* Raul Luis Cunha
13 de dezembro de 2023 ·
Penso que a resposta é multidimensional. Não existe uma solução mágica para a questão de estar preparado para resistir contra a propaganda. Eu vejo isso em termos de dados bons e maus, tentando a remoção do aspecto “emocional” e sentimental. Podem-se desenvolver fontes de dados confiáveis ao fim de um longo período de tempo, sabendo quais são aquelas em que se pode confiar com base numa repetida confirmação do seu produto. Eu sigo as fontes para as quais desenvolvi uma boa aceitação ao longo do tempo, através de uma espécie de processo mental que as avalia quanto à sua credibilidade e baseado em quão escrupulosas foram durante um largo período na limpeza da sua informação.
É claro que o próximo aspecto é executar grandes quantidades de referências cruzadas. Em especial se for um tipo de afirmação importante, nunca podemos acreditar apenas na palavra de uma só fonte e devemos cruzar referências das alegações, tanto quanto possível, o que inclui tanto as do lado russo como as do lado ucraniano.
O próximo aspecto é psicológico. Eu sinto que há que entender a psicologia de cada nível das pessoas envolvidas, para avaliar adequadamente as informações que delas vêm. Um exemplo disto é que há muitos relatos vindos da linha da frente pelos próprios soldados que têm de ser filtrados com uma certa compreensão de que os soldados relatam as coisas de uma maneira particular, por vezes colorindo-as com eufemismos ou com um chauvinismo sobrecarregado que poderá adulterar um pouco o relato. Entretanto, quadros superiores, como alguns oficiais de imprensa, também têm dimensões psicológicas que precisam de ser compreendidas, como sejam, as pressões políticas para relatar os factos de uma determinada maneira, o minimizar de certas realidades “desconfortáveis”, etc.
Em suma, é necessária uma verdadeira experiência de longo prazo para desenvolver um instinto para todas essas coisas, instinto esse que começa a trabalhar de forma autónoma, levantando sinais de alerta e objecções sempre que necessário.
É claro que, no final de contas, nada supera uma quantidade brutal de dados para processar. Esta é a única área onde a maioria dos analistas falha, simplesmente devido ao seu compreensível tratamento desta área como se tratasse de um “part-time hobby”, pelo que acabam por não ter tempo para percorrer as enormes quantidades de dados com origem em todas as fontes concebíveis e, assim, obter uma boa noção do que está sustentado por várias verificações cruzadas e do que é mais frágil. Eu próprio pesquiso muitos mais destes “dados brutos” do que a generalidade dos analistas, e sinto que isso me dá uma imagem muito mais precisa do que realmente está a acontecer nas frentes de combate. E isso inclui seguir muitas fontes russas e muitas ucranianas e pró-ocidentais e observar constantemente as coisas a partir das suas perspectivas.
É óbvio que as fontes de alto nível, como personalidades, figuras políticas e propagandistas famosos, são na sua maioria inúteis, mas existem muitas fontes internas de contas reais das linhas da frente russas e ucranianas que relatam os factos de uma forma bastante pura e não adulterada ajudando a criar um quadro completo. Algumas delas são conversas internas entre as próprias tropas russas ou ucranianas e os seus camaradas, onde falam muito francamente, sem quaisquer das habituais “colorações” agressivas para consumo das massas.
Por último, quando tudo o resto falha, tenho as minhas próprias fontes pessoais, que muitas vezes também me podem dar perspectivas únicas.
Mas, como conselho geral para outros analistas, o mais importante é seguir as fontes de ambos os lados e não se resignar apenas a uma bolha de informação ou a uma câmara de eco. É preciso muita experiência para desenvolver o conhecimento e o instinto para separar fontes boas e confiáveis das más, não importa de que lado estejam. Além disso, seguir fontes de pelo menos três níveis diferentes da hierarquia, ou seja, militares no terreno, com relatos directos em primeira mão. Depois, relatos de nível médio e de segunda mão de correspondentes de guerra credíveis e outros que tais. Finalmente, cruzar tudo isso com os relatos das fontes “oficiais” de mais alto nível.
Nota: Este texto foi coligido da transcrição de parte de um dos artigos integrando um conjunto recebido via internet e depois adaptado para ficar conforme os meus procedimentos.
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