sábado, 21 de abril de 2012

Paulo Moreiras - O Ouro dos Corcundas



06 Oct 2011 11:36


O Ouro dos Corcundas - Paulo Moreiras

O Ouro dos Corcundas
Paulo Moreiras 

Editora: Casa das Letras
Número de Páginas: 280 
ISBN: 9789724620442
Classificação: Romance
Data de publicação: 12 de Outubro de 2011 

Sinopse: «A guerra entre Absolutistas e Liberais está ao rubro quando Vicente Maria Sarmento retorna a Chão de Couce, após receber a notícia da morte do pai. Mas esse regresso tem um sabor duplamente amargo; em Lisboa, onde viveu os últimos anos, Vicente Maria pertenceu a um bando de salteadores e esteve preso no Limoeiro, donde só saiu por obra e graça dos malhados, que assaltaram a cadeia para libertar os partidários de D. Pedro. Antes de seguir para casa da mãe, para sossego do corpo e do espírito, Vicente Maria dirige-se para a Venda do Negro, acabando a noite nos braços da puta Tomásia, que nunca esqueceu e a quem promete casamento e vida honesta. 

Contudo, o seu regresso reacende na vila antigos ódios e paixões e os seus inimigos estragam-lhe os planos. Não lhe resta, pois, senão juntar- se a um novo grupo de bandidos, esperando que as pilhagens lhe rendam o bastante para se pôr a milhas dali com a amada. Quem também se vê em apuros é D. Miguel, atacado por todos os lados, a quem as vénias dos corcundas já de nada servem. 

Projectado o assalto a uma família de fidalgos ricos em viagem, é numa curva da estrada que o bando intercepta uma carruagem, sem saber que os destinos de Portugal se jogam nesse preciso instante. E é pela ousadia de Vicente Maria que, afinal, se alterará o rumo da História, embora os livros injustamente o omitam. 

Com uma linguagem poderosa e um humor digno da melhor literatura picaresca, o presente romance é uma homenagem aos heróis anónimos que ajudaram a construir as respectivas nações e um fresco sublime das lutas liberais.»


Paulo Moreiras nasceu em Moçambique, em 1969. O seu primeiro romance, A Demanda de D. Fuas Bragatela, foi publicado em 2002, a que se seguiu o livro de poesia Do Obscuro Ofício (2004), o ensaio premiado Elogio da Ginja (2006) e o romance Os Dias de Saturno (2009). Escreveu também uma série de opúsculos, em colaboração com o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, composta por o BI da Cereja e da Ginja (2007), o BI do Palito (2007), o BI do Tremoço (2008), o BI da Perdiz (2009) e o BI da Morcela (2010).


Por Maria do Rosário Pedreira, às 09:29 | 
Nas guerras liberais, os malhados eram os liberais e os corcundas os absolutistas. Estes faziam demasiadas vénias, andando sempre curvados ao seu rei, daí o epíteto; e, porque uma mula malhada se empinara e deixara cair D. Miguel ao chão, passaram a dizer-se malhados os partidários do seu irmão D. Pedro. Ora, é no contexto desta guerra que se desenrola o último romance de Paulo Moreiras, O Ouro dos Corcundas – a deliciosa história de Vicente Maria Sarmento, regressado a Chão de Couce depois de uns anos na cadeia do Limoeiro, em Lisboa, pronto a regenerar-se e a viver em paz e decência o resto dos seus dias com a puta Tomásia, que não conseguiu esquecer desde que rumou à capital. Mas, se os dois irmãos estão em guerra pelo trono de Portugal, a Vicente Maria também não são poupados adversários e rivais, e as suas boas intenções ver-se-ão sistematicamente goradas. Valer-lhe-á um último golpe de má conduta, mas o acaso pregar-lhe-á uma partida das grandes, mostrando que um pequeníssimo imprevisto pode, realmente, mudar a história de um país inteiro. Cheio de humor e recorrendo a uma linguagem rica e poderosa, eis o novo romance de um escritor que se tem destacado na literatura picaresca em Portugal.


Leitura e opinião


ATURDAY, OCTOBER 22, 2011

O ouro dos corcundas








O ouro dos corcundas

Paulo Moreiras, Casa das Letras, Outubro 2011

Paulo Moreiras surpreendeu-nos, em 2002, com a publicação do excelente romance picaresco A demanda de D. Fuas Bragatela. Porque o que dele conhecíamos era O elogio da ginjaque, embora, por vezes, possa induzir ao pícaro, nada tem a ver com a prosa romanesca já que se trata de uma espécie de biografia daquele fruto.

Publicado em 2000 e reeditado em 2006 com novo formato, veio a ser premiado internacionalmente nesse ano com dois prémios Gourmand, considerados os Oscars da literatura gastronómica. Com fotografias de Paulo Cunha, a obra venceu duas das categorias relativas a livros portugueses Melhor Livro Temático de Gastronomia e Melhor Fotografia de Livro de Gastronomia.

Pelo caminho ficou Do obscuro ofício, livro de poesia publicado em 2004.

Entusiasmado com O elogio da ginja Paulo Moreiras escreveu várias monografias, ou Bilhetes de Identidade, do palito, do tremoço, da perdiz e da morcela.

A estes trabalhos de investigação escritos de forma simples e acessível, não é estranho o facto do autor ser um bom garfo.

O segundo romance, Os dias de Saturno, surge em 2009, já em nova editora.

Em Outubro de 2011 acaba de ser publicado o seu mais recente livro.

O ouro dos corcundas é um romance amadurecido, na linha da primeira obra. Um romance picaresco que nos prende da primeira à última página.

Paulo Moreiras fez uma investigação aturada sobre a época das lutas liberais, mas não uma investigação do tipo académico. O Autor reporta-nos a vivência do povo da época, seja em Lisboa, seja, e sobretudo, nas pequenas vilas ou aldeias do interior. O falajar das gentes deixa-nos sem fôlego. Se alguns termos caíram em desuso, não será por isso que a prosa deixa de se entender – e de que maneira!

A informação histórica é profusa mas equilibrada pela forma como se integra e dilui na narrativa. Com um humor digno da melhor literatura picaresca.

A história passa-se na região de Leiria – Pombal, onde Moreiras vive, entre tabernas e quadrilhas de assaltantes de estrada, não faltando senhores e lacaios.

Para aguçar o apetite, deixemos aqui o excerto aposto em badana da capa:

“Na taberna do Cutrelhas Malafaia, entre pratos de chouriço com ovos e tinto de Colares, Vicente Maria ficara a saber, nas suas rapaces deambulações, mais pontos sobre a história da viúva: comentava-se à boca cheia que ela, além de teres e haveres de grande monta, fruía de um baú forrado com muitos contos de réis porque sabia escolher com argúcia os seus maridos, que tinham tanta vantagem de dinheiro como tinham de anos, pois todos eram avelados e com os pés embicados para a tumba. Ao fim de pouco tempo em companhia de jovem tão fogosa de vida, tal era a felicidade e plenitude que os consumia que os vetustos consortes acabavam por finar com um sorriso nos queixos, licenciando à mimosa viuvinha dilatadas heranças e basto cabedal”.

Não será de mais repetir que O ouro dos corcundas é uma obra amadurecida. Um romance picaresco que nos prende, alucinadamente, da primeira à última página.


Sines, 22 de Outubro de 2011
Joaquim Gonçalves

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