terça-feira, 11 de agosto de 2009

Antes da Meia-Noite

Antes da Meia-Noite.


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Posted: 06 Aug 2009 02:21 PM PDT

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Coisas sem nome, coisas sem forma. Os lados de uma redonda fruta, os lábios de um cavalo, os livros na escrivaninha dispostos. Sentar-se aqui, em plena sexta-feira, sem saber como começar voltar a escrever. A plena sexta-feira é um ótimo dia para sentar-se, a cabeça cheia de palavras, e atiçar a compostura do mundo.

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Cavalgadura das coisas sem nome, ressurgimento das coisas para as quais não há palavras: as hortas orvalhadas, as anáguas, as mãos postas sobre o peito em atitude de prece. Pois é justamente isso que a sexta-feira pede, agora estou descobrindo – uma prece. Ajuda-me, pai, a achar a palavra certa para falar do que é fugidio demais. Ajuda-me a encontrar uma palavra que seja tão fugidia como são as coisas, tão lisa como é liso o mundo. Ajuda-me, pai, a escrever algo que seja não como eu sou, mas como é o mundo – aos trancos, abismável, frutífero.

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Eu amparo a sexta-feira e abro a janela para que o cheiro que a noite tem penetre em mim e me mova a escrever algo que descreva – não a minha paisagem – mas a paisagem da noite, os carrilhões, os túneis, as guelras, o mercúrio. Não é fácil essa experiência. A sexta-feira não ajuda, pois é hermética. Ela é só uma promessa e proíbe intrusões em seu núcleo. Fundos são os galões e as cápsulas; quadrangulares são as câmaras que a noite abre; buliçosas são as façanhas na noite perpetradas; macios são os teus pés ocultos sob a treva, mas insalubres os porões da noite, agudos os guinchos.

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Preciso encontrar um ritmo adequado. Pois é provável que, à meia-noite, vestido, alimentado e pronto, eu olhe para trás, já no sábado, e encare a sexta-feira morta sem saber realmente do que ela foi feita. A sexta-feira, então, finada, permanecerá um mistério – como, no fim das contas, todo o resto das coisas permanece.


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Posted: 05 Aug 2009 01:38 AM PDT

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in Blog A Maçã no Escuro

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