30 abril, 2011
Ninguém pensou fora do paradigma e o desastre ou foi eminente ou até mesmo aconteceu...
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Partiu a embarcação presidencial como era sua rotina, mas em manhã de grande nevoeiro. A bordo, acompanhando o poder, seguiam as forças da nação e uma representação das classes apoiantes. Assim, todos os que contam, seguiam na embarcação rasgando o cada vez mais denso nevoeiro. As gaivotas só se viam quando seu voar se aproximava da torre de comando, cruzando olhares com o comandante do navio, parecendo que do céu nasciam para vir saudar os navegantes. Tudo corria normalmente, quando ao longe, muito ainda, uma luzinha pequenina e intermitente anunciava uma presença ainda distante. Pesqueiro? Carregueiro? Navio estrangeiro? Só podia ser estrangeiro, pois todos os de suas outras frotas tinham conhecimento da proibição de se fazerem ao mar em dias de o presidente e sua gente por lá andar. Mandou o capitão reduzir a marcha e fazer soar sonoramente a sua presença. À luz inicial e intermitente, agora mais próxima, outra mais pequena, fixa e de cor vermelha se juntou, mas sempre naquela rota, sem qualquer indicação de se estar a desviar. "Que impertinência", pensava o comandante perante a adversa posição. Nem sequer a ansiedade se espalhou, pouco crente em qualquer desobediência. Mas as luzes, cresciam, cresciam à aproximação. Da estupefacção passou o capitão à procura do que fazer, junto do alto poder. "Acabará por se desviar", responde o eleito. Mas nada do que esperava ia acontecendo. "Só pode ser estrangeiro e mal informado" pensava a entidade patriarcal. "Só pode ser alguém mal intencionado" dizia alguma oposição, também ela embarcada. Ninguém opinou contra a corrente, esses ficaram em terra. A luz estava à distancia da voz e gritou o clero em latim claro. "Afastai-vos por amor do Senhor, pois o poder tem um rumo". E nada, a luz estava parada. "Afastai-vos, é uma ordem senão serão confrontados com o poder da artilharia", disse um ministro já um pouco aflito. E nada, a luz continuava parada. Todos os ministros falaram, em bom inglês que já era, na altura, uma boa língua para um entendimento universal. E a luz nada. Até que a parte do povo que ia a bordo, gritou em coro: "Retirai-vos, deixai a barca seguir o destino". Foi então que do outro lado a resposta, angustiada se fez ouvir, por dentro do ainda mais denso nevoeiro: "Daqui fala o faroleiro, ou a barca desvia o rumo ou vai tudo para o galheiro"....
Escolha o leitor o destino da barca. Se teve, ou não, tempo para o desvio. Se o homem do leme reagiu mais rápido que a contra ordem do poder e se o inevitável rumo era viável à barca e se, durante a leitura pensou, uma vez que fosse, fora do paradigma daquele navegar...
Texto que recupera, da memória oral, uma definição possível para o que seja um paradigma
http://conversavinagrada.blogspot.pt/2011/04/ninguem-pensou-fora-do-paradigma-e-o.html
06 maio, 2011
Que luz vem do farol? Que nos dizem os faroleiros?
Num post de
há poucos dias atrás, falava do paradigma do rumo "inevitável" e
da "certeza" dessa inevitabilidade por parte de todos os que iam na
barca - representação figurada daquela parte do país condicionada à opinião
única e ao pensamento dominante. Escrevia aí, que poucos ficaram em
terra, auto-excluindo-se da barca, pelo que (reconheço agora) a figura da
barca deixava uma ambiguidade grave: a barca significava o país ou apenas o
paradigma em que uma parte dele vive, com a definição (também
já feita) do que entendo ser essa coisa de paradigma, palavra tão pouco
frequente entre muito douta gente. Escrevo agora a desfazer equívocos fazendo-o
num botequim canarinho, rodeado de gente amiga e quase me cruzando com Mia
Couto, que acabado de sair daquele lugar deixava palavras no ar: "O
Brasil vai ser a nossa estrela guia", era o que dizia, deixando-me a
angústia de o não poder repetir, preso ao lado do paradigma que me deixa
amarrado a esta Europa lorpa e a braços com um outro lado que é o resultado das
agências de rating já traduzido num plano de resgate que nos evita,
por uns tempos, a bancarrota. O terceiro lado da paradigma, enfabulando (lembra-se
do video?)o que se passava na terra dos ratitos que só elegem
gatos para os governar, degladiam-se os
partidos credíveis (os gatarrões) sobre as estratégias
eleitorais e outras coisas mais daquelas que são usadas para obter votos dos
ratos e de caneta aprontada para assinar o resgate e o fazer aprovar na
Assembleia. Os fazedores de opinião (o quarto lado do quadrado)
mostram-nos diariamente com uma insistência frequente, não vão
os ratitos pensar fora do que a inevitabilidade forjada possa ser
contestada... Deixemos as imagens e as metáforas por momentos (a custo o faço)
e falemos um pouco mais directamente:
QUEM SÃO E QUE DIZEM OS FAROLEIROS SOBRE O PROCESSO DE SALVAÇÃO ?
