quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Fernando Pessoa - [Não quero rosas, desde que haja rosas]

* Fernando Pessoa

Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

7-1-1935
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa.

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