sábado, 21 de abril de 2012

Do Lado de Cá do Mar, de Philip Graham


ilcviagens

Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Março 23rd, 2012  

Do Lado de Cá do Mar - Crónicas de um Americano em Lisboa, Editorial Presença, 2012
«Não sei por que é que adoro Lisboa. Mas agarrei a oportunidade de participar na conferência internacional sobre contos a decorrer aqui esta semana. [...] Quando passeio por estas ruas calcetadas, captando aqui e ali vislumbres da proximidade do rio Tejo, ou absorvendo, do alto de uma das colinas da cidade, a gloriosa e íngreme topografia dos edifícios brancos com os seus telhados cor de salmão, sinto que também estou a viajar através de uma paisagem interior, que aquelas ruas conduzem a um lugar dentro de mim que ainda não consegui localizar.»


Philip Graham (2012), Do Lado de Cá do Mar – Crónicas de um Americano em Lisboa, Editorial Presença, pp. 18-19

DO LADO DE CA DO MAR PHILIP GRAHAM

Uma maravilhosa compilacao de memorias, Do Lado de Ca do Mar libertou-me da minha vida monotona e transportou-me para a aventura em Lisboa da familia Graham. Foi uma aventura diaria, cheia de coisas familiares, de novas rotinas e de pequenas batalhas. Senti alguma tristeza quando tudo acabou, alguma saudade a insinuar-se na minha vida.â Andrew Saikali, The Millions Philip Graham e um apaixonado por Portugal e por Lisboa, uma paixao que se alicerca num conhecimento profundo da cultura portuguesa e que se materializa em cada pagina deste livro. Trata-se de uma serie de textos, entre a cronica, a literatura de viagens e as memorias familiares, em que o autor relata o ano que viveu no nosso pais na companhia da mulher e da filha. Graham leva-nos por um periplo pelas calcadas lisboetas, pela culinaria, pelo fado, que e tambem um periplo interior, historico e literario e que nos faz redescobrir os encantos de se ser portugues. A obra conta com uma introducao da autoria de Rui Zink.«
data de publicacao 14.02.2012 | C.B. 9789722347365 | S/IVA 12,17 . – C/IVA 12,90 . – 204 pags
Time Out Lisboa logo 
Um americano em Lisboa


Como Sting em Nova Iorque, Philip Graham foi um extraterrestre na nossa cidade. Essa experiência deu um livro, que Ana Dias Ferreira já leu.


Do Lado de Cá do Mar nasceu do outro lado do oceano: na revista McSweeney’s, nos Estados Unidos, onde Philip Graham nasceu, vive e ensina. Mas a capa com uma fotografia da Rua da Bica de Duarte Belo não engana: este é um livro sobre Lisboa, ou pelo menos que tem na cidade o seu enfoque maior.

Foi em Junho de 2006 que tudo começou: o escritor norte-americano veio a Lisboa participar numa conferência internacional sobre contos. Portugal jogava contra a Holanda nos oitavos de final, Cristiano Ronaldo era forçado a ser substituído por causa de uma entrada faltosa, e enquanto os ânimos se exaltavam numa tasca do Bairro Alto, Philip Graham deliciava-se com as sardinhas no prato, “muito maiores do que aquelas coisinhas atrofiadas e enlatadas que dão pelo mesmo nome nos Estados Unidos” . Um mês depois, o escritor regressava de armas e bagagens para viver na cidade durante um ano, enquanto a mulher, antropóloga, fazia um trabalho sobre os cabo-verdianos em Lisboa. E foram esses 12 meses que deram este livro, publicado originalmente nos EUA com o título The Moon, Come to Earth: Dispatches from Lisbon, e que chega agora às livrarias portuguesas com o nome retirado de uma música de Mário Laginha que aparece quase no final: Do Lado de Cá do Mar – Crónicas de um americano em Lisboa.
Ler este livro, como escreve aliás Rui Zink na introdução, é “espreitar pelo buraco da fechadura alguém que pensava estar a espreitar-nos pelo buraco da fechadura”. E a verdade é que começa como um verdadeiro prazer, em crónicas pitorescas que captam o tal ambiente da tasca do Bairro Alto durante um jogo do Mundial – e a presença sempre importante do futebol na cidade, seja numa copa do mundo, seja num jogo do Benfica – ou que defendem teses como a de que é impossível escapar à carne de porco na cidade ou que os portugueses têm com passatempo nacional engolir sílabas quando falam. Escritor, amigo do próprio Rui Zink e de Gonçalo M. Tavares, Graham é sem dúvida erudito e consegue citar uma série de autores como Fernando Pessoa (um dos seus preferidos), Ana Hatherley, Miguel Torga e Pedro Tamen sem que isso pareça forçado. E tem, caso raro, um sentido de humor que vai espalhando em boas notas ao longo do livro. Como quando fala dos doces conventuais, “confeccionados com ovos até ao âmago”, e afirma: “São tão bons que às vezes penso que Deus criou as galinhas só para que os portugueses pudessem preparar sobremesas.” (p. 81)
O problema, e talvez a culpa seja das expectativas introduzidas pelo pós-título ou do facto de o livro surgir depois de Os Portugueses, um retrato também exterior e muito completo de Barry Hatton, é que estas não são crónicas de um americano em Lisboa. São também memórias de um pai de uma filha adolescente numa nova cidade e registos bastante impressionistas de viagens em família até à Serra da Estrela, Santarém ou Óbidos. Ou seja, Lisboa está cá, com o seu fado, as suas pedras da calçada, o Mosteiro dos Jerónimos e a saudade, mas o cenário acaba por perder-se no meio de outras divagações e nunca sentimos que esta seja uma história da cidade ou que ela consiga elevar-se à categoria de personagem.
Para um norte-americano, pode ser uma boa porta de entrada na cidade das sete colinas. Para um lisboeta, sabe ao mesmo que as atrofiadas sardinhas americanas: a pouco.
quarta-feira, 29 de Fevereiro de 2012

