sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cantado por Adriano


Avante! 
N.º 2003 
19.Abril.2012 

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Menina dos Olhos Tristes

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


Senhora de olhos cansados
porque afatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
 é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar


Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar

Música: Zeca Afonso
Letra: Reinaldo Ferreira
  Fala do Homem Nascido


Venho da terra assombrada
do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.


Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.


Trago boca pra comer
e olhos pra desejar.
Tenho pressa de viver
que a vida é água a correr.

Tenho pressa de viver
que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder.


Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao Norte.
Meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.


Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham.
Nem forças que me molestem
correntes que me detenham.


Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu.
E as forças da natureza
nunca ninguém as venceu.


Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar.


Não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

Venho da terra assombrada (…)


Música: José Niza
Letra: António Gedeão
  Cantar de Emigração


Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

Este parte, aquele parte (…)

Música: José Niza
Letra: Rosália de Castro
  Tejo que Levas as Águas

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar


Lava-a de crimes espantos
 de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores


Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas


Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro


Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata


Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar


Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais


Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas


Leva nas águas as grades (...)


Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo


Tejo que levas as águas (…)

Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: Manuel da Fonseca
  As Balas


Dá o Outono, as uvas e o vinho,
dos olivais, azeite nos é dado.
Dá a cama e a mesa o verde pinho,
as balas deram sangue derramado.


Dá a chuva o Inverno criador,
às sementes dá sulcos o arado.
No lar a lenha em chama dá calor,
as balas deram sangue derramado.


Dá a Primavera o campo colorido,
glória, coroa do mundo renovado.
Aos corações dá o amor renascido,
as balas deram sangue derramado.


Dá o Sol as searas pelo Verão,
o fermento no trigo amassado.
No esbraziado forno cresce o pão,
as balas deram sangue derramado.


Dá cada dia ao Homem novo alento,
de conquistar o bem que lhe é negado.
Dá a conquista um puro sentimento,
as balas deram sangue derramado.

De meditar, concluir, ir e fazer,
dá sobre o mundo o Homem atirado.
À paz de um mundo novo onde viver,
as balas deram sangue derramado.


Dá a certeza o querer e o construir,
o que tanto nos negou o ódio armado.
Que a vida construída é destruir,
as balas que deram sangue derramado.


Essas balas deram sangue derramado,
só roubo e fome e o sangue derramado.
Só ruína e peste e o sangue derramado,
só crime e morte e o sangue derramado.

Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: Manuel da Fonseca
  Trova do Vento que Passa


Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
O vento nada me diz.


Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.


Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Música: António Portugal
Letra: Manuel Alegre
  Lágrima de Preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.


Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.


Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente.


Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais.


Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o que é costume.


Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água quase tudo
e cloreto de sódio.

Música: José Niza
Letra: António Gedeão

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