quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

poesia sobre a AUSÊNCIA (1)


POESIA SOBRE A AUSÊNCIA

Vinícius de Morais – Ausência
Carlos Drummond de Andrade – Ausência
Carlos Drummond de Andrade – A um ausente
Alberto Caeiro – O amor é uma companhia
Jorge Luís Borges – Ausência
André Díspore Cancian – Ausência
Mano Terra – O vazio da ausência (poesia gaúcha)
Carlos Drummond de Andrade - Memória
Roberto Pontes - Ars Superandi
Roberto Pontes – Os ausentes
Sofia de Melo Breyner Andresen – Ausência
Pablo Neruda – Ausência
David Moya Posas – Poema da ausência
Victor Nogueira - Liberdade
Victor Nogueira – Todo o dia esperei por ti


Vinícius De Moraes


Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus
dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no
espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

.
MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.
.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
A um ausente
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
.
Frases Sobre a Ausência

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.


Fernando Pessoa
.

O amor é uma companhia
Alberto Caeiro

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.


Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
.
Ausencia


Jorge Luis Borges


Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales
a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,






*****
Ausência

André Díspore Cancian
Estão mortas as crenças
O carrasco foi a razão
Estão mortos os sonhos
O veneno foi solidão
Desfeitas as ilusões
A golpes de integridade
Desfeitas as esperanças
A golpes de sobriedade
No coração uma pedra
Por amar a verdade
Nos olhos a mágoa
Por sua frialdade
Na boca o amargor
De viver sem sentido
No peito o vazio
De viver sem sentir
Nas costas o fardo
De toda a inteligência
Na face a vergonha
De toda a demência
Na vida somente o peso
De uma constante ausência
Na morte somente o fim
Desta vã resistência
.
O Vazio da Ausência


Mano Terra


Hoje a tristeza pealou-me
e a dor está dentro do peito.
O luto se impõe por respeito
e como um ritual entre os homens.
Peço a Jesus, santo nome,
e a sua mãe, Nossa Senhora,
que me amparem nessa hora.
Preciso reunir coragem
pra enfrentar essa passagem
até que essa dor vá-se embora.

Perdi um pedaço de mim
num forte golpeio da morte.
Fiquei quase sem suporte
diante da hora do fim.
Perder quem se ama, assim,
no más, mui de repente,
desmancha por dentro a gente,
arrancando as fibras da alma.
Contrariado, perco a calma,
não consigo aceitar, simplesmente.

A morte é a senhora Maldade,
que chega sempre ao disfarce
e não se contenta em fartar-se
na mais feroz crueldade.
Deixa viuvez e orfandade
quando passa e sacrifica.
Não argumenta, não se explica,
vai logo fazendo o aparte.
Deixa um vazio quando parte
e nem liga pra quem fica.

Dói muito esta dor supradita.
O coração despedaça.
Em nada mais acha graça
aquele que a morte visita.
Parece uma sina maldita
chorar a perda de alguém.
Não há neste mundo, ninguém
que se escape dessa hora:
por pai, irmão, filho ou por nora,
acaba chorando também.

Esse pedaço de pano
negro como a noite mais escura,
é sinal de desventura
pra quem, no seu quotidiano,
já perdeu um ser humano.
O preto é a ausência da cor,
sinal de recolhimento e dor
.
É o pesar do extremo tributo
que a morte cobra com o luto
na conta corrente do amor.

Eu já perdi um punhado
dos meus entes mais queridos.
O meu peito está ferido,
o coração despedaçado
e o vazio sempre ampliado.
Foi-se embora pro além-mundo
gente de valor mui profundo
na seara da fé e da cultura.
Enfeitou-se a sepultura,
ficou mais pobre este mundo.

Foram muitos os viajores,
uns do sangue e outros não.
Foi-se o pai, a mãe, o irmão,
os amigos, poetas, cantores,
mestres e professores...
É verdade, outros chegaram
e pouco a pouco ocuparam
em parte o espaço vazio.
Mas, a dor tem efeito tardio
e as penas até se agrandaram.

Nesses tempos mais recentes,
a lista ficou maior.
E a gente sabe de cor
todos os nomes dos ausentes.
O Honeide, certamente,
o Boca, o Rillo, o Cenair,
também o Noel Guarani,
o Passarinho e a passarada,
o Jaime Caetano, a payada,
e outros que não esqueci.

O Bertussi foi na frente
e levou a gaita na presilha.
O cancioneiro das coxilhas
ficou no ouvido da gente
como alvorada permanente
do verso com alma brava
e um ronco de mamangava
tirando touro do mato.
Enquanto o pago maragato
pra vigília se aprontava.