Eram de inicio poucos ou poucos eram os que acendia luzes de alerta no
nevoeiro. Traduzindo a imagem pelo significado. Só os partidos da esquerda (que
chamam de radical) se opunham à chamada de estrangeiros para a
"ajuda" externa. Até que a imprensa estrangeira acende faróis.
Ao farol New York Times,
segue-se o Daily Telegraphe
agora o Le Monde Diplomatique.
Dizem estes faroleiros o que os fazedores de opinião calam, limitando-se os
jornais portugueses a dar pequeno espaço aos alertas dados pela esquerda: o
processo é antidemocrático e o pacto, assinado por um governo demitido
(eventualmente aprovado por uma Assembleia já dissolvida) é um embuste.
Certamente que o povo irá participar nas eleições menos democráticas da
história da nossa recente democracia...
QUEM SÃO E O QUE DIZEM OS FAROLEIROS SOBRE O RUMO QUE A BARCA LEVA?
No nevoeiro espalhado pela imprensa, televisão, fazedores de opinião
ditos credíveis, encartados economistas e outros colunistas eram poucos os
que acendiam a luz de alerta quanto a alternativas. A pressão da banca para o
resgate urgênte da dívida aparecia como a única saída. A bancarrota o medo das
prateleiras vazias e da falta de dinheiro para pagar salários era a toada para
vergar a resistência onde ela ainda havia. Eram poucos. Os mesmos da dita
esquerda radical. Em 6 de Abril, em Conferência de imprensa, o Partido
Comunista, acende a luz da alternativa, com
a proposta: "A renegociação imediata da actual dívida pública
portuguesa – com a reavaliação dos prazos, das taxas de juro e dos montantes a
pagar – no sentido de aliviar o Estado do peso e do esforço do actual serviço
da dívida, canalizando recursos para a promoção do investimento produtivo, a
criação de emprego e outras necessidades do país. A intervenção junto de outros
países que enfrentam problemas similares da dívida pública" . O
nevoeiro esconde a proposta por impossível e torna a voz deste faroleiro
inaudível. Sobre ele recaem as maiores e terríveisacusações perante a
renúncia em negociar o resgate. Tiro no pé, há quem diga. Gente oportunista,
outros acusam. Mas os dias passam e surgem outros faroleiros dando o mesmo
alerta:
"Portugal deve também reestruturar a sua dívida? - Claro que sim. Não
existe alternativa quando a dívida deixa de ser suportável. Portugal tem uma
boa razão para entrar emincumprimento. Ao contrário dos gregos e dos
irlandeses, não se pode censurar os portugueses por terem cometido infracções
estatísticas ou criado um sistema bancário com uma dimensão inadequada para o
tamanho do país. A Grécia é um caso de falência criminosa e manipulação
estatística. O verdadeiro problema de Portugal é a competitividade. E uma
reestruturação seria viável." Markus Kerber, in Jornal
i, 14 de Abril
"O governo português pode usar como arma negocial a reestruturação da
dívida se considerar que o programa de ajustamento exigido ao país é demasiado
severo", avisa o economista Álvaro Almeida. O português trabalhou no Fundo
Monetário Internacional (FMI) entre 1997 e 2000 e participou na
negociação dos programas de México, Arménia e Venezuela". In Jornal
i, 14 de Abril
“concluímos que, na ausência de uma
reforma institucional da UEM, sair da Zona Euro constitui uma opção
política séria para Portugal.” Pedro Leão
e Alfonso Palacio-Vera, disponível como documento de trabalho no Levy Economics Institute,
um dos principais centros de investigação keynesianos nos
EUA. In Ladrões de Bicicletas, 26 de Abril
"Questionado sobre a posição defendida por economistas como
Paul Krugman no sentido de que Portugal terá que reestruturar dívida,
o presidente do banco sublinha: "Por
deformação profissional tenho mais respeito pela opinião das pessoas
que fazem e não das que comentam. Não atribuo às palavras do s. Krugman a
mesma importância que vocês. Ele ganha dinheiro a vender livros e fazer
conferências. Dou mais importância ao que diz Merkcel, Sarkosy e
Durão Barroso… in Jornal
i, 28 de Abril
"Saída do euro ou resgate? Economistas discutem opções.
- Jens Bastian, de Atenas,Marc Coleman, de
Dublin, Niño Becerra, de Barcelona, e Ricardo Cabral, do Funchal,
trocam argumentos sobre as opções que se colocam aos quatro países da zona euro
em situação de crise de dívida, ainda que em graus distintos." In Semanário
Expresso, 30 de Abril
"Por isso, entendemos que Portugal deve propor à Espanha, Grécia e
Irlanda a criação de uma frente diplomática comum tendo em vista renegociar as
respectivas dívidas e obter da UE derrogações ao Tratado que permitam a estes
países adoptar políticas económicas favoráveis ao seu desenvolvimento, com
destaque para uma forte política industrial e medidas de discriminação positiva
para o sector exportador." in Manifesto
«Convergência e Alternativa»
QUE VAI ACONTECER EM 5 JUNHO?
Saio do botequim com este texto denso e extenso para editar e a
pensar: "Irá o nevoeiro esconder as alternativas e o povo votar um
timoneiro que conduzirá a barca contra os rochedos? Ou será que o povo obriga a
um outro homem do leme e a novo comandante? Talvez que o mais certo seja o
dizer adeus à soberania..."
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