* Carlos Coutinho
Carlos Coutinho
10 h ·
NÃO raro, dois grandes escritores italianos, um ateu e outro judeu, um célebre com o seu “A Lua e as Fogueiras” e outro com “É Isto Um Homem?”, um nascido em 1908 e chamado Cesare Pavese e outro em 1923 para ficar com o nome Italo Calvino, mas ambos sepultados em Turim, um guerrilheiro antifascista (partigiano) que passou um ano encarcerado no Sul da Itália (em Barcaleone, Reggio Calabria), suicidando-se em 1950, depois de escrever “Ofício de Viver”, e outro nascido nos arredores de Havana, Cuba, transitando para Siena em menino com seus os pais judeus e, pouco depois, enviado para o Sul da Polónia ocupada, como prisioneiro dos nazis em Auschwitz, onde viu e sofreu todos os horrores, até ser libertado pelo Exército Vermelho, em 1945.
De Cesare é forçoso anotar que nasceu em Santo Stefano Belbo no dia 9 de setembro de 1908 e faleceu em Turim a 9 de agosto de 1950, tinha eu uns inocentes 7 anitos menos 15 dias e muita energia duriense para a brincadeira aldeã com os outros miúdos de Fornelos. Comprometeu-se de corpo e alma na luta armada antifascista, o que lhe rendeu um pavoroso ano de cárcere no Sul da península.
Nessa época, iniciou o seu diário “O Ofício de Viver” (Il Mestiere di Vivere”), uma autocrítica largamente desenvolvida em reflexões sobre a sua arte, os seus processos criativos e o sentido da existência da sua própria existência.
Há que acrescentar que Pavese já não era um desconhecido quando, em 1936, publicou “Lavorare Stanca” (Trabalhar cansa), porque já havia dado à estampa vários estudos sobre casos da literatura norte-americana clássica e contemporânea, reunidos posteriormente num volume publicado postumamente em 1951 (La letteratura americana e altri saggi), além de se notabilizar como tradutor muito fiel de Daniel Defoe, Charles Dickens, Herman Melville, James Joyce, Sinclair Lewis, John dos Passos, Gertrude Stein e William Faulkner.
Legou ao mundo uma obra valiosíssima: “A lua e as fogueiras” (1958); “Antes que o galo cante” (1959); “O ofício de viver”, diário (1935-1950); “A guitarra quebrada”, romance (1960); “Entre mulheres sós” (196?); “O diabo sobre as colinas” (1962); “Férias de Agosto” (1965); “A Praia” (1965); “O Verão” (1965); “Terras do meu país” (1969); “O camarada” (1974); “Trabalhar cansa” (1998); e “Diálogos com Leucó” (2007).
Trabalhou com Italo Calvino na Einaudi, onde desempenhou um papel fundamental, como, aliás, o judeu que amparou e guiou, quando voltou da Provinz Oberschlesien, Regierungsbezirk Kattowitz, Landkreis Bielitz, a oeste de Cracóvia onde Hiter montou o complexo de campos de concentração de Auschwitz, abrangendo uma grande área industrial rica em recursos humanos e naturais.
Havia um total de 48 campos no complexo. Os maiores eram Auschwitz I, Auschwitz II–Birkenau e Auschwitz III–Monowitz ou Buna, um campo de trabalhos forçados.
O centro administrativo do complexo ficava em Auschwitz I, onde cerca de 70 mil pessoas morreram, na sua maioria polacos étnicos e prisioneiros soviéticos.
Auschwitz II era o campo de extermínio ou Vernichtungslager, onde não menos 960 mil judeus, 75 mil polacos e 19 mil ciganos foram assassinados. Auschwitz III-Monowitz servia como campo de trabalho para a fábrica Buna-Werke, do conglomerado industrial IG.
O escritor e químico Primo Levi, sobrevivente de um ano de confinamento em Auschwitz III-Monowitz e autor de “É isto um homem?”, livro de leitura angustiante sobre o que Primo viu no campo de extermínio industrializado que tinha sobre o portão de entrada “Arbeit macht frei” ( Trabalhar liberta).
A SS selecionava alguns prisioneiros, geralmente criminosos alemães, como supervisores com privilégios (os chamados kapos, alguns deles judeus que assim pensavam safar-se e minorar o sofrimento dos outros). Judeus e prisioneiros soviéticos eram geralmente os tratados da pior maneira.
Todos os encarcerados tinham que trabalhar nas fábricas de armas associadas ao complexo, à exceção dos domingos, reservado para limpeza e banho. Dos primeiros 10 mil prisioneiros de guerra soviéticos internados, apenas algumas centenas deles sobreviveram aos cinco primeiros meses.
No porão do bloco ficavam as celas da fome", onde os presos ficavam sem receber comida ou água, até que morressem. Aí ficavam também as celas escuras", que tinham apenas um pequeno espaço na parede para respirar e portas sólidas; os prisioneiros colocados nestas celas permanentemente na escuridão iam gradualmente sufocando à medida que o oxigénio ia rareando dentro delas.
Às vezes, os guardas da SS acendiam velas para fazer o oxigénio acabar mais depressa; muitos dos ali aprisionados eram suspensos com as mãos amarradas para trás por horas ou mesmo dias, o que fazia que, com o passar do tempo, suas clavículas fossem deslocadas.