A guitarra ao desatino
borda um canto-choro de rio.
Ainda se ouve o assobio
na boca de algum menino
pra que o vazio do destino
não seja tão fundo, quiçá.
E a voz do Cenair Maicá
parou no meio do verso.
Uma bugra reza o terço
enquanto canta um sabiá.

O Marco Aurélio, apressado,
se calou antes da hora.
Sem avisar, foi-se embora,
nem mesmo deixou recado.
Não tinha motivo, o danado,
pra partir antes do dia.
A guitarra em agonia
registra ainda o seu verso.
Pra ser feliz no universo,
ele fez a travessia.

O Rillo, também de repente,
disse adeus e se mandou.
Parece que se mudou
e não disse nada pra gente.
O céu recebeu um presente,
ganhou importância o bolicho.
O vazio que deixa Aparício,
é a dor da eterna saudade.
Que as asas da eternidade
conduzam esse bom patrício.

O Noel Guarany ensaiou,
repetiu, resistiu,
ficou até que o pavio
da lamparina acabou.
Mas, nem assim aliviou
a dor que fere na marra.
As milongas e a algazarra,
pararam em rito silente.
Foi-se o índio e a vertente,
o payador, o campo, a guitarra.

Outro que teve pressa
foi o César Passarinho.
Deixou a meio caminho,
uma canção e uma promessa.
O negro interrompe a peça
na gaita que o pai deixou.
O guri, de tristeza chorou.
Ficaram milongas, bugios...
Que também não tapam o vazio
que a sua partida cavou.

Assim, no más, mui temprano,
foi-se o outro missioneiro,
versejador galponeiro
e payador, Jaime Caetano.
Até o vento minuano
chorou em lamento dolente.
Acende-se a estrela do poente
com nome, com luz e alvor.
É o Caetano Braun, payador,
que agora brilha pra sempre.

Também o Leopoldo Rassier
bateu na marca e se foi.
Fica o mugido do boi
e os gritos de oigaletê.
Jamais saberemos por quê,
por que saberemos jamais
vão-se aos poucos os imortais.
Na lista das perdas imensas
a morte se faz extensa
e a cada pouco cresce mais.

Payadas, canções, sapucais
ficam gravados nas mentes.
As cachoeiras e as vertentes.
As lagoas, os mananciais.
Os ecos dos madrigais
e os caminhos tracejados,
serão luzes e raiados,
rastreando clarões e orientes.
E as gerações descendentes
têm um tesouro guardado.

O cemitério, ao meu juízo,
parece mais enfeitado.
Mas, o que está engalanado
com certeza é o paraíso.
E eles, lá, de sobre-aviso
alumbram a rosa-dos-ventos.
E todos nós com sentimento,
rezamos por nossos ídolos.
E reforçando esses símbolos,
fica este verso em lamento.

Que o céu seja o paradeiro,
de todos por recompensa.
Por seu exemplo e presença,
o nosso respeito primeiro.
São Pedro, virtuoso posteiro,
das estâncias do outro lado
já pode fazer o preparado
p'ras tertúlias celestinas,
em noites de rimas divinas
com seus novos convidados.

Enquanto não chega o meu dia
de partir pro outro lado,
pra juntar-me ao convidados
dessa eterna Sesmaria,
quero ter a serventia
de, ao menos, poder trovar.
E na minha trova, rezar
por todos meus entes queridos
que um dia tenham partido
na frente pra me esperar.

Eu não sei quando me vou,
pois não tem hora marcada.
Quero a alma transbordada
pelas riquezas do amor.
Fortuna que o Deus Criador
reservou a todos mortais
(e são tantos seus sinais):
SÓ SE LEVA QUANDO PARTE,
AQUILO QUE SE REPARTE
E QUE, AO REPARTIR, CRESCE MAIS!

Poesia gaúcha
.


