros.

é terrível a vida simples:
o mundo é um brinquedo sem o conforto do dono,
mas contigo nós atravessámos a cidade como navios do deserto
transportando a água que calou por momentos os calvários dentro de nós.



(9 de Março de 2014, dia das últimas representações de “Ilusão”, no Teatro da 

http://maquinaespeculativa.blogspot.pt/2015/10/ainda-bem-que-nao-fui-cornucopia-este.htmlCornucópia

2 comentários:

Porfirio Silva disse...

Viva!
O autor desse poema chama-se Porfírio Silva (e não António Porfírio).
Cumprimentos.

Victor Nogueira disse...

sorry, Porfírio Silva. Rectificação feita.