Lembro o seu vulto, esguio como espectro
Naquela esquina, pálido, encostado
Era um rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado
De mãos nos bolsos e de olhar distante
Jeito de marinheiro ou de soldado
Era um rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado
Quem o visse, ao passar, talvez não desse
Pelo seu ar de príncipe, exilado
Na esquina, ali, de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado
Perguntei-lhe quem era e ele me disse:
_ Sou do monte, Senhor, e seu criado.
_ Pobre rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado
Por que me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente esteve um condenado?
_ Vai-te, rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço
Indiferente à raiva do meu brado
E ali ficou, de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado
Ali ficou... E eu, cínico, deixei-o
Entregue à noite, aos homens, ao pecado
Ali ficou, de camisola verde
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado...
Soube eu, depois, ali se perdera
Esse que eu só pudera ter salvado
Ai! do rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento
Boina maruja ao lado!
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