Anexo -

- por Elizabeth Dias Martins

Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
5 5 contra o sem sentido
apelo do não
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
10 10 Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade

Ars Superandi
Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão.
C.D.A.
Não sendo lindas
As coisas findas
Devem ficar
Soltas no ar.
5 5 Não asão bem-vindas.
São como aindas
A dissipar
Em qualquer bar.
E se são findas
10 10 Quais as razões
De assim trocar
Coisas florindas
Por ilusões?
– Deixá-las ‘tar.
Roberto Pontes
Os ausentes
Ao Frei Tito
Os ausentes necessitam sempre
bilhetes, cartas e coisas
vezes pequenas lembranças
uma gravata, um poema, um postal.
5 5 Os ausentes são tão necessitados
que ninguém os lembra
nem só por saudade ou falta
Os ausentes têm mãos invisíveis
e figura tão diáfana
10 10 que os versos para eles
já nascem feitos poemas.
Os ausentes por qualquer acaso
jamais fogem ao nosso convívio
ainda que a distância seja tanta.
15 15 Dos ausentes fica sempre um sorriso
como as pinturas recheias
de surpresa, reencontro, irreal.

Roberto Pontes


- Sítio Virtual Pernambucano da Poesia Contemporânea de Língua Portuguesa
.

AUSÊNCIA - SOPHIA de MELLO BREYNER ANDRESEN
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
.
PABLO NERUDA
Ausencia

Apenas te he dejado,
vas en mí, cristalina
o temblorosa,
o inquieta, herida por mí mismo
o colmada de amor, como cuando tus ojos
se cierran sobre el don de la vida
que sin cesar te entrego.
Amor mío,
nos hemos encontrado
sedientos y nos hemos
bebido toda el agua y la sangre,
nos encontramos
con hambre
y nos mordimos
como el fuego muerde,
dejándonos heridas.
Pero espérame,
guárdame tu dulzura.
Yo te daré también
una rosa.
.

POEMA DE LA AUSENCIA

David Moya Posas
 
Estoy lejos de ti, con el castigo
de verte renacer a cada instante.
Pues siento que entre más y más distante
estás, con mas amor vives conmigo.
 
Aún viviendo sin ti vivo contigo.
Te llevo como lágrima constante.
y si pretendo huir de tu agobiante
recuerdo, sin quererlo lo persigo.
 
lnútil ya lo sé que es todo intento
y aunque sienta la forma como siento
que vives reviviendo lo vivido.
 
Sé que al perderte a ti todo lo pierdo.
Si trato de olvidarme del recuerdo
comienzo a recordarme del olvido.

(Honduras)


*****
LIBERDADE
Victor Nogueira

A felicidade tem o travo amargo
..................de tudo aquilo que é finito
e no entanto distingo
..................por entre a multidão
o teu rosto alegre e o teu ar sereno!
Nas tuas mãos e nos teus dedos
.......................nasce uma criança
que sorri e corre dentro de mim.
Em silêncio junto as palavras
................percorro o teu corpo
................flexível e moreno.
Um rio enche a casa com o murmúrio de mil candeias
enquanto ouço e reconheço os teus passos.
Rio, choro e bailo contigo
quando assomas à porta e
..........busco o veludo dos teus lábios e do teu rosto.
Reparto contigo o pão sobre a mesa
e bebemos o vinho da esperança.
Tudo tem agora outra qualidade
.........................a qualidade do trigo em flor
........................................da brisa incandescente
........................................da sombra refrescante
........................................do sol sem ardor
E no entanto
para lá deste dia
moram o medo, a fome e a solidão
quando tu não estás.



[Victor Nogueira]
,


Todo o dia esperei por ti
.................alinhando o tempo em banho-maria
.................num fervilhar lento e calmo
submergindo a ebulição do meu sentir e pensar
Todo o dia tratei dos meus assuntos
................paguei as contas
................comprei livros
................passeei pela cidade
................temperei os bifes e trouxe o gelado
Todo o dia guardei em mim as mil-palavras
................«expressão» do meu sentir que tão bem conheces
................sem volta na ponta
................talvez maçadoras
Todo o dia estive contigo
...............retraindo o impulso de beijar os teus lábios
..............de afagar o teu rosto e cabelos
Todo o dia refreei a minha impaciência de subir ao Sol e á Lua e cobri-los de estrelas
Todo o dia estive nas tuas mãos
..............frágil como ave inquieta ou cana agitada pela brisa
.....................sem a fortaleza de saber que me queres
Todo o dia não permiti entusiasmar-me com a tua vinda
Todo o dia contei em silêncio os minutos
..............e as horas passaram lentamente
....................... .....................até ao teu telefonema
.............................................à tua voz triste
.............................................às palavras que não dissemos
.............................................à inquietação e desassossego que ficaram em mim
Todo o dia esperei por ti e dói-me a tua ausência!




___________


Fotografia retirada d'aqui deste blog pensadora2

1 comentário:

São disse...

Bela antologia.
A imagem de alinhar o tempo em banho-maria´agrada-me muito.Mas não é a única!
Abraços.