sexta-feira, 22 de abril de 2011
FACTOS HISTÓRICOS:
Ivan Vassilievitch (1530-1584), primeiro monarca a ser proclamado Czar da Rússia (César = imperador), ficou para a Histórica conhecido pelo cognome de “Terrível”, devido à política de terror que levou a cabo em quase todo o seu reinado.
Órfão aos 8 anos, o pequeno Ivan teve uma infância conturbada; assistindo às disputas pelo poder por parte dos boiardos, era obrigado a assistir a sessões de tortura e execuções, de forma a moldar-lhe o carácter enquanto futuro imperador. Assustado, Ivan entregou-se à leitura compulsiva da Bíblia sob a supervisão do bispo de Moscovo, Makari, tornando-se assim um cristão ortodoxo fanático.
Coroado aos 16 anos, logo ordena a expropriação dos bens dos boiardos e da igreja, chamando a si o poder de Deus.
Acabando por conseguir unificar a nação russa e expulsar os tártaros através de sucessivas guerras mantidas ao longo de duas décadas, Ivan fica de facto conhecido pelo clima de terror do seu reinado, um déspota que mandou executar milhares de pessoas inocentes.
Em 1564, numa jogada política, ameaça abdicar e sai de Moscovo; os moscovitas, liderados pelo clero e assustados com essa possibilidade, imploram-lhe que recue na pretensão. Ivan aceita o pedido com a condição de, a partir dessa data, poder lidar com os seus inimigos e traidores da forma que achar por bem e assim cria a famoso melícia Oprichnina, uma força policial composta por homens que juravam completa fidelidade ao czar e que, sob as suas ordens, impuseram o clima de terror que vigorou em toda a Rússia até à morte de Ivan.
A OBRA:
Alexis Tolstoi (não confundir com Leon Tolstoi. Alexis era parente afastado de Leon, mas são dois autores diferentes), traça neste livro, que se inicia em 1565 precisamente aquando da criação dessa milícia de Ivan, o início do terror que trouxe a Ivan Vassilievitch tão terrível cognome.
Nikita Romanovitch Serebriany é um jovem boiardo que regressa à Rússia após uma ausência de cinco anos na Lituânia onde esteve ao serviço do Czar.
Ao chegar a uma aldeia, depara-se com um ataque de dezenas de soldados vestidos de preto a aldeões desarmados e fica impressionado com a brutalidade desse ataque. Decide intervir e, com os homens que comanda, põe termo a essa ofensiva, matando dezenas desses soldados e fazendo prisioneiros outros tantos. Ao os interrogar, fica a saber tratarem-se todos eles de oprichininos, que estão ao serviço do czar e que cumpriam ordens do mesmo. Serebriany recusa-se a acreditar, no entanto e não querendo arriscar até chegar à presença do czar, resolve não executar nenhum desses prisioneiros, soltando-os.
Está lançado o mote para os acontecimentos que marcaram a História da Rússia e que tem nesta obra um excelente manual.
Alexis Tolstoi é capaz de criar todo um fresco memorável da época. Assente em várias famílias de todas as facções envolvidas, ele dá-nos os vários pontos de vista, deixando para o leitor a sua própria interpretação dos factos e as ilacções a tirar.
Percebemos quais as razões que levou Ivan a impor esse clima. As movimentações dos boiardos que, feridos na sua honra, tentam virar o rumo dos acontecimentos; enquanto isso a História perfila-se diante de nós como um filme de tão realista e poética é a escrita de Tolstoi.
Alexis Tolstoi não deslustra a fama dos autores russos que tiveram em Leon Tolstoi, Dostoievsky, Nabokov, Gogol, Pasternak, entre outros, toda uma escola que é única em todo o mundo dada a excelência da sua obras.
Este é um livro fabuloso, poderoso e bela na sua narrativa. Embalamos na escrita como se tivéssemos numa montanha russa: ora vamos em linha recta, ora, de repente, nos vemos em descidas vertiginosas onde terríveis batalhas desfilam diante dos nossos olhos.
“… enquanto viveres, os lábios do povo manter-se-ão fechados pelo terror; mas do teu reinado, assim que terminar, ficará somente a lembrança dos teus crimes. E o teu nome passará de geração em geração, sempre execrado até ao dia do juízo final! …”
Publicada por Miguel Chaica à(s) sexta-feira, abril 22, 2011
http://nlivros.blogspot.pt/2011/04/ivan-o-terrivel-alexis-tolstoi.html
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