Em 3 de setembro de 1941, o subcomandante SS-auptsturmführer Karl Fritzsch fez uma primeira experiência bem-sucedida com 600 prisioneiros de guerra soviéticos e 150 polacos, trancando-os dentro de um dos porões do bloco 11 e gaseando-os com Zyklon-B um pesticida altamente letal à base de cianureto, com que a Bayer fez bom negócio.
Foi aí que finalmente começou a Solução Final para o problema judeu, o seu extermínio como povo que os israelitas agora tentam por outros meios concretizar na Palestina ocupada, especialmente na Faixa de Gaza.
A primeira câmara de gás de Auschwitz era conhecida como a Pequena Casa Vermelha, uma pequena construção de tijolos convertida em instalação de gaseamento, que intensamente matou, a partir de março de 1942. Uma segunda construção, a Pequena Casa Branca, também foi convertida em câmara de gaseamento, algumas semanas depois.
No começo de 1943, estava eu para nascer, os nazis resolveram ampliar a capacidade de gaseamento em Birkenau. O crematório II, originalmente construído como câmara mortuária, com necrotérios no porão e fornos no mesmo nível do solo, foi convertido numa fábrica de assassinatos, colocando-se uma porta à prova de gás no necrotério e adicionando entradas para o Zyklon-B e aparelhos de ventilação para remover os cadáveres.
Este sistema começou a funcionar em março. O crematório III foi construído para usar o mesmo método. Os fornos IV e V, planeados exclusivamente como centros de gaseamento, foram construídos na primavera-verão de 1943, dois meses antes do meu nascimento, já funcionavam plenamente.
Os kapos e os Sonderkommandos eram prisioneiros com privilégios: os primeiros tinham a obrigação de manter a ordem nos alojamentos e os segundos preparavam os recém-chegados imediatamente selecionados para morrer – geralmente as crianças, os anciãos e os doentes – nas câmaras de gás, seguindo depois os seus corpos para os fornos.
Os subcampos femininos foram construídos em Budy, Pławy, Zabrze, Gleiwitz I, II, III, Rajsko e Lichtenwerden. Eram chamados de Aussenlager (campo externo), Nebenlager (campo de extensão) e Arbeitslager (campo de trabalho).
No total, cerca de 7 mil membros das SS foram designados para servirem em Auschwitz durante toda a existência dos campos. A principal autoridade geral ali era o Departamento de Economia da SS, conhecido como SS-Wirtschafts-Verwaltungshauptamt ou SS-WVHA; dentro do WVHA, estava o Departamento D que comandava diretamente as atividades.
A Gestapo, que viria a dar aulas à nossa PIDE, também mantinha um grande escritório em Auschwitz, com funcionários e oficiais uniformizados. No seu corpo médico, Joseph Mengele deu cartas e fez experiências com intenção científica.
Uma orquestra de prisioneiras, a Orquestra Feminina de Auschwitz, era forçada a tocar grotescamente uma música alegre, à medida que os prisioneiros passavam pelos portões a caminho do trabalho. Esta orquestra foi criada pela supervisora-SS do campo feminino, Maria Mandel que, pelas suas atrocidades, ficou conhecida como A Besta. A Bayer, então uma subsidiária da IG Farben, comprava prisioneiros de Birkenau para servirem de cobaias nos testes de novas drogas.
Heissmeyer, que considerava os judeus como animais de laboratório, comandava experiências em crianças e fez diversas experiências hdiondas, injetando bacilos vivos da tuberculose diretamente nos pulmões dos prisioneiros, na tentativa de conseguir uma vacina para a terrível doença que tantos europeus e asiáticos matou.
No Julgamento de Nuremberga, o ex-comandante do campo entre 1940 e 1943, Rudolph Höss, declarou que Adolf Eichmann lhe tinha falado de 2,5 milhões de mortos, mas admite-se que tenham sido cerca de 4 milhões, nas contas do Museu Estatal de Auschwitz.
Os negacionistas do Holocausto dizem que isso não passa de um mito.
Várias indústrias alemãs construíram as suas fábricas na área, para aproveitarem o trabalho escravo proporcionado por Morowitz, criando os seus próprios subcampos, destacando-se, além da Bayer, a Siemens-Schuckert e a indústria de armamentos Krupp AG, dirigida por Alfried Krupp, um membro da família e carrasco SS.
Uma “filósofa” judia, Hannah Arendt, que foi secretária e amante de um reitor nazi, Heidegger, foi proibida de entrar em Israel, porque, além do mais, inventou o conceito de “banalidade de mal” que absolve todos os beleguins hitlerianos, já que eles “se limitavam a cumprir ordens dos seus superiores”.
Peço desculpa a quem foi lendo este apontamento até aqui chegar, porque talvez tenha sofrido tanto como eu a pesquisar e a reduzir ao mínimo possível o resultado das minhas irreprimíveis pesquisas.
Prisioneiros de Auschwitz libertados pelos soviéticos no dia 27 de janeiro de 1945
2024 12 19
https://www.facebook.com/carlos.coutinho.7186896
Sem comentários:
Enviar um comentário