05-04-2012 às 08:56
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«Do Lado de Cá Do Mar»: Lisboa vista por um norte-americano



Por Sofia Catarino


«Do Lado de Cá Do Mar», de Philip Graham e com uma introdução da autoria de Rui Zink (Presença), pode ser definido como um livro de crónicas de um americano em Lisboa, mas todo ele é muito mais do que isso. Os textos que deram origem ao livro, quando juntos, transformam esta obra em algo maior e mais abrangente.


Philip Graham lecciona na Universidade de Illinois e na Faculdade de Belas-Artes de Vermont. É autor de duas colecções de contos e um romance, além de co-fundador da revista de literatura e artes Ninth Letter. Apaixonado por Portugal, concretamente por Lisboa, editou em livro algumas crónicas sobre a cidade, «Philip Graham passa um ano em Lisboa», em McSweeney´s Internet Tendency.
«Do Lado de Cá Do Mar» é uma série de textos, entre a crónica, a literatura de viagens e as memórias familiares, em que o autor relata o ano que viveu no nosso país na companhia da mulher, a antropóloga Alma, e da filha Hannah, de 11 anos. A vinda para Lisboa aparece como uma oportunidade há muito desejada, pois o fascínio e atracção de Graham pela cidade são confessados logo no primeiro capítulo. Evidentemente que o ano em causa transforma-se num grande desafio para toda a família, que vive uma mistura entre o prazer da descoberta e as dificuldades de integração.
Ao longo das várias crónicas/capítulos, somos levados a descobrir a Lisboa de sempre, mas segundo um novo olhar, o olhar de alguém de fora com a sensibilidade e o interesse de ver muito além do óbvio e da imagem feita. Lisboa (e Portugal) é vista e descrita por um americano, mas não um americano anónimo ou tipificado.
Acedemos à visão de alguém que nos observa à luz das suas experiências, raízes e convicções. Como diz Rui Zink na sua introdução, «…estamos a espreitar pelo buraco da fechadura alguém que pensava estar a espreitar-nos pelo buraco da fechadura».
Portanto, «Do Lado de Cá Do Mar» é muito mais do que um livro de viagens. Através dele descobrimos outras experiências e realidades culturais; conseguimos perceber como as nossas raízes e crenças influenciam o modo de ver o mundo; espantamo-nos com comparações entre realidades políticas e sociais que víamos como muito distintas mas afinal podem ter semelhanças; e, acima de tudo, desvendamos outro olhar sobre nós próprios, em que o que nos parece óbvio pode ser afinal algo extraordinário, como as ruas terem nomes de escritores, por exemplo.
O mais surpreendente é que esta é também, indubitavelmente, uma série de crónicas de um ano na vida dos membros de uma família em que, como o próprio autor refere, os próprios se tornam personagens. Não ficamos indiferentes às suas vivências, conquistas e dificuldades. Se o autor chamasse à cidade e ao país do livro que escreve não Lisboa e Portugal, mas quaisquer outros nomes fictícios, ficaríamos na mesma presos pela narrativa dos episódios vividos pela família de Graham, querendo até ao fim saber como ficaram, mesmo depois de terem voltado ao lado de lá do mar.
Temos portanto um livro que podemos ler e reler, explorando as suas várias facetas e descobrindo sempre um novo pormenor, em que contamos ainda com a ajuda das notas finais que, aos «outros», podem servir para «explicar» Portugal, mas que, a nós, explica como os «outros» nos vêem. Na realidade, Graham leva-nos a redescobrir os encantos de se ser português.


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