terça-feira, 9 de outubro de 2018

Divulgados quatro inéditos de Gabriel García Márquez

CULTURA|LITERATURA

Abril Abril

9 DE OUTUBRO DE 2018
Quatro textos inéditos de Gabriel García Márquez, escritos durante a sua juventude, pouco depois de ter escapado do “Bogotazo” e regressado à sua terra natal, foram agora revelados pelo Banco da República em Bogotá.

Corria o ano de 1948, quando o jovem Gabriel García Márquez regressou à região do Caribe colombiano, onde são ambientadas muitas das suas histórias, e começou a construir a sua lenda, com histórias que por vezes passavam despercebidas e que agora são tão cobiçadas quanto as quatro inéditas que foram encontradas.

Ao todo, são 66 folhas escritas pelo Nobel da Literatura colombiano, pouco depois de fugir de Bogotá, e que incluem quatro textos originais publicados e quatro inéditos: dois relatos e dois contos.

O primeiro dos relatos faz parte de uma colecção que Gabriel García Márquez publicou no diário El Heraldo, denominado «os relatos de um viajante imaginário», que na época não viu a luz do dia, que consiste no «seu primeiro esforço por construir uma série, uma narração mais extensa», explicou à Efe o investigador do Banco da República Sergio Sarmiento.

Os restantes são dois contos e um último relato que «parece fazer parte de uma série mais ampla ou de um conto», mas do qual só sobreviveu «o fragmento final», todos eles escritos pouco depois da chegada de Gabo ao Caribe, impressionado pelos protestos que se seguiram ao assassinato do candidato a presidente Jorge Eliécer Gaitán, a 9 de Abril de 1948, no centro de Bogotá, e ficaram conhecidos por «bogotazo».

O olhar excepcional do início de Gabo
Estes textos, agora adquiridos, «são da sua época de jornalista, mas também são possivelmente os mais antigos que se conservam, e representam uma amostra do primeiro período de Gabo, tanto no conto quanto no jornalismo», acrescenta.

Todos eles foram adquiridos por um estudioso da obra de García Márquez, que tentava conhecer melhor o primeiro impulso criativo do escritor. Por altura da morte do autor passaram para as mãos da sua família de Gabo, que finalmente os ofereceu ao Banco da República, que dispõe de uma rede de bibliotecas e museus no país. 

Este organismo restaurou-os e vai colocá-los à disposição dos colombianos na Biblioteca Luis Ángel Arango, em Bogotá.

A influência de Ernest Hemingway
Entre os relatos inéditos está um intitulado O afogado que nos trazia caracóis, que não está completo e no qual aparece uma personagem chamada «Ursula»,  uma reminiscência de Ursula Iguarán de Cem Anos de Solidão, o que prova que já então começava a ter esse romance na cabeça.

A outra história, a que os investigadores do Banco da República chamaram Odor antigo, constitui para Sarmiento uma experiência «com a influência de Hemingway», que começou a infiltrar-se na sua obra e a subir até ao seu altar pessoal.

Aquele que faz parte da saga maior é intitulado As barras de hortelã e permite ao leitor aproximar-se da terra natal de Gabo, Aracataca, com «uma visão muito jovem», construída a partir da visita de um viajante.

O quarto, que até agora não tem nome e é o que mais passou despercebido, narra o que acontece numa cidade durante um eclipse.

Todos estes documentos representam «um olhar excepcional do início de Gabo» e permitem aos leitores conhecer «o período de aprendizagem dos seus primeiros anos» do escritor colombiano, diz Sarmiento.


Agência Lusa
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