sábado, 21 de abril de 2012

“Os Portugueses”, de Barry Hatton


Os Portugueses

Apesar da incapacidade para chegar a horas, da falta de civismo na estrada e de um bairrismo exagerado, traços da nossa personalidade enquanto povo, Portugal é, ainda assim, um país apaixonante.

No livro "Os Portugueses", Hatton relembra os principais momentos históricos que marcaram a nação, desde o período áureo dos Descobrimentos aos anos governados por Oliveira Salazar, sem esquecer a pela peculiar relação com Espanha, e termina com uma análise sobre a modernidade.

«A minha intenção é lançar algumas luzes sobre este enigmático canto da Europa, descrever as idiossincrasias que tornam único este adorável e, por vezes, exasperante país e procurar explicações, fazendo o levantamento do caminho histórico que levou os portugueses até onde estão hoje.», avança o autor na nota prévia da obra.

Paralelamente, a construção da identidade de Portugal enquanto povo e os vários estereótipos que (ainda) reinam além fronteiras são abordados e apresentados através de episódios vividos pelo autor ou por pessoas que lhe são próximas. De leitura obrigatória para todos quantos desconhecem a verdadeira alma lusa, portugueses ou não, "Os Portugueses" é uma obra obrigatória, escrita de forma apaixonada por um dos correspondentes mais antigos da imprensa internacional no nosso país.

Barry Hatton vive em Portugal há quase 25 anos. Correspondente da Associated Press em Portugal, o jornalista britânico revela no livro Os Portugueses aquilo que somos enquanto país e enquanto povo. Pelo menos aos olhos dos estrangeiros.


O Coiso Incorrecto

Correcto é um pleonasmo

“Os Portugueses”, de Barry Hatton


Barry Haton nasceu em Inglaterra, em 1963, mudou-se para Portugal em 1986, tornou-se correspondente da United Press Internacional, em Lisboa, em 1992 e é correspondente da Associated Press, desde 1997, cobrindo toda a actualidade portuguesa.


Trata-se, portanto, de um jornalista estrangeiro que decidiu estudar Portugal e os portugueses e relatar as suas conclusões neste livro, que não deixa de ser curioso.

Achei, sobretudo, que Haton conseguiu fazer um resumo muito bem feito da História do nosso país e que poderia ajudar muitos dos meus compatriotas a conhecer e perceber os acontecimentos históricos que nos marcaram.

Pena é que, aqui e ali, a língua portuguesa traia o jornalista britânico. Pena, também, que ninguém da editora tenha reparado nesses pequenos erros.

Só dois exemplos.

Na página 131: «(Antero de Quental) iniciou uma brilhantedigressão que permaneceria como um dos mais famosos discursos da história portuguesa» – não será “dissertação”, em vez de “digressão”?

Na página 171: «dezenas de milhar de pessoas (…) saíram para o aclamar (a Humberto Delgado) num electrificante comício de campanha no Porto» – não será “electrizante” em vez de “electrificante”?

Passando por cima dessas minudências, o livro lê-se muito bem e é um retrato certeiro de nós todos, com recurso a abundantes citações, desde Mark Twain a Fernando Pessoa.


Quando o dedo aponta a Lua, os idiotas olham para o dedo.

Os Portugueses, Barry Hatton, tradução de Pedro Vidal, Edições Clube do Autor. S.A. info@clubedoautor.pt,  Maio de 2011

Numa altura de gravíssima crise, que ninguém sabe como nem quando vai acabar, nada melhor, no meu entender, do que documentar-se na medida do possível, de forma a tentar compreender onde estamos e como chegámos a esta triste situação. Britânico há muito residente em Portugal, jornalista e excelente observador, Barry Hatton é casado com uma portuguesa, de quem tem três filhas, também portuguesas. O seu livro é, quanto a mim, uma suculenta, enriquecedora e amena leitura sobre o povo que sempre fomos e somos, numa linguagem irónica e fingidamente distanciada, como só os ingleses sabem usar. Eis cinco excertos selecccionados, assim a título de amuse-gueule, que é como quem diz acepipes, em linguagem pessoana.

"Quando disse à minha filha mais velha, nascida em Portugal, então com 15 anos, que estava a escrever este livro, a sua resposta imediata foi: "Oh pai! Não nos faças parecer um bando de saloios, que é o que toda a gente pensa de nós." Tinha alguma razão. Até mesmo os portugueses concordam por vezes com isso. Não é invulgar  ouvir um taxista português a vociferar contra a falta de habilidade para conduzir dos seus compatriotas, nesta linha: "Somos um bando de camponeses a viver numa cidade." E quando num avião cheio de portugueses se começa espontaneamente a bater palmas por causa da aterragem bem sucedida da aeronave, é palpável o embaraço de alguns dos seus compatriotas." (Pág. 26)

"Um amigo português contou-me que o dono de um restaurante que conhecia, enganou um casal de ingleses, levando-o a pagar um preço muito mais elevado do que a conta, por um prato de sardinhas. E gabava-se da história. Mas quando uma das maiores empresas turísticas britânicas se retirou, porque a região se tornara demasiado cara, os donos dos restaurantes foram a correr ter com o governo para que os salvasse."(Pág. 43)

"Um jornalista estrangeiro recém-chegado... ...que se esforçava por compreender o português, fez uma nota mental para pedir uma entrevista com um homem chamado "Pá", que nunca tinha visto, mas que era repetidamente mencionado sempre que as pessoas discutiam. Deve ser, pensou o meu colega, alguém poderoso, alguma figura obscura que puxa os cordelinhos atrás do cenário -um general, talvez. Ou um político ligado ao KGB." (Pág. 193)

"Em especial nas pequenas vilas rurais, onde as relações são mais pessoais do que oficiais, os políticos locais mantiveram as mãos metidas na bolsa da UE e entregaram-se a gastos estouvados e frívolos, que perpetuavam o patrocínio e o nepotismo. A criação de riqueza perene foi muito frequentemente negligenciada. O presidente do Tribunal de Contas reconheceu, em 2008, que"muitas infra-estruturas foram construídas para ninguém."Foram uma manifestação da síndrome de "pontes-para-nenhures". (Pág. 224)

"Uma atitude desdenhosa em relação à noção de ordem talvez seja mais visível na confusão rural de Portugal. As cidades da província parecem ter sido planeadas nas costas de um guardanapo de papel, durante o almoço. Mesmo os locais que contêm notáveis jóias arquitectónicas e históricas, como Tomar, com o seu Convento de Cristo, do século XII, estão desfigurados pela arquitectura urbana desleixada. "Tomar é feia!", suspirou a minha mulher (portuguesa), enquanto a atravessávamos de carro." (Pág. 228)

Gostou? Então está à espera de quê?! Se está em Tomar, ala direito à Livraria book.it do Modelo/Continente. Ontem ainda restavam cinco exemplares. No expositor central, à esquerda de quem entra, na face virada para o exterior, livros expostos com a lombada para cima, sensivelmente a meio. Boa sorte...e  boa leitura